Lados

Um quadrado que nega outros lados
continua sendo um quadrado.

 

Tomar um lado pode ser interessante desde que não se viva a partir desse lado. Borges fala numa análise de Chesterton, autor católico, que “Como todo escritor que professa um credo, Chesterton é julgado por ele, é reprovado ou aclamado por ele.” De certa forma a partir do momento em que publicamente você professa simpatia por algum lado, seja qual ele for, isso cria uma série de pressupostos que nem sempre serão verdade e podem muitas vezes serem prejudiciais pois tomar um lado significa negar, no mínimo diminuir, os outros.

O fato é que tanto esquerda como direita possuem boas propostas, e como um todo, nenhuma delas presta, elas são ruins como qualquer outra instituição que habita nesse mundo. Assim como qualquer homem, nenhum consegue viver sendo sempre 100% alguma coisa que ele acredita, fatalmente seus ideias serão comprometidos e fatalmente um homem de direita pode praticar ideias de esquerda de vez em quando, assim como o contrário também acontece. A dificuldade de tomar um lado fica transparente naquilo que se chama de Terceira Via, uma junção de homens de diferentes ideais políticos que se junta para discutir uma nova plataforma política a partir da realidade atual juntando os bons pontos da direita ou da esquerda.

O que mais se vê são homens cegos com suas própria ideias, Smith’s que não conversam com Marx’s; defensores surdos que só ouvem sua própria voz; aniquiladores da Verdade que vivem da sua própria verdade.

Obviamente a proposta não é simplesmente se calar e não tomar lado nenhum, a proposta é simples: uma diálogo de fé, um diálogo pois no diálogo se pressupõe que outro pode estar certo pois afinal quem daria espaço para o erro se soubesse de antemão que é um erro — alemães teriam apoiado Hitler se soubessem do impacto devastador que ele teve na história? —, e fé pois esta pressupõe a busca por uma resposta inatingível e inacreditável e é somente algo tão simples como ouvir e tão impossível como uma esperança que se concretiza que seria capaz de transformar todo o mundo naquilo que eles, o mundo e Deus, tanto anseiam.

 

Kyrie eleison

A imagem que ilustra esse post é do italiano Giacomo Balla, integrante do movimento de vanguarda do começo do século XX chamado Futurismo, e se chama Velocidade Abstrata + Som.

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