Permita-me caro leitor que eu apresente parte de meu mundo: Sou militar desde meus 18 anos, época em que entrei para o Exército Brasileiro a fim de cumprir o serviço militar obrigatório. Desde então permaneço militar em minha essência! Sou disciplinado, tento me organizar, sou metódico e “quadradinho” para as coisas que me rodeiam. Sim, escrevo em um Blog de pessoas subversivas e me enquadro também nessa classe em doses homeopáticas mas devo admitir que os valores da caserna permanecem vivos em minha mente.
Pois bem, dias atrás estava falando com um colega de serviço sobre algo que nos incomoda dentro deste regime. Em nosso setor toda vez que alguém vai ao médico, por qualquer que seja o motivo, os outros integrantes de seu convívio (seus amigos) começam a colocar em xeque os reais motivos da consulta. “Será que fulano está inventando uma doença para não trabalhar?” diz alguém, “Bizurão! Já vai enfiar um atestado para matar serviço!” alardeia outro, “Doente!? Sei! Só fica doente em dia em que está escalado!” completa um terceiro.
Conversando sobre isso com esse meu colega fiquei sabendo que, o que eu achava ser uma característica do regime militar (principalmente ligado ao senso de dever), na verdade acontecia também em seu emprego anterior em uma empresa estatal de entregas. Não! Me recuso a citar o nome! Vocês ficarão na curiosidade.
Parece-me que o real motivo pelo qual alguém se incomoda com a ausência de seu companheiro de trabalho é, mais que a sobrecarga de seus afazeres, o fato de ele estar “se dando bem” em detrimento de outros. Será esse o motivo pelo qual muitos param em rodovias para ver acidentes? Estaria aí o real motivo pelo qual telejornais estão recheados de tragédias cotidianas? Adoramos a desgraça alheia! E o simples fato de alguém tentar tirar a cabeça para fora desse lago de atrocidades em que está inserida a sociedade nos ofende! Lembro-me bem que era só um artista começar a fazer sucesso que rumores a respeito de seu “Pacto com o Diabo” vinham à tona. Qual é nosso problema? Porque a felicidade alheia nos incomoda tanto?
Ao que parece um dos motivos seja a inveja, o desejo de possuir o que outro tem (acompanhado de ódio pelo possuidor). Desgosto pelo bem alheio. Sentimento de cobiça à vista da felicidade, da superioridade de outrem. Desejo de possuir ou gozar algum bem que outrem possui ou desfruta.
Dada a periculosidade deste sentimento é preciso dosar a inveja para que esta não venha a consumir o que há de bom em nós. Sim, dosar porque considero existir aquela inveja boa que nos leva a frente e nos impulsiona a querer mais e melhores condições de vida. Certa vez um escritor disse que “No fundo, toda a ambição tem raiz na inveja”. Pense nisso!
Apêndice: Bizurar e seu significado.
Os militares mais antigos sussurravam dicas nos ouvidos dos recrutas sobre como proceder para se dar bem lá dentro. Os comandantes observavam os atos mas, de longe, só podiam ouvir aquela onomatopéia característica de cochicho “…bzbzbzu”, dando assim origem ao termo bizu. Sendo assim bizuradas são dicas, logo uma pessoa bizurada seria aquela que passa dicas ou ideias.