Revisão de conceitos: Livre-arbítrio

Antes de mais nada, lembre-se sempre do Prefácio.

Ah, a liberdade de escolha, amada por alguns, odiada por outros, negada por mais uns. Não vou cair na discussão se ela existe ou não, como já disse antes, simplesmente analisarei qual o peso que esse conceito tem em nossos tempos, e o livre-arbítrio é base de muita coisa na nossa sociedade e principalmente do nosso sistema econômico e social. O simples fato do livre-arbítrio ser uma das primícias desse nosso amado e idolatrado salve e salve sistema que carinhosamente chamamos de capitalismo já é um grande a ponto a favor ou contra a esse conceito, depende mais da sua relação com nosso jeito de viver.

Ao contrário dos outros conceitos trazidos até agora, livre-arbítrio não aparece na bíblia, ao menos não nessas palavras. A bíblia dá margem para a interpretação de que temos liberdade de escolha, mas muita gente, e quando digo gente digo pastores e teólogos, tem medo desse conceito porque ele pode dar a entender de que nós, reles criaturas, temos o poder de escolha da nossa salvação o que, pode dar a entender que, em algum momento na nossa caminhada, nós fomos ou podemos ser maiores do que Deus. Ser maior que Deus é uma bobagem, acreditar nisso é um erro sem tamanho, mas o ser humano é bom em errar, né não? Mas eu não compartilho dessa problemática, isso se resolve com teologia saudável, é questão de ensino.

Meu problema com livre-arbítrio não é teológico, não tenho medo dos homens se acharem maiores do que Deus, pra isso existe a morte, ela vem e mostra quão grandes esses homens eram. Meu problema com o livre-arbítrio é justamente esse livre-arbítrio que tem sido incutido nas nossas crianças desde que elas nasceram, é que nós temos escolhas — e por isso devemos escolher — e como somos livres para escolher nossas escolhas não tem consequências e, nas raras vezes que tem, basta um pagamento certo pra pessoa certa que tudo está resolvido. Ou seja, tem-se regado um mar de inconsequência.

Vivemos uma sociedade onde tudo pode ser escolhido, independente de quem sofra com nossas escolhas, podemos escolher nossa opção sexual, qual nossa carreira, com quem vamos casar, como vou me vestir, qual carro vou comprar e com quem vou dormir hoje a noite. Tudo está ao nosso alcance, é só digitar a url certa e preencher o número do cartão de crédito e tudo está resolvido (se você tiver os meios, nem cartão de crédito precisa).

Até aqui tudo bem, nada de errado em poder escolher, o problema começa nas consequências de nossas escolhas, e é aqui que o bicho pega. A propaganda grita por aí, Beba!, Compre!, Seja feliz com o novo iQualquer coisa!, Não perca essa oportunidade!, Deus provem pra quem dizima!, Ora que melhora!, mas a propaganda nunca te avisa do depois — aliás, ela faz questão de esconder o depois — quem descobre a ressaca, a bad trip, o arrependimento, as dívidas, quem se frustra com Deus, quem cobra o divino de promessas que não são reais, quem paga o preço da escolha não pensada não são os mesmo que te impulsionaram a fazer suas escolhas; quem paga esse preço é você, autor do seu próprio livre-arbítrio.

Pra cada ideologia existe uma série de consequências e é aí que está o real problema daquilo que acreditamos. Você acredita que Deus te deu total liberdade pra fazer o que bem entende, saiba que desde o princípio Deus avisa que a desobediência te afasta de Deus, viver a liberdade que Deus deu para ti para si mesmo como se não houvesse amanhã, a seu bel-prazer, gera uma separação que, mesmo se tiver volta, é uma volta muito complexa e traumática.

O que quer que Deus tenha nos dado, ele nos deu em amor, para que esse amor seja reproduzido e compartilhado, se você acredita que tem livre-arbítrio saiba que apesar da liberdade de escolha que Deus te deu Ele também te deu responsabilidade para com seus atos e disso não há ideologia que escape.

Se temos liberdade, que essa liberdade seja usada para amar o próximo, para a construção de Reino de Deus que já está aqui, para viver evangelho de forma plena e redentora pra que Deus seja louvado e que aqueles que ainda não conhecem a graça divina tenham acesso do maravilhoso e consolador abraço divino.

Kyrie eleison

A imagem que ilustra esse post é uma das primeiras imagens de São Francisco de Assis, que escolheu abrir mão de seus bens e fazer um voto de pobreza e de autoria de Bonaventura Berlinghieri.

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