Quanta coragem e desprendimento são necessários para estar diante do poder, apontar o dedo e dizer “você está errado”?
Quanta coragem o profeta Natã precisou para se colocar diante de Davi e denunciar o pecado do rei? Davi poderia tranquilamente ter mandado executar Natã. Tinha muito recentemente mandado Urias para a morte, o que o impediria de fazer o mesmo a Natã?
Ou a ousadia de Elias desafiando o rei Acabe, a rainha Jezabel e sua horda de profetas vendidos? Elias entrou em depressão de tamanha angústia e perseguição que sofreu, mas manteve sua posição de servo de Deus.
O que leva 4 jovens a desafiar as ordem do rei e aceitarem ir para a fornalha ou para a cova dos leões por manterem sua fidelidade a Deus mesmo habitando em uma terra estrangeira e idolatra como a Babilônia?
Não são poucos os relatos, seja na Bíblia ou em toda a história, de homens e mulheres que não se curvaram ao poder e mantiveram sua posição profética de fidelidade a vontade de Deus. O que levou Bonhoeffer a ser morto em um campo de concentração nazista por se opor ao regime fascista em nome de Deus? Ou Martin Luther King Jr. a denúnciar o pecado da segregação racial? Ou madre Tereza de Calcutá a abandonar o conforto de suas riquezas para denunciar a desigualdade e viver com os mais pobres dentre os mais pobres?
“Por minha causa vocês serão levados à presença de governadores e reis como testemunhas a eles e aos gentios” (Mateus 10:18). Essa é a promessa. Estar diante dos poderosos dessa era para lembrá-los de que eles não detém todo o poder, de que eles não podem tudo, de que há um outro Rei, um outro Reino. E isso nos levará ao lugar mais seguro do mundo, o centro da vontade de Deus, mesmo que seja no meio do caos, do sofrimento e da dor.
“Respondeu Jesus: “Digo a verdade: Ninguém que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, ou campos, por causa de mim e do evangelho, deixará de receber cem vezes mais, já no tempo presente, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, e com eles perseguição; e, na era futura, a vida eterna” (Marcos 10:29-30).
Exceto Judas Iscariotes, todos os que ouviram essas palavras foram levados diante dos poderosos, testemunharam do Reino de Deus, e sofreram as consequências, seja o martírio ou o exílio.
Quando Paulo diz que toda autoridade é instituída por Deus (Romanos 13) ele não condena a cristandade à submissão cega e irrestrita a tiranos, mas multiplica a responsabilidade de quem é colocado em posição de governo para exercer seu poder não conforme suas próprias vontades e egoísmo, mas de acordo com a vontade de quem toda autoridade provém.
Esse é o lugar profético da igreja. Estar diante dos poderosos desse mundo e lembrá-los de que eles não detém todo o poder, lembrá-los que é responsabilidade deles zelar pela vida daqueles que são irrelevantes para os poderosos, mas são valiosos para Deus. Dar voz a quem tem sua voz sistematicamente silenciada. Não amar o presente século (2 Timóteo 4:10), mas até o fim manter-se fiel e digno.
“Eu digo isso para que, por estarem unidos comigo, vocês tenham paz. No mundo vocês vão sofrer; mas tenham coragem. Eu venci o mundo” (João 16:33).
Texto por Hernani Medola.