Iniciei a leitura deste livro depois de ler sua sinopse e ficar completamente curiosa, e em alguma medida chocada. O livro conta a história de Enaiatollah Akbari, um menino afegão que é abandonado pela mãe, aos 10 anos de idade, no Paquistão.
“Existem crocodilos no mar, bestseller italiano que conta sua vida, parece ficção, mas é a história verídica do menino afegão que foi abandonado pela mãe numa cidade nova, num país estranho, aos dez anos de idade. Sair do Afeganistão era sua única esperança de sobrevivência. Akbari deixou a escola e as brincadeiras infantis para embarcar numa odisseia por dois continentes. Existem Crocodilos no Mar reflete a geografia árida do preconceito, constituindo um relato pessoal de acontecimentos dramáticos, amizades verdadeiras e sonhos singelos de um menino que só queria ter uma vida normal.”
A sinopse não nos permite entender isso, mas a mãe de Enaiatollah faz isso para preservar a vida do próprio filho, pois eles pertencem a etnia hazara, uma etnia de ascendência mongol que vive no Afeganistão. Por terem a pele mais clara, não conseguirem ter barbas longas e fartas como os radicais islâmicos do Afeganistão exigem e ter uma aparência mais oriental, os hazaras são um povo considerado uma casta inferior e por isso sofrem com muitas formas de preconceitos no país. O livro/filma O caçador de pipas retrata um menino hazara, o “servo” do jovem afegão.
Já que citei O caçador de pipas, farei uma breve comparação aqui. Confesso que não li o livro quando ele estourou como febre mundial, mas vi o filme. Quando terminei o filme – e compreendo que isso possa se dar pois “o filme nunca é tão bom quanto o livro” – achei a narrativa boba, beirando a superficialidade. Por ter detestado o filme, nunca li o livro. Mas a história narrada em Existem crocodilos é realmente tocante e profunda. O livro é uma biografia real, e a gente realmente se apega à luta de Enaiat. Eu pelo menos, me apaixonei pela história e por Enaiat. Torci do começo ao fim para que ele sofresse o menos possível e para que chegasse a algum lugar onde ele pudesse ser alguém novamente, sem ter que se esconder da polícia por ser um imigrante ilegal, ou alguém “inferior”.
A leitura do livro é fluida e rápida. As provações pelas quais Enaiat passou são terríveis, e em muitos momentos me vi pensando que eu não teria a mesma força que ele, que desde os 10 anos de idade teve que se virar sozinho, ser sozinho num mundo preconceituoso e cruel. A jornada desde menino e a narração neste livro são simplesmente sensacionais.