Reflexão retirada do livro Cristianismo Puro e Simples, que também faz parte da coletânea de devocionais Um Ano com C. S. Lewis.
O livro Cristianismo Puro e Simples traz um compilado de preleções realizadas pelo autor através da BBC Radio durante o período da Segunda Guerra Mundial.
POIS BEM, quando eu amo exatamente a mim mesmo?
Agora que eu estou pensando sobre isso, não posso dizer com precisão que sinto alguma ternura ou afeto por mim mesmo. Nem mesmo aprecio sempre a minha própria companhia. Então, tudo indica que “amar ao próximo” não quer dizer que me “sinta interessado por ele” ou que o “ache atraente”. Eu já devia ter percebido isso antes, pois é claro que eu não posso me interessar por uma pessoa só tentando. Será que eu me considero bom ou me acho um cara legal? Bem, temo que às vezes eu me veja assim mesmo (e esses, sem dúvida, são os meus piores momentos). Mas esse não é o motivo, porque eu me amo. Na verdade, o que acontece é exatamente o contrário: meu amor-próprio é o que me faz achar-me legal, mas achar-me legal não é uma boa razão para eu amar. Semelhantemente, amar os meus inimigos também não significa que tenho que achá-los legais. Isso é um grande alívio, pois grande parte das pessoas imagina que perdoar os inimigos significa fazer de conta que eles não são caras assim tão ruins, mesmo quando a evidência dos fatos mostra que eles o são. Dê um passo além. Nos meus momentos de maior lucidez eu só não me acho uma pessoa legal, como tenho plena consciência de que na verdade sou um ser bastante asqueroso. Sou capaz de olhar para algumas coisas que eu já cometi com horror e asco. Então, parto do pressuposto de que também me é permitido ter asco e ódio de alguns atos cometidos pelos meus inimigos.
– de Mere Christinity [Cristianismo Puro e Simples]