Em meio a tantos problemas alheios, lembro-me de uma aula no seminário onde um professor disse a toda a turma:
"cuidado para que os problemas das 'ovelhas' não se tornem seus problemas, mantenham uma distância
segura para que você não se contamine com o que elas estão vivendo. Tomem muito Cuidado!"
Tomei esta palavra como verdadeira por um bom tempo. Até que um dia, no dia do meu aniversário, uma membro da congregação onde pastoreava morreu. As circunstâncias que envolviam a sua morte eram totalmente novas para mim até então. Não que fosse um noviço, eu já havia vivenciado o luto de gente que havia morrido de acidente de trânsito, assassinato, doenças terminais, mas a dela ainda não. Ela morreu em casa preparando o jantar do neto.
Esta irmã, muito querida por mim comemorava o seu aniversário 14 dias antes do meu, e todo os anos ela realizava um culto evangelístico na data do seu aniversário. Era uma forma de reunir todos os seus irmãos, filhos, netos, bisnetos, noras e genros em torno da palavra. Ela de origem presbiteriana, criou os filhos e criava os bisnetos no evangelho, torcendo para que ninguém se desviasse. Mas alguns se desviaram e ela achava que no dia da festa do seu natalício todos ouviriam a palavra e reconsiderariam suas escolhas. Foi assim durante os 04 anos em que estive a frente da congregação.
No dia do culto fúnebre, vi novamente todos os seus parentes em torno dela, sabia que era o último encontro. Eles não se reuniriam em torno da palavra tão cedo, na melhor das expectativas, e nunca mais, sendo mais realista.
Foi aí que entendi que a angústia dela, tornou-se a minha. Ela sofreu durante anos tentando trazer de volta os filhos que desistiram do evangelho. Aquilo não era problema só dela, era meu também. Lembrei das palavras do professor, e lembrei-me das escrituras. Deveria chorar com os que choram só durante o velório? Ou as lágrimas por vê-los perdidos que minha querida irmã derramou por anos, deveriam ser agora as minhas lágrimas?
Não é fácil pastorear, todos sabem. Mas o que é ser humano, gente, no ministério pastoral?
Minhas angústias são nossas angústias?