o deus certo e o Deus bom

Talvez você já tenha sido perguntado o porquê o Deus do cristianismo seria o certo. Como se houvesse uma prateleira, um cardápio com várias opções, e fosse nossa preocupação e tarefa escolher o deus correto para adorarmos, seja pensando em eventuais benefícios ou nos riscos que representaria uma má escolha.

Bem, o rabino Nilton Bonder propõe em seu livro “A Alma Imoral” uma diferenciação interessante entre corpo e alma. O corpo, sempre preocupado com sua manutenção, busca o que é certo, custe o que custar. A alma, interessada em sua satisfação, busca o que é bom, mesmo que seja logicamente errado.

Um deus certo talvez exterminasse Adão e Eva após o pecado, os expulsaria do jardim e os entregaria a própria sorte, seria justo e ele não estaria errado. Mas o Deus bom promete que do ventre da mulher brotaria a esperança que esmagaria a cabeça da serpente.

Um deus certo eliminaria a humanidade em um dilúvio após perceber a corrupção da raça humana, mas o Deus bom manda um homem construir um grande barco, para salvar a criação.

Um deus certo receberia o sacrifício do filho mais velho de seu servo para provar sua fidelidade, mas o Deus bom provê o próprio sacrifício que receberá.

Um deus certo entregaria a lei, salvaria aqueles que julgasse fiéis às suas ordens e castigaria aqueles que a desobedecessem, mas o Deus bom encarna em sua própria criação para levar sobre si nossas dores e graciosamente estender a salvação a todos.

Um deus certo teria mandado apedrejar a mulher pega em adultério, advertindo os acusadores por não terem trazido também o homem que estava adulterando com ela para ser apedrejado junto. Mas o Deus bom manda que aqueles que não tivessem pecado a apedrejassem e Ele, o único sem pecado, disse que também não a condenaria.

A mulher no poço de Jacó perguntou a Jesus qual era o jeito certo de adorar, e ele respondeu que Deus não está preocupado com o jeito certo, mas com o jeito bom.

Não existe um deus certo quando não há outros deuses errados. Deus é único e podemos escolher segui-lo ou não. Mas Deus não nos criou para simplesmente adorá-lo por medo, interesse ou falta de opção, Ele nos criou para um relacionamento de amor, de forma que talvez a melhor resposta que poderíamos dar a pergunta sobre o Deus a quem Jesus chama de pai ser ou não o “deus certo” é que nós não O adoramos porque Ele é o deus certo, mas que nós o amamos porque Ele é o Deus bom.

Oro para que nos momentos decisivos das nossas vidas, quando colocarem diante de nós a opção entre o que é certo e o que é bom, Ele nos dê a ousadia e o Espírito Santo para escolher sempre o que é bom, mesmo que seja mais difícil, mesmo que seja o menos lógico, mesmo que vá contra a cultura, contra a corrente, contra o que julgarmos certo, contra nosso próprio instinto de justiça e autopreservação, que sigamos os passos do mestre que carrega em si as marcas daquele que escolhe o que é bom.

Texto por Hernani Medola.

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