Reflexão retirada do livro Cristianismo Puro e Simples, que também faz parte da coletânea de devocionais Um Ano com C. S. Lewis.
O livro Cristianismo Puro e Simples traz um compilado de preleções realizadas pelo autor através da BBC Radio durante o período da Segunda Guerra Mundial.
PENSANDO bem, agora me lembro de ter tido professores de educação cristã há muito tempo que me ensinaram que devo odiar as coisas más que as pessoas praticam, sem odiar as pessoas más; ou como eles o teriam dito: odiar o pecado, em vez de odiar o pecador.
Essa distinção me parecia bastante tola e sem muito sentido: como seria possível odiar o que uma pessoa fez, sem odiá-la? Mas anos depois ocorreu-me que havia um homem com o qual eu estive fazendo isso toda vida – comigo mesmo. Não importa o quanto eu possa desgostar de minha própria covardia, presunção ou ambição, não deixarei de me amar por isso. Nunca tive a menor dificuldade quanto a isso. Na verdade, a razão por que eu odiava o que fazia era que eu me amava. Era exatamente o fato de amar a mim mesmo que me fazia lamentar a descoberta de que era o tipo de cara que fazia aquelas coisas. Consequentemente, o cristianismo não espera que reduzamos em um só milímetro o ódio que sentimos pela crueldade e traição. Temos mais é que odiar essas coisas. Nenhuma palavra do que dissermos sobre elas precisa ser desdita. Por outro lado, temos que odiar essas coisas nos outros, da mesma forma que as odiamos em nós mesmos: lamentando muito que o cara tenha agido assim, e esperando que, se possível, de alguma forma, algum dia e em algum lugar, ele possa ser curado, voltando a se tornar humano.
– de Mere Christinity [Cristianismo Puro e Simples]