Nós, Jonas

Quando Deus mandou Jonas ir a Nínive para anunciar o Seu juízo sobre a cidade, ele fugiu não por medo de falar em público, medo dos ninivitas e nem mesmo por medo de Deus. Jonas fugiu porque desejava ver Nínive destruída.

E esse desejo de destruição não era injustificado. Praticamente todos os cidadãos de bem de Israel queriam o mesmo. Nínive, além de não ser do “povo escolhido”, era famosa por sua crueldade e violência.

Quem desejava a ira de Deus sobre os ninivitas tinha até base bíblica para justificar sua sede de sangue. Talvez citassem o que aconteceu no dilúvio, com Sodoma e Gomorra ou com o povo do Egito.

Depois de ser jogado ao mar, engolido e vomitado pelo grande peixe, Jonas vai a Nínive, prega (bem a contragosto) e sobe num monte para assistir de camarote à destruição daquele povo cruel e descrente. Só que os ninivitas se arrependem, e Deus os perdoa e os poupa.

O homem de Deus, então, se revolta!

“Eu sabia que tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que prometes castigar, mas depois te arrependes. Agora, Senhor, tira a minha vida, eu imploro, porque para mim é melhor morrer do que viver” (Jonas 4:2-3).

Jonas é o perfeito arquétipo, o perfeito estereótipo do crente que quer usar Deus para dar vazão aos seus próprios desejos. E, à medida que vai conhecendo Deus, deseja sinceramente que Ele não fosse quem realmente Ele É, mas que fosse a projeção que nós fazemos d’Ele: um deus conforme a nossa imagem e semelhança. Um deus que se dobre aos nossos desejos, à nossa própria justiça, às nossas idiossincrasias.

Depois de Jonas demonstrar ter apreço pela vida de uma planta que havia acabado de nascer, Deus expõe a hipocrisia do profeta: “Nínive tem mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da esquerda, além de muitos rebanhos. Não deveria eu ter pena dessa grande cidade?” (Jonas 4:11).

Por isso, não importa quantos anos de igreja, quanto estudo você tem, quantas referências bíblicas usa para justificar suas próprias violências: se a sua opinião e posicionamento não estão do lado dos que sofrem, seja lá quem sejam ou o que tenham feito, você só está usando Deus, manipulando a Palavra para o seu próprio benefício. Você está torcendo por um juízo que, se fosse mesmo aplicado, aniquilaria a todos nós, sem qualquer exceção.

“Se tu, Soberano Senhor, registrasses os pecados, quem escaparia?” Salmos 130:3 “Miserável homem que eu sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! De modo que, com a mente, eu próprio sou escravo da Lei de Deus; mas, com a carne, da lei do pecado” Romanos 7:24-25. “porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso. A misericórdia triunfa sobre o juízo!” (Tiago 2:13).

Texto por Hernani Medola.

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