[tabs style=”default” title=””] [tab title=”Introdução”]
Os livros de 1 e 2 Crônicas, assim como os livros de Samuel e Reis, formavam um único volume, e, na Bíblia hebraica vinha logo após os livros de Esdras e Neemias. Isto sugere ao menos 2 coisas:
- Aceitação posterior no cânon hebraico
- Crônicas seria considerado um apêndice, ou um complemento das histórias de Samuel e Reis
Nossa Bíblia segue o padrão do AT grego (a Septuaginta), colocando Crônicas após o livro de Reis, antes de Esdras-Neemias.
Quando passamos de Reis diretamente para Crônicas, sentimos certa familiaridade, mas a ênfase dada pelo cronista (chamaremos seu autor desta forma) na história de Judá torna este livro único, e desta maneira, justifica seu estudo separadamente do livro dos Reis.
O cronista não é um historiador no sentido pleno do termo, pois ele entendia que a história dos reinos de Israel e Judá estava carregada de lições morais e espirituais, por isso ele toma como fontes primárias de informação os livros de Samuel e Reis, e não se preocupa com os dados em si mesmos mas com o seu significado. Logo, podemos dizer que este livro tem um conteúdo histórico altamente interpretativo.
E, para interpretar esta história, o cronista abrange os momentos históricos de Israel desde os patriarcas (usando genealogias) até a derrocada do reino do Sul, Judá, pelas mãos da Babilônia.
O cronista registra a história do povo de Israel na monarquia unida desde Adão até Davi com o foco na Aliança de Javé com o povo hebreu, com atenção especial nos patriarcas. Ainda na monarquia unida o autor destaca os acontecimentos ligados à arca da aliança e ao templo, construído por Salomão. Durante a monarquia dividida os relatos de Crônicas praticamente desprezam o Reino do Norte, Israel.
Na época da produção de Crônicas, o povo de Judá estava no período pós-exílico, e era importante reafirmar a fé em Javé. Portanto, o cronista interpreta a história de Israel permitindo que o judeu percebesse que Javé estava no governo da história e que sua aliança ainda era válida.
O fracasso de Zorobabel em instaurar o reino messiânico previsto por Zacarias e Ageu, aliado às breves reformas religiosas propostas por Esdras e Neemias, desafiaram o autor de Crônicas a enxergar esperança para os judeus tomando por base a própria história de Israel. A restauração estava a caminho, e, o segundo êxodo previsto por Zacarias, inaugurando o reino do Messias em Jerusalém, invadiria a história humana (Zc. 8:1-8)
Para reconstruir a história, e dar ao povo judeu a esperança no futuro, o autor de Crônicas selecionou apenas os fatos positivos dos reis de Judá, praticamente excluiu as narrativas do reino do Norte e os pecados de Davi e a apostasia de Salomão. O autor também se utilizou de fatos não narrados em Samuel e Reis (2 Cr. 33:18-20).
O nome do livro em hebraico, tirado dos primeiros versículos, é “as palavras dos dias” e seu nome “Crônicas” vem da sugestão abreviada de Jerônimo que o chamou de “crônica de toda história divina”.
Houve tempo que os estudiosos consideravam Crônicas uma obra do mesmo autor de Esdras-Neemias, mas atualmente esta teoria não encontra mais adeptos. Entretanto, a maioria dos eruditos concordam quanto à data de sua produção em torno do ano 400 a.C., um pouco depois da composição dos livros de Esdras-Neemias e cerca de 100 anos após o profeta Malaquias. O registro cronológico da genealogia de Zorobabel em 1 Cr 3:17-21 apoia este teoria.
Além de recorrer aos livros de Samuel e Reis para compor a história cronista, seu autor também reuniu outras fontes históricas tais como:
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Andrew Hill & J. H. Walton, Panorama do Antigo Testamento. São Paulo: Vida, 2007.
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Estrutura de Crônicas
O livro de Crônicas pode ser dividido literariamente da seguinte forma:
- Genealogia desde Adão até os exilados que retornaram (1 Cr. 1 – 9)
- Monarquia unida de Davi e Salomão (1 Cr. 10 – 2 Cr. 9)
- Monarquia dividida de Judá (2 Cr. 10 – 36:16)
- Exílio de Judá na Babilônia (2 Cr. 36:17-23)
Nesta divisão fica claro que o objetivo do cronista é mostrar o ideal monárquico de Davi e Salomão, afinal são dedicados vinte e nove capítulos a estes reis. Para reanimar a fé do povo judeu que retornara do exílio o cronista compara o apogeu vivido nestes reinados com a realização da Aliança de Javé com seu povo. Do começo ao fim do livro são citadas as intervenções divinas neste período (1 Cr. 10:14; 2 Cr. 10:15).
A estrutura literária do livro também destaca a centralidade do templo como local de adoração único de Javé ao começar o segundo livro com a construção do primeiro templo e terminá-lo com o édito do rei Ciro para a reconstrução deste templo.
As genealogias, longe de serem apenas um enchimento literário, realça a unidade de todo Israel, um assunto primordial em virtude da separação dos reinos e retorno do exílio babilônico. O foco das genealogias são principalmente as tribos de Judá e Levi, isto é, a realeza e o sacerdócio respectivamente.
O incentivo e desafio é amplamente visto durante a exposição da narrativa do cronista. A coroação de Davi (1 Cr. 11 – 12) e as circunstâncias que a envolveram destacam a unidade e o ideal davídico da aliança. O tema fé e confiança foi bem explorado em 2 Cr. 13 a 16, enquanto os capítulos 21 a 23 evidenciam a preservação da dinastia davídica.
A desobediência de Saul é contrastada com a obediência de Davi e seu cuidado para com a arca da aliança, os preparativos para a construção do templo e a organização do culto a Javé.
O livro também enfatiza os reis Ezequias e Josias por suas contribuições ao culto a Javé e sua dedicação à purificação do templo de Jerusalém. A profecia também recebe uma atenção particular ao apresentar as bençãos e maldições previstas no código da Aliança (2 Cr. 36:17-21). Mesmo os casos de reis, cuja avaliação é negativa, tal qual Manassés e Amom, são apresentados como casos de conversão da apostasia (2 Cr. 33:1-9; 33:21-25).
O livro destaca que a rebelião contra Javé trouxe consequências graves para o povo da aliança, a dinastia davídica e o templo de Javé. Além do desterro, que era uma das promessas de Javé ao povo escolhido, o templo, como símbolo do governo teocrático de Javé, foi destruído. Contudo, assim como Javé cumpriu sua palavra acerca do exílio ela também se cumpriu na restauração e retorno dos judeus sob o governo de Ciro (2 Cr. 36:21-22).[/tab][tab title=”Propósito e Conteúdo”]
Propósito e conteúdo
Com relação ao seu propósito e conteúdo, o livro de Crônicas abrange os seguintes temas principais:
- Recordação do passado para a esperança no presente
- A centralidade na adoração no Templo de Jerusalém
- Os reinados de Davi e Salomão como ideais da aliança
- Autenticar a liderança dos sacerdotes e levitas
O objetivo do cronista foi mostar que os reinados de Davi e Salomão privilegiaram a adoração correta de Javé, e isso impulsionou a monarquia no período que se manteve unida. Portanto, se a comunidade judaica pós-exílica seguisse o exemplo da monarquia unida da adoração centralizada no templo, a restauração prevista pelos profetas se concretizaria.
A escolha de Israel feita por Javé é refletida nas longas listas genealógicas (1 Cr. 1 – 9) e a repetição dos feitos de Javé na história de Israel, cujo paradigma são os reinados de Davi e Salomão, tornou-se a garantia da sua futura intervenção para o cumprimento de seus propósitos com relação à aliança com os hebreus.
Ao relembrar seu passado, a nova comunidade pós-exílica tomou ciência das bênçãos e maldições referentes à aliança, além de observarem o respeito para com a liderança instituída por Javé, no caso os sacerdotes e levitas. Este parecia ser o caminho para a retomada do sucesso de outrora.
Na recodação histórica feita pelo cronista, Judá torna-se herdeiro das promessas de Javé a “Israel” e chama a todos os israelitas, por meio das genealogias, a unirem-se à aliança com Javé novamente. Desta forma os dias de glória do passado seriam revividos.
A visão cronista também apontava para a esperança que os profetas disseram de que Jerusalém seria o centro político e religioso do mundo, e agiria da mesma maneira como agiu nos reinados de Davi e Salomão (Zc. 14:12-21).
Adoração no Antigo Testamento
A adoração de Javé no templo de Jerusalém era o ideal cúltico que o cronista tinha em mente. Exemplos de adoração enfatizados em Crônicas:
- Adoração comunitária e individual – 1 Cr. 15:29; 2 Cr. 31:20-21
- Adoração liderada pelos sacerdotes observando o calendário litúrgico – 2 Cr. 35:1-19
- Resposta espontânea de adoração a Javé quando Ezequias celebra a páscoa duas vezes em um ano – 2 Cr. 30:13-22.
- Adoração particular – 1 Cr. 16:23-27
- Adoração pública – 1 Cr. 16:36; 29:9; 2 Cr. 5:2-14; 6:3-11
O cronista enfatizou também que a verdadeira adoração vem do temor ao Senhor (2 Cr. 6:31-33) e do amor a Javé de todo coração (1 Cr. 28:9; 2 Cr. 19:9).
Apesar da ênfase no Templo de Jerusalém, pois representava a própria presença de Javé no meio do seu povo, o cronista também destacou que a verdadeira adoração não pode ser restringida a um tempo ou lugar sagrado (2 Cr. 6:12-23).
Ainda em relacão à adoração o autor de Crônicas destaca o papel dos sacerdotes na vida religiosa da nação de Israel. Quanto aos levitas, após a instituição do templo, eles não precisariam mais carregar o tabernáculo, por isso o livro destaca as seguintes tarefas para estes personagens: cantores, músicos, guardas das portas, professores da lei e juízes (1 Cr. 24 – 26; 2 Cr. 17:7-9; 19:11).
Quando a monarquia em Israel foi extinta, os sacerdotes e levitas ficaram responsáveis pela administração da nação e o cronista pensou que esta classe social restabeleceria a teocracia em Israel, mas não foi o que aconteceu. Por isso Malaquias censura os sacerdotes por não cumprirem com suas funções sagradas (Ml. 1:6 – 2:9).
No Novo Testamento isso fundamentou o papel de Jesus como sacerdote de uma aliança superior (Hb. 7:20-22).
Arrependimento e misericórdia
O cronista além de historiador era também teólogo, pois conhecia a misericórdia e graça de Javé diante do arrependimento genuíno de seu povo (compare Êx. 32:11-14 com 2 Cr. 12:6-12). Seu perdão estava continuamente estendido a todos os que se dispunham a mudar suas atitudes e se voltavam para ele (2 Cr. 15:4; 32:26). Antigos habitantes do reino do norte (Israel) experimentariam sua bondade se retornassem aos seus caminhos (2 Cr. 30:6-9). Até mesmo o perverso rei Manassés provou a misericórdia de Javé (2 Cr. 33:12-14).[/tab][/tabs]
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