Um dia, há alguns alguém me contou não ia na igreja naquele domingo porque não tinha como voltar pra casa, já que não tinha dinheiro e fulano, irmão de igreja, dava carona pra casa quando recebia o dinheiro para pôr gasolina – e não estivesse muito cansado. Eu fiquei tão estarrecido que não entendi e perguntei de novo: era como um táxi, fulano me leva, eu dou um dinheiro e ele vai pra casa. Puxa, ainda bem que ainda temos pessoas tão bondosas e de coração tão agradável no Corpo de Cristo.
Não queremos ser excelentes. Relegamos esse papel para Cristo, para uma Igreja utópica, que sonhamos e não queremos construir por preguiça. No medo de sermos mornos e na má-vontade de sermos quentes, optamos por sermos frios. Ser quente dá trabalho, ser Cristo é um martírio.
Amamos o próximo até quando esse próximo quer pedir mais favor do que achamos que ele deveria. Andamos a primeira milha só se o próximo pagar uma bebida pelo favor que fizemos – ou no mínimo, pagar a gasolina. Sustentamos o irmão até o peso dele nos dar dor nas costas. Somos amigos até começarmos a lidar com a dor-de-cabeça e crise das pessoas.
Nós não queremos a Igreja. Odiamos que pessoas invadam nosso espaço privado, compartilhem coisas que não queremos saber sobre a vida delas, nos encostem e sejam tão carentes como são. Detestamos transparência – por mais que reclamamos que os cristãos sejam tão cheios de máscaras. Somos nós mesmos aquela congregação que odiamos: patéticos, egoístas, mesquinhos, com ilusões de grandeza.
Sentimos compaixão pelos missionários, que sofrem no campo de batalha, mas uma compaixão que nos faz felizes por existirem pessoas dispostas a lutar pelo evangelho. Não movemos uma palha, não damos um centavo. As nossas mensagens de amor para quem está com os dias contados num tribunal religioso, cujo destino está entre a forca e a decapitação é “Deus não dá fardo maior que possamos suportar”, ou “como é bonito morrer pelo evangelho”.
Amamos o mendigo, o bêbado e o ladrão, mas lá dentro do sistema prisional – porque lá dá pra fazer visita e não ser muito abraçado por gente fedida e sem escrúpulos. Perdoamos o infiel, mas abraçamos a mulher traída com mais intensidade. Dizemos amém pro testemunho de transformação do irmão, pedimos misericórdia quando temos a certeza de que ele está mentindo (mesmo sem nenhuma prova disso). Adoramos cuidar da viúva e do órfão, mas não podemos ficar mais do que 40 minutos na casa de nenhum deles e Deus me livre se alguém vier aqui em casa depois do culto.
Tudo é do Senhor, mas não levamos 10 reais na igreja pra, se Deus tocar no nosso coração, podermos dizer que “não temos nada agora, Pai”. Doamos alimentos, mas só aquele saco de fubá que é pouco menos de R$1 por quilo, mesmo que tenha alguns animaizinhos dentro. Refrigerante, só do mais barato, e suco é daqueles de pózinho que é tão ácido que já corroeu parte da embalagem.
Somos prostituídos, sem fé, sem amor e com um monte de coisas melhores pra fazer domingo do que ir à igreja.