Verbete teológico da Filosofia Gustaviana Quitandina
Se a salvação é pessoal, a marca de Cristo deve ser também pessoal, ou seja, cada tem a sua; já seu oposto, a odiada marca da besta, seria uma marca global que normaliza as pessoas matando sua personalidade, suas características que a definem e aniquilando aquilo que garantiria sua existência*.
No fim das contas essa marca não se manifesta somente no futuro longínquo† do fim do mundo (a popular, para nós cristãos, volta de Cristo) mas começa agora no trabalho do Espírito Santo em nossas vidas nos afirmando como pessoas, como seres humanos vivendo em comunidade respeitando e amando ao próximo.
A partir desse ponto de vista uma realidade que pretende que todos sejam iguais‡‚ ou que pretende que exista um conceito de normal é uma manifestação diabólica que vai contra um Deus criativo que se regojiza na pluralidade da sua criação: vide a noção de corpo e várias funções de Paulo ou as pedras vivas de Pedro, pedras que eram encaixadas e cada uma era diferente da outra.
A reino de Deus é pra ser manifestado agora, onde estamos, e não num paraíso futuro e distante pois afinal, existem chances desse tal paraíso ser no lugar onde estamos só que numa versão redimida e plena. As melhores interpretações e explicações sobre Apocalipse e escatologia que já li são aquelas que aplicam esse fim do mundo pro já e pro agora, pois não existe menor relevância naquilo que vai acontecer se não vivemos isso, esse futuro não passa de distração pra não fazer aquilo que deveríamos fazer.
Deus trabalha. Cabe a nós fazer o mesmo e manifestarmos esse Reino onde estamos e como estamos, vivendo esse processo de salvação que acontece e que só está pronto do ponto de vista eterno, ponto de vista esse que não está disponível para nós no momento.
* Se todos são a mesma coisa, todos são iguais; se todos são iguais olhando de longe não consegue encontrar pessoa X pois é impossível distinguí-la de todo o resto; logo todos viram uma massa uniforme cujas individualidades não fazem a menor diferença.
† Por mais que Jesus peça que vigiemos pois o fim está próximo o futuro sempre está para acontecer a uma distância que nunca chega, logo temos que viver o agora, esse que existe em nossas mãos.
‡ Todos serem iguais é diferente de igualdade; ser igual é ir contra a nossa personalidade, já igualdade pretende que todas as pessoas tem o mesmo valor, não importando classe social, poder econômico ou títulos oficiais.
Kyrie eleison
A imagem que ilustra esse post é um esboço do inferno do pintor holandês Hieronymus Bosch.