Há algum tempo fiquei sabendo que um dos meus melhores amigos tinha um lado secreto que eu não conhecia. Recostei no sofá, respirei fundo algumas vezes e pedi a minha esposa que me contasse sua história.
*Não estou traindo a confiança dele contando a sua história, porque ele já a levou a público*.
Devo esclarecer que não tenho nenhum desejo de mergulhar nas importantes questões teológicas e morais do homossexualismo.
Escrevo a respeito disso por um único motivo:
Minha amizade com ele desafiou fortemente minha noção de como a graça afetaria minha atitude para com pessoas “diferentes”, mesmo quando essas diferenças são sérias e, talvez, insolúveis.
Fiquei sabendo por ele que o homossexualismo não é uma escolha de vida casual, como eu supunha. Conforme ele disse, ele não sentia desejos heterossexuais desde a adolescência; tentou com força reprimir alguns desejos e, quando adulto, buscou fervorosamente uma “cura”. Jejuou, orou e foi ungido para receber a “cura”, tentou se enquadrar em moldes comportamentais e acima de tudo, desejava desesperadamente não ser gay.
A odisseia do meu amigo me confundiu e me perturbou.
Minha esposa e eu ficávamos acordados muitas noites discutindo sobre o assunto, juntos repassávamos todas as passagens bíblicas relevantes e o que deviam significar.
Ele sempre perguntava por que os cristãos destacavam todas as referências às uniões entre o mesmo sexo enquanto ignoravam outros comportamentos mencionados nas mesmas passagens.
Alguns cristãos até dizem: “Sim, temos de tratar os gays com compaixão, mas, ao mesmo tempo, temos também de lhes transmitir uma mensagem de juízo”. Depois de todas essas tentativas, comecei a entender que cada gay já ouviu essa mensagem de juízo da igreja repetidas vezes e nada além de juízo. As pessoas mais interessadas em teologia que conheço interpretam as passagens bíblicas a respeito do homossexualismo de maneira diferente e respeito cada um deles. Algumas até tentam sentar e discutir essas diferenças, mas nunca sobra tempo ou o interesse está focado em outras coisas.
Ocorreu-me que minha própria vida seria mais simples se eu não tivesse escrevendo sobre isso. Mas sendo meu amigo, como deveria tratá-lo? O que a graça exigia de mim? O que faria Jesus?
Comecei a fazer questão de conhecer outros casos, inclusive alguns que tinham antecedentes cristãos. “Eu ainda creio”, um deles me disse. “Gostaria de ir à igreja, mas sempre que tento alguém espalha boatos a meu respeito e de repente todos se afastam.” Ele acrescentou uma observação gélida: “Como gay, descobri que é mais fácil conseguir sexo nas ruas do que um abraço na igreja”.
Minha experiência aos escrever esse post prova que os cristãos podem ter pontos de vista firmes a respeito de comportamento ético e, ainda assim, demonstrar amor.
Pois de alguma forma, todos nós somos abominações para Deus — Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus – e de alguma forma, contra toda razão, Deus nos ama assim mesmo. A graça declara que ainda somos o orgulho e a alegria de Deus.
E também sei que este comportamento não é pior do que a calúnia, a mentira, o gesto orgulhoso do qual sou culpado todos os dias. As circunstâncias de nossas vidas são diferentes, mas a realidade de nossos corações é a mesma. Se eu estivesse no lugar dele, será que agiria de maneira diferente? Não tenho ideia.
Não sei como meu amigo se sente a respeito de cada aspecto da questão do homossexualismo e, para dizer a verdade, tenho medo de perguntar. Mas sei como ele se sente a meu respeito — ele me ama.
Conhecendo bem meu amigo, eu compreendo melhor hoje os perigos que Jesus discutiu tão incisivamente no Sermão do Monte: com que rapidez nós acusamos os outros de homicidas e passamos por cima de nossa própria ira, ou de adúlteros e ignoramos nossa própria luxúria.
A graça morre quando ela nos coloca uns contra os outros.
Meu amigo e eu temos diferenças profundas.
E sei que os mais conservadores vão surrar-me por alimentar um pecador, e os liberais vão atacar-me porque não endosso algumas posições mais polêmicas. Repito, não estou discutindo meu ponto de vista a respeito do comportamento homossexual, apenas minhas atitudes para com os homossexuais. Usei o exemplo do meu relacionamento com meu amigo porque para mim tem sido uma prova intensa e contínua a respeito de como a graça me convida a tratar pessoas “diferentes”.
Um assunto como o homossexualismo representa uma questão importante porque a diferença centraliza-se sobre uma questão moral, e não transcultural. Através da história, a igreja tem considerado unanimemente o comportamento homossexual como um pecado sério. Então, a questão vem a ser: “Como devemos tratar os pecadores?”
Mas observando a vida de Jesus me convenço de que, sejam quais forem às barreiras que tivermos de transpor ao tratar com pessoas “diferentes”, elas não se podem comparar com o que um Deus santo que habitava no Santíssimo Lugar, e cuja presença expelia violentamente fogo e fumaça do topo da montanha, provocando a morte de qualquer pessoa impura que se aproximasse, teve de vencer quando desceu para se juntar a nós sobre o planeta Terra. Uma prostituta, um rico aproveitador, uma mulher endemoninhada, um soldado romano, uma mulher com hemorragia e outra samaritana com vários maridos ficaram maravilhados porque Jesus recebeu a reputação de ser “amigo de pecadores”.
Jesus tinha o poder de amar prostitutas, valentões e gente de todo tipo… Ele foi capaz disso apenas porque via através da sujeira e da crosta da degeneração; seus olhos captavam a origem divina que está oculta por toda parte, em cada homem! Primeiro, e principalmente, Ele nos dá novos olhos…
Quando Jesus amava uma pessoa qualquer, carregada de culpa e a ajudava via nela um filho de Deus desviado. Via um ser humano a quem seu Pai amava e por quem se entristecia por ele andar em caminhos errados. Ele o via como Deus o planejara originalmente e queria que ele fosse e, portanto, olhava, por baixo da camada superficial da sujeira e da imundície, para o verdadeiro homem.
Jesus não identificava a pessoa com o seu pecado, antes via nesse pecado alguma coisa estranha, alguma coisa que realmente não fazia parte da pessoa, alguma coisa que simplesmente a acorrentava e a dominava e da qual Ele a libertaria e a traria de volta para o seu verdadeiro eu. Jesus foi capaz de amar os homens porque Ele os amava da maneira certa através da camada de lama. (Ps: essa lama cobre todos nós)
Podemos ser abominações, mas ainda somos o orgulho e a alegria de Deus. Todos nós na igreja precisamos de “olhos curados pela graça” para ver o potencial nos outros para a mesma graça que Deus tão prodigamente nos concedeu.
Enfim… “Amar uma pessoa”, como disse Dostoiévski, “significa vê-la como Deus pretendia que ela fosse”.
Juliano Fabricio – vivendo pela Graça®
essa é pra você meu grande amigo.