#ScholeQueÉ – Introdução ao livro das Crônicas – Paz no futuro e glória no passado #012

[tabs style=”default” title=””] [tab title=”Introdução”]

Os livros de 1 e 2 Crônicas, assim como os livros de Samuel e Reis, formavam um único volume, e, na Bíblia hebraica vinha logo após os livros de Esdras e Neemias. Isto sugere ao menos 2 coisas:

 

  • Aceitação posterior no cânon hebraico
  • Crônicas seria considerado um apêndice, ou um complemento das histórias de Samuel e Reis

 

Nossa Bíblia segue o padrão do AT grego (a Septuaginta), colocando Crônicas após o livro de Reis, antes de Esdras-Neemias.

 

Quando passamos de Reis diretamente para Crônicas, sentimos certa familiaridade, mas a ênfase dada pelo cronista (chamaremos seu autor desta forma) na história de Judá torna este livro único, e desta maneira, justifica seu estudo separadamente do livro dos Reis.

 

O cronista não é um historiador no sentido pleno do termo, pois ele entendia que a história dos reinos de Israel e Judá estava carregada de lições morais e espirituais, por isso ele toma como fontes primárias de informação os livros de Samuel e Reis, e não se preocupa com os dados em si mesmos mas com o seu significado. Logo, podemos dizer que este livro tem um conteúdo histórico altamente interpretativo.

 

E, para interpretar esta história, o cronista abrange os momentos históricos de Israel desde os patriarcas (usando genealogias) até a derrocada do reino do Sul, Judá, pelas mãos da Babilônia.

 

O cronista registra a história do povo de Israel na monarquia unida desde Adão até Davi com o foco na Aliança de Javé com o povo hebreu, com atenção especial nos patriarcas. Ainda na monarquia unida o autor destaca os acontecimentos ligados à arca da aliança e ao templo, construído por Salomão. Durante a monarquia dividida os relatos de Crônicas praticamente desprezam o Reino do Norte, Israel.

 

Na época da produção de Crônicas, o povo de Judá estava no período pós-exílico, e era importante reafirmar a fé em Javé. Portanto, o cronista interpreta a história de Israel permitindo que o judeu percebesse que Javé estava no governo da história e que sua aliança ainda era válida.

 

O fracasso de Zorobabel em instaurar o reino messiânico previsto por Zacarias e Ageu, aliado às breves reformas religiosas propostas por Esdras e Neemias, desafiaram o autor de Crônicas a enxergar esperança para os judeus tomando por base a própria história de Israel. A restauração estava a caminho, e, o segundo êxodo previsto por Zacarias, inaugurando o reino do Messias em Jerusalém, invadiria a história humana (Zc. 8:1-8)

Para reconstruir a história, e dar ao povo judeu a esperança no futuro, o autor de Crônicas selecionou apenas os fatos positivos dos reis de Judá, praticamente excluiu as narrativas do reino do Norte e os pecados de Davi e a apostasia de Salomão. O autor também se utilizou de fatos não narrados em Samuel e Reis (2 Cr. 33:18-20).

 

O nome do livro em hebraico, tirado dos primeiros versículos, é “as palavras dos dias” e seu nome “Crônicas” vem da sugestão abreviada de Jerônimo que o chamou de “crônica de toda história divina”.

 

Houve tempo que os estudiosos consideravam Crônicas uma obra do mesmo autor de Esdras-Neemias, mas atualmente esta teoria não encontra mais adeptos. Entretanto, a maioria dos eruditos concordam quanto à data de sua produção em torno do ano 400 a.C., um pouco depois da composição dos livros de Esdras-Neemias e cerca de 100 anos após o profeta Malaquias. O registro cronológico da genealogia de Zorobabel em 1 Cr 3:17-21 apoia este teoria.

Além de recorrer aos livros de Samuel e Reis para compor a história cronista, seu autor também reuniu outras fontes históricas tais como:

 

  • Registros genealógicos (1 Cr. 4:33; 5:17; 7:9,40; 9:1,22; 2 Cr. 12:15)
  • Cartas e documentos oficiais (1 Cr. 28:11-12; 2 Cr. 32:17-20; 2 Cr. 36:22-23)
  • Poemas, orações, discursos e cânticos (1 Cr. 16:8-36; 1 Cr. 29:10-22; 2 Cr. 29:30; 2 Cr. 35:25)
  • Registros históricos dos reis de Israel e Judá (2 Cr. 16:11; 2 Cr. 25:26; 2 Cr. 27:7; 2 Cr. 28:26; 2 Cr. 32:32; 2 Cr. 36:8)
  • Registros históricos de do rei Davi (1 Cr. 27:24)
  • Comentários sobre dos livros dos reis (2 Cr. 24:27)
  • Literatura profética primitiva, tais como os registros de Samuel, Natã, Gade (1 Cr. 29:29)
  • Literatura profética posterior, tais como os registros de Aías, Ido, Semaías, Jeú e Isaías (2 Cr. 12:15; 20:34; 32:32)

Andrew Hill & J. H. Walton, Panorama do Antigo Testamento. São Paulo: Vida, 2007.

[/tab][tab title=”Estrutura”]

Estrutura de Crônicas

 

O livro de Crônicas pode ser dividido literariamente da seguinte forma:

 

  • Genealogia desde Adão até os exilados que retornaram (1 Cr. 1 – 9)
  • Monarquia unida de Davi e Salomão (1 Cr. 10 – 2 Cr. 9)
  • Monarquia dividida de Judá (2 Cr. 10 – 36:16)
  • Exílio de Judá na Babilônia (2 Cr. 36:17-23)

 

Nesta divisão fica claro que o objetivo do cronista é mostrar o ideal monárquico de Davi e Salomão, afinal são dedicados vinte e nove capítulos a estes reis. Para reanimar a fé do povo judeu que retornara do exílio o cronista compara o apogeu vivido nestes reinados com a realização da Aliança de Javé com seu povo. Do começo ao fim do livro são citadas as intervenções divinas neste período (1 Cr. 10:14; 2 Cr. 10:15).

 

A estrutura literária do livro também destaca a centralidade do templo como local de adoração único de Javé ao começar o segundo livro com a construção do primeiro templo e terminá-lo com o édito do rei Ciro para a reconstrução deste templo.

 

As genealogias, longe de serem apenas um enchimento literário, realça a unidade de todo Israel, um assunto primordial em virtude da separação dos reinos e retorno do exílio babilônico. O foco das genealogias são principalmente as tribos de Judá e Levi, isto é, a realeza e o sacerdócio respectivamente.

 

O incentivo e desafio é amplamente visto durante a exposição da narrativa do cronista. A coroação de Davi (1 Cr. 11 – 12) e as circunstâncias que a envolveram destacam a unidade e o ideal davídico da aliança. O tema fé e confiança foi bem explorado em 2 Cr. 13 a 16, enquanto os capítulos 21 a 23 evidenciam a preservação da dinastia davídica.

 

A desobediência de Saul é contrastada com a obediência de Davi e seu cuidado para com a arca da aliança, os preparativos para a construção do templo e a organização do culto a Javé.

 

O livro também enfatiza os reis Ezequias e Josias por suas contribuições ao culto a Javé e sua dedicação à purificação do templo de Jerusalém. A profecia também recebe uma atenção particular ao apresentar as bençãos e maldições previstas no código da Aliança (2 Cr. 36:17-21). Mesmo os casos de reis, cuja avaliação é negativa, tal qual Manassés e Amom, são apresentados como casos de conversão da apostasia (2 Cr. 33:1-9; 33:21-25).

 

O livro destaca que a rebelião contra Javé trouxe consequências graves para o povo da aliança, a dinastia davídica e o templo de Javé. Além do desterro, que era uma das promessas de Javé ao povo escolhido, o templo, como símbolo do governo teocrático de Javé, foi destruído. Contudo, assim como Javé cumpriu sua palavra acerca do exílio ela também se cumpriu na restauração e retorno dos judeus sob o governo de Ciro (2 Cr. 36:21-22).[/tab][tab title=”Propósito e Conteúdo”]

Propósito e conteúdo

Com relação ao seu propósito e conteúdo, o livro de Crônicas abrange os seguintes temas principais:

 

  • Recordação do passado para a esperança no presente
  • A centralidade na adoração no Templo de Jerusalém
  • Os reinados de Davi e Salomão como ideais da aliança
  • Autenticar a liderança dos sacerdotes e levitas

 

O objetivo do cronista foi mostar que os reinados de Davi e Salomão privilegiaram a adoração correta de Javé, e isso impulsionou a monarquia no período que se manteve unida. Portanto, se a comunidade judaica pós-exílica seguisse o exemplo da monarquia unida da adoração centralizada no templo, a restauração prevista pelos profetas se concretizaria.

 

A escolha de Israel feita por Javé é refletida nas longas listas genealógicas (1 Cr. 1 – 9) e a repetição dos feitos de Javé na história de Israel, cujo paradigma são os reinados de Davi e Salomão, tornou-se a garantia da sua futura intervenção para o cumprimento de seus propósitos com relação à aliança com os hebreus.

 

Ao relembrar seu passado, a nova comunidade pós-exílica tomou ciência das bênçãos e maldições referentes à aliança, além de observarem o respeito para com a liderança instituída por Javé, no caso os sacerdotes e levitas. Este parecia ser o caminho para a retomada do sucesso de outrora.

 

Na recodação histórica feita pelo cronista, Judá torna-se herdeiro das promessas de Javé a “Israel” e chama a todos os israelitas, por meio das genealogias, a unirem-se à aliança com Javé novamente. Desta forma os dias de glória do passado seriam revividos.

 

A visão cronista também apontava para a esperança que os profetas disseram de que Jerusalém seria o centro político e religioso do mundo, e agiria da mesma maneira como agiu nos reinados de Davi e Salomão (Zc. 14:12-21).

 

Adoração no Antigo Testamento

 

A adoração de Javé no templo de Jerusalém era o ideal cúltico que o cronista tinha em mente. Exemplos de adoração enfatizados em Crônicas:

 

  • Adoração comunitária e individual – 1 Cr. 15:29; 2 Cr. 31:20-21
  • Adoração liderada pelos sacerdotes observando o calendário litúrgico – 2 Cr. 35:1-19
  • Resposta espontânea de adoração a Javé quando Ezequias celebra a páscoa duas vezes em um ano – 2 Cr. 30:13-22.
  • Adoração particular – 1 Cr. 16:23-27
  • Adoração pública – 1 Cr. 16:36; 29:9; 2 Cr. 5:2-14; 6:3-11

 

O cronista enfatizou também que a verdadeira adoração vem do temor ao Senhor (2 Cr. 6:31-33) e do amor a Javé de todo coração (1 Cr. 28:9; 2 Cr. 19:9).

 

Apesar da ênfase no Templo de Jerusalém, pois representava a própria presença de Javé no meio do seu povo, o cronista também destacou que a verdadeira adoração não pode ser restringida a um tempo ou lugar sagrado (2 Cr. 6:12-23).

Ainda em relacão à adoração o autor de Crônicas destaca o papel dos sacerdotes na vida religiosa da nação de Israel. Quanto aos levitas, após a instituição do templo, eles não precisariam mais carregar o tabernáculo, por isso o livro destaca as seguintes tarefas para estes personagens: cantores, músicos, guardas das portas, professores da lei e juízes (1 Cr. 24 – 26; 2 Cr. 17:7-9; 19:11).

 

Quando a monarquia em Israel foi extinta, os sacerdotes e levitas ficaram responsáveis pela administração da nação e o cronista pensou que esta classe social restabeleceria a teocracia em Israel, mas não foi o que aconteceu. Por isso Malaquias censura os sacerdotes por não cumprirem com suas funções sagradas (Ml. 1:6 – 2:9).

 

No Novo Testamento isso fundamentou o papel de Jesus como sacerdote de uma aliança superior (Hb. 7:20-22).

 

Arrependimento e misericórdia

 

O cronista além de historiador era também teólogo, pois conhecia a misericórdia e graça de Javé diante do arrependimento genuíno de seu povo (compare Êx. 32:11-14 com 2 Cr. 12:6-12). Seu perdão estava continuamente estendido a todos os que se dispunham a mudar suas atitudes e se voltavam para ele (2 Cr. 15:4; 32:26). Antigos habitantes do reino do norte (Israel) experimentariam sua bondade se retornassem aos seus caminhos (2 Cr. 30:6-9). Até mesmo o perverso rei Manassés provou a misericórdia de Javé (2 Cr. 33:12-14).[/tab][/tabs]

 

[button size=”small” color=”blue” style=”download” new_window=”true” link=”https://crentassos.com.br/blog/wp-content/uploads/013-Introdução-Cronicas-Crentassos.pdf”]Download (PDF)[/button]

Para ler o post original no blog do autor, clique no banner

Milhoranza

Posted in Scholé que é Crentassos? and tagged , , , , , , .