Antes de mais nada, nunca se esqueça do Prefácio
Eleição
Dois problemas surgem dessa prerrogativa, os eleitos e os não-eleitos. Os eleitos se sentem no direito de fazer o que quiserem e tem como costume afirmar sua eleição em detrimento dos não-eleitos. Os não-eleitos são excluídos da graça e como vivemos numa sociedade pós-moderna cheio de pessoas que se sentem por fora, os emos que o digam, a classe dos não-eleitos tende a crescer e não o contrário. Pra mim, isso alimenta um sistema pecaminoso ao invés de aproximar as pessoas de Deus. É uma palavra muito complexa que deve ser usada com muito cuidado, principalmente quando usada do pulpito.
Pra mim Deus é inclusivo, ele pretende juntar seus filhos como a galinha junta os pintinhos; fez, faz e fará isso várias vezes no decorrer da história, até o fim dos tempos. Acredito que como igreja devemos fomentar essa inclusão vivendo para Deus e para o próximo e não preocupados se somos ou não eleitos. A meu ver a eleição causa mais problemas e discórdia do que aproximam as pessoas de Deus.
A eleição ainda tem outro probleminha, ela anda quase que de mão dadas com o merecimento, como se tivéssemos feito alguma coisa pra receber a salvação. Se olhar por aí, muito dos que se dizem eleitos são homens brancos bem sucedidos cheios de certeza e que vêem nas suas conquistas as vitórias do Senhor, vitórias que muito provavelmente não teriam acontecido sem a existência desse amado eleito, ou seja esses eleitos são protagonistas de sua excelentíssima performance. Antes que me jogue pedras, estou sim generalizando, e generalizo porque acredito que esse conceito, nas suas raízes teológicas, fez muito sentido, deve ter ajudado muitas pessoas a entenderem a salvação e como Deus chega até os homens, mas, como já disse na introdução, trago uma perspectiva pessoal de um leigo dentro de seu tempo, tendo a igreja brasileira como plataforma pra essa revisão de conceitos. Coloco a eleição a partir da perspectiva prática, dentro das igrejas e não a partir da teologia ou do ensino bíblico, como já me corrigiu o Milhoranza
Pra fechar, como diria o calvinista, é bíblico, fomos eleitos, somos os escolhidos. Mas pra essa argumentação Jesus trouxe duas parábolas (duas que lembrei de cara quando lembrei do texto de Efésios que fala sobre eleição), a parábola do bom samaritano e parábola do fariseu e do publicano. Nas duas Jesus coloca um samaritano, um marginal rejeitado pelos judeus, e um traidor dos judeus, um judeu que trabalhava pros romanos cobrando impostos dos judeus, como “merecedores” do louvor. O que eu tiro dessas parábolas é que ser escolhido não é muita garantia, pois os fariseus eram os ecolhidos da época, e os adjetivos usados por Jesus dirigidos aos fariseus não são adjetivos que eu gostaria de ouvir dirigidos para minha pessoa. Ser eleito só parece uma coisa boa se você não vive dessa eleição, me parece muito que os eleitos foram os menores, os marginais, os desgraçados, ser eleito por Deus parece andar em conjunto com algum tipo de rejeição não muito agradável ou dificilmente aceita pela sociedade.
Kyrie eleison
A imagem que ilustra esse post é um ícone de São Inácio da Antioquia (que pelo jeito foi eleito pra ser comido pelos leões!) cujo autor não é conhecido.
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Revisão de conceitos,
a caminho da sedução
Eleição
Livre-arbítrio[/box]