Todo fundamentalista jamais entendeu Jesus nos evangelhos.
O fundamentalista defende que os fundamentos da fé cristã estão acima de todas as coisas, que as regras, os dogmas e a Bíblia (segundo a sua interpretação e a de mais nenhum segmento) estão acima de tudo.
Por isso nenhum fundamentalista entendeu Cristo.
Pois a premissa de Cristo em todas as suas ações é exatamente o oposto disso: é por o amor e a graça acima de todas as coisas, inclusive da Lei(entende-se a Lei de Moisés, então da própria “escritura sagrada”). Sua ação era um constante desafio subversivo de convite ao amor acima de todas as coisas. Todas. TODAS.
Eu acredito que o fundamentalista de hoje seja o fariseu da época de Cristo. E antes que alguns conservadores do bem(sim, eu acredito que há conservadores do bem) se incluam no conceito de fundamentalistas, pois defendem conceitos fundamentais da fé, vamos a uma breve descrição do fundamentalista.
O fundamentalista pode ou não saber o do que está falando, mas é definitivamente reconhecido se sempre quiser e tentar aparentar saber mais do que realmente sabe. O fundamentalista tem uma certeza absoluta de tudo que tem certeza, o trecho do ‘blues da piedade’ que mais se encaixa nele é “pra quem vê a luz, mas não ilumina suas mini certezas”, ele jamais permite autoquestionamento sobre a sua fé. O fundamentalista normalmente é absolutamente literalista quanto a Bíblia e segue uma hermenêutica importada da teologia americana clássica e conservadora. E acima de tudo, o fundamentalista jamais está disposto a negociar nenhum dos seus fundamentos da fé, pois eles estão acima de todas as coisas. Obs. O fundamentalista se mostrará, muitas vezes, falso moralista e hipócrita, ainda que sua verdadeira face só se revele raras vezes.
Nos evangelhos, os fariseus apareciam sempre armando pequenas armadilhas pra tentar envergonhar Jesus e assim como o diabo no deserto, sempre questionando-o com textos das escrituras, sempre tentando fazer com que Cristo tropeçasse nas escrituras.
Jesus em momento algum elimina a Lei de Moisés ou os Profetas como Palavra viva de Deus, apenas questiona e confronta as interpretações dos fariseus e suas conseqüências dogmáticas, pois estavam pondo peso sobre os que criam a ponto de Cristo afirmar que eles, com essas atitudes, impediam aqueles que estavam entrando no reino de Deus.
Continua sendo muito curioso que uma pessoa que se diz seguidora de Cristo não esteja pronta a abrir mão de fundamentalismos, pelo amor ao próximo… O que esse tipo de gente faz? Pula o sermão da montanha onde Jesus reinterpreta e reinventa constantemente as escrituras com o “ouvistes o que foi dito… Eu, porém, vos digo…”?
Ainda acho que fundamentalistas devem ter um bloqueio mental pra entenderem as atitudes tidas como “liberais” de Jesus… Afinal, como continuar inferiorizando a mulher, se enxergarmos que Jesus deu voz a elas e as tratou como ser humano quando elas eram menos que nada? Afinal como ensinar obediência aos guias cegos e hipócritas de hoje, se lermos Mateus 23? Afinal como fazer todos obedecerem a regras acima do cuidado com o próximo, se falarmos de curas no sábado? Como pregar uma segregação religiosa se falarmos que Jesus comia e bebia com pecadores?
Até que faz sentido.
“Vamos pular essa parte de evangelho e ficar apenas com Levítico e algumas partes do que Paulo falou. (sem nenhuma hermenêutica ou contexto histórico) É bem mais útil pra mantermos nosso poder.” Deve ser seu pensamento.
Todo comportamento e palavras de Jesus são absolutamente arrebatadores e revolucionários por que têm uma base simples, porém poderosa: o amor. E é apenas disso, não de fórmulas, grandes tratados teológicos ou altas reformas institucionais, que o cristianismo precisa: amor acima de tudo.