Pode parecer meio estranho, mas ainda hoje, seculo XXI, tem gente questionando o quão pecaminoso é ouvir musicas do mundo, doravante, chamadas, musicas seculares, para fins didáticos. Pode parecer bobagem, mas pasmem, não é, pois esse tipo de duvida gera muita confusão e nas mãos de lideres mal intencionados, jovens podem acabar tendo problemas muito maiores do que simplesmente deixar de ouvir essa ou aquela banda e é sobre isso que tentarei, no limite do meu entendimento, comentar neste texto.
MUSICA EVANGÉLICA?
A tal MUSICA SECULAR, para os que não estão familiarizados com o assunto, é nada mais nada menos que as musicas que não são do repertorio comum das igrejas evangélicas, ou seja: Qualquer musica que não seja EVANGÉLICA é uma musica do secular… Bem, mas vamos caminhar lentamente, para construirmos uma unidade de entendimento antes de concluir no SIM ou NÃO final, nos questionando: O QUE É UMA MUSICA EVANGÉLICA?
No Brasil, equivocamente, chamamos colocamos todos os cristão associados a grupos oriundos direta ou indiretamente da reforma, de EVANGÉLICOS, o que não chega a ser um problema a não ser pelo caso de que acaba dissociando os CATÓLICOS ROMANOS e ESPIRITAS KARDECISTAS (para dar apenas dois exemplos) do evangelho de Cristo. Independentemente do julgamento que façamos sobre a interpretação desses grupos ao evangelho, é fato. ESTES TAMBÉM SÃO EVANGÉLICOS no sentido mais ralo da palavra, eles também se utilizam do evangelho para fundamentar sua fé, mesmo que não exclusivamente. Assim, no senso comum, entendemos por EVANGÉLICO todo aquele que é convertido à fé PROTESTANTE, (seja qual for a linha que a instituição em que está ligado siga) ou por tudo aquilo que é referente a essa religião e nesse segundo ponto é que temos mais um problema.
Algumas das IGREJAS EVANGÉLICAS contemporâneas são o que antropólogos chamariam de SINCRETISMO RELIGIOSO, a reunião de doutrinas diferentes, com a manutenção embora de traços perceptíveis das doutrinas originais, entre o PROTESTANTISMO o JUDAÍSMO e RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA. De modo bem geral, (antes de qualquer coisa, não estou reduzindo nenhuma das religiões aos comentários que fiz, apenas afirmando que no sincretismo que aponto, apenas esses aspectos de cada religião é apropriado pelo agente sincrético) temos a INSTITUIÇÃO CRISTÃ PROTESTANTE com os SÍMBOLOS E ALGUNS RITUAIS JUDAICOS com o objetivo de auxiliar ou motivar entidades superiores a atuar de modo a serem beneficiados a partir dos rituais prestados.
Da tradição JUDAICA vem também o habito de ungir utensílios para exclusiva dedicação ao templos (Algo que não vemos orientação direta de Jesus sobre isso, ou mesmo qualquer menção no novo testamento). Ungindo objetos como prédios ou instrumentos musicas, assim como, ungindo propriedades imateriais, como musicas, e aí surgem as musicas EVANGÉLICAS.
Mas os EVANGÉLICOS deveriam ser aqueles que, antes de qualquer coisa, motivados por um evento sobrenatural ou uma decisão pessoal (indiretamente, também um evento sobre natural) resolveram aderir a uma nova pratica ética/espiritual que anuncia a boa noticia que está na raiz do termo EVANGELHO e cá, entre nós, objetos ou musica não aderem a uma nova perspectiva ética/espiritual mas podem ser utilizados para anunciar essa boa noticia. Isso tornaria um objeto ou uma musica, EVANGÉLICOS? Um microfone evangélico só amplifica a voz de quem anuncia o evangelho? um prédio evangélico só abriga pessoas que anunciam o evangelho? É óbvio que não, pois o microfone e o templo, não tem decisões próprias, e estão completamente subjugados a decisão daquele que os opera ou mantem e assim, são também as musicas. É claro que poesias musicadas, tem uma mensagem contida, mas não tem uma santidade em si mesmas. se considerarmos que musicas que falam de JESUS são musicas EVANGÉLICAS teríamos que colocar muitas musicas que não estão no repertorio evangélico, como a musica JESUS CRISTO do Roberto Carlos, por exemplo, e isso faria com que alguns ficassem de cabelo em pé. Se considerarmos a formação religiosa do autor da musica, teríamos outro problema: Como julgar o coração de quem compôs a musica? temos condições espirituais para isso? Como fazer isso sem ser injusto, ou pior, sem ser herege?
Quem resolve esse problema?
Diante do problema apresentado, surge a solução mais rápida, fácil e objetiva: NÃO DECIDA, DEIXE ALGUÉM DECIDIR POR VOCÊ. Pronto, todos os seus problemas acabaram… Ou não! Na verdade, em muitos aspectos da nossa vida enquanto sociedade, quando um adulto opta por abrir mão da decisão e confere-a a um representante, acabamos por reconhecer nossa insuficiência intelectual (o que não chega a ser um problema) e a nossa completa falta de autonomia diante da nossa própria vida (esse sim é um grande problema), haja visto nossa “DEMOCRACIA REPRESENTATIVA”. Sobre a insuficiência intelectual, veja, tentarei ser bem simples: Ninguém é obrigado a saber tudo ou mesmo a ser inteligente…Não é uma ofensa ou deficiência não ter algum tipo de conhecimento especifico em determinada área, de maneira geral, todos somos ignorantes nalguns assuntos assim como especialistas em outros, contudo, abrir mão da nossa autonomia enquanto seres humanos, é sim um problema muito grave, seja você inteligente ou não. Quando você, conscientemente autoriza alguém a decidir que tipo de roupa deve usar, musica deve ouvir, filmes por assistir, jornais, livros ou revistas deve ler, saiba que em breve, esse alguém estará ditando onde você deve gastar seu dinheiro, qual candidato deve votar e por aí em diante, e fatalmente você estará colaborando para o surgimento de um tirano, como os muitos que vemos liderando as supracitadas igrejas sincréticas e até outras instituições religiosas.
Pois é, um “pastor” que define qual é o tipo de musica que você deve ouvir, qual é o tipo de roupa que você deve, usando de chantagens e ameaças de uma suposta força superior, não é um pastor no sentido bíblico, mas um TIRANO que manipula pessoas para acumular poder ou até mesmo dinheiro para si. Essa tirania é um ciclo, pois quanto mais as pessoas se entregam a ele, mais ele se entende como tal e num ciclo que só é quebrado pela consciência de que o cristianismo não é uma religião que prega a dependência de um líder, mas uma comunidade de relação entre iguais.
A posição do pastor, em decisões como essa deve ser a de um orientador que explana de maneira honesta todas as possibilidades que ele encontra e assim, viabilizar a possibilidade de que cada membro da sua igreja tome a melhor decisão pra si e partindo dessa lógica, tentarei expor os pontos que me parecem mais explícitos e tratar um pouco sobre eles.
1. Musicas do mundo podem influenciar minha fé?
Sim… Com certeza! A nossa fé não é um valor estático que recebemos num dado momento e que nunca se altera na nossa vida. As vezes estamos mais confiantes e outras mais temerosos, as vezes estamos dispostos a enfrentar o ISIS e as vezes não temos coragem nem de assumir que somos cristãos aos colegas de trabalho. Essas expressões são variáveis entre cada cristão e cada cristão tem sua fé variando ao longo da sua vida e são tantos os motivos que não bastaria um texto como esse para enumera-los. Nosso animo é variável e nossa fé varia com ele numa matemática tão imprecisa que é impossível definir uma formula ou função que desenhe o gráfico ânimo x fé. Alguns ao sofrerem uma desilusão amorosa, a morte de uma pessoa querida, um golpe financeiro, um acidente, acabam por culpar Deus, outros acabam por se tornar fervorosos cristãos, como explicar? Ora… Somos seres humanos e não robôs, assim, a explicação é só uma: Não tem explicação. e musicas assim como qualquer peça artística, pode despertar tanto sentimentos bons, quanto sentimentos ruins em cada um de nós, segundo nossas experiências anteriores, segundo o momento em que estamos vivendo em nossas vidas e por aí vai, logo: a resposta é SIM, na minha singela opinião.
2. Então não posso ouvir musica que não fale de Jesus?
Oi? De onde você tirou essa ideia? Um Cristão só pode consumir arte que tenha referencias ao cristianismo? Essa ideia é um absurdo e remonta a questão problemática dos TIRANOS que costumeiramente chamamos de pastores. o mundo inteiro foi feito por Deus para o homem usufruir e cuidar, toda expressão de beleza e de bondade só podem vir de Deus, direta ou indiretamente e sendo assim, a arte, seja ela qual for, não precisa necessariamente ter referencias cristãs EXPLICITAS para ser boa, ela precisa é simplesmente ser BELA, pois toda beleza já é fruto de DEUS. Mas aí, cabe pensarmos um pouco mais profundo sobre o caso.
O conceito estético realmente não precisa de argumentos e esse é um problema grave para julgarmos o que é bom ou ruim em se tratando de peças artísticas, contudo, em se tratando de CERTO ou ERRADO, temos um cânon ao qual nos curvamos diante de questões ÉTICAS e não mais ESTÉTICAS; Como um cristão pode julgar se uma musica é CERTA ou ERRADA? Ora, analisando se os valores descritos na musica são ou não compatíveis com os valores propagados por Cristo nos evangelhos ou não. Agora, cabe a cada cristão, conhecer a bíblia, conhecer o texto do evangelho e não engolir piamente as informações que qualquer PASTOR ou TIRANO lhe entrega, é urgente a necessidade de que cristãos voltem a ler a bíblia, abrindo mão de seus preconceitos, dogmas e tradições.
4. Ok, barba, mas o que VOCÊ acha?
Acho que se pudéssemos definir o REINO DE DEUS, a definição seria: Um local ou situação onde TUDO que acontece é motivado pela vontade de Deus, e a vontade de Deus é a VIDA antes de qualquer coisa, logo, todo lugar ou situação que viabiliza ou promove a vida está dentro do reino de Deus. Então, acredito que poesias musicadas que vão contra os valores cristãos essenciais são contrárias, ideologicamente, ao o que eu acredito, não são boas para que eu escute, mas não por questões espirituais, como se o demônio ou algo assim, tivesse algum tipo de influencia sobre a minha vida, Eu não escuto musicas que vão contra os valores do reino assim como não escuto musicas que são machistas, ou musicas que são racistas, classista ou homofóbicas, pois, simplesmente, eu DISCORDO desses valores.
Mas, antes de concluir…
Bem, vamos falar um pouco sobre musica dita evangélica, ou , musica oriunda do MERCADO GOSPEL.
É interessante salientar que a palavra GOSPEL (derivada do inglês antigo “God-spell” que significa good tidings, ou good news, em português, “boas novas,” aludindo ao Evangelho bíblico que nos narra as “boas novas ao mundo” — ou seja, a vinda de Cristo ao Mundo — wiki) é extraída dos estados unidos, de um ritmo musical das igrejas de negros desse país, e vem para o Brasil como sinônimo de musica cristã contemporânea e até aí, nada de novo, pois até o evangelho que foi pregado aqui no Brasil, na sua maioria tem esse estigma, um avanço imperialista, que trás a boa-nova somada ao estilo de vida do evangelista e todos os seus valores culturais. Ao pousar em terras brasileiras, o termo gospel deixa de ser um ritmo musical e toma proporção de movimento cultural, e dá origem ao mais variado leque de PRODUTOS gospel, como livros, roupas, adesivos para carro com frases bíblicas descontextualizadas e todo tipo de bugigangas evangélicas, para gerar lucro e, não sejamos injustos, criar uma identidade cultural dos evangélicos do Brasil. A criação de uma identidade evangélica é efetivamente um problema num pais multicultural como o Brasil, mesmo outras expressões religiosas tem suas diferenças entre os estados, assim como todo tipo de ideologia que se possa imaginar, acabam por se dividir em varias formas de se manifestar. Até aí, sem problemas, ainda, mas… (e sempre tem um “mas”, né)
Quando empreendedores evangélicos os quais equivocadamente chamamos de pastores, acabam se utilizando da influencia que tem sob seu rebanho com o fim de direcionar qual o tipo de arte, roupas, etc, eles tem que consumir, tornando-se com isso, tiranos e não pastores, eles acabam por criar, um grupo que está pouquíssimo interessando na construção da identidade cristão-evangélica-brasileira, e muito mais interessado em lucrar muito com isso… acompanhe comigo o raciocínio.
Supondo que existam duas marcas de ACHOCOLATADO, um INES-CAL e o REVOL-TODDY e vivendo num sistema capitalista, as empresas que os produzem e distribuem acabam por competir pelo mercado, melhorando a qualidade do produto, diminuindo o preço ou agregando outros valores aos produtos, como brinquedos ou coisas assim… Por mais que o sistema capitalista seja digno de muitas criticas, as regras do jogo são essas… mas vamos supor que por algum motivo, a diretoria de marketing do INES-CAL, resolve associar, de maneira sorrateira, o boato de que a REVOL-TODDY tem, no meio de seus acionistas, pessoas envolvidas com pedofilia e distribuição de material pornográfico com crianças e coisa e tal. Convenhamos que a) o fato do cara ser um pedófilo não influencia em nada a qualidade do achocolatado, entretanto, b) Ninguém em sã consciência, iria querer se associar a um cara como esse (sem entrar no mérito de a pedofilia ser uma doença um uma falha de caráter de um psicopata). Ora… Eu mesmo, não iria mais comprar nada dessa empresa, afinal de contas, eu não quero dar dinheiro para um “pedófilo desgraçado”. Ora… na mentalidade média evangélica, o que é mais grave? Ser um pedófilo ou consumir uma coisa “DO DIABO”? Assim, em oposição às coisas do mundo (entenda como DO DIABO) surgem as coisas DE DEUS, as quais devem ser consumidas para barrar o avanço das empresas DO DIABO. Ora… Em poucas palavras, o termo GOSPEL se tornou uma estratégia mercadológica que se utiliza de maneira leviana do nome de DEUS para manipular pessoas através de “pastores” e outros lideres a consumir cada vez mais produtos de um determinado nicho, fazendo com que como numa bola de neve industria gospel e esses “pastores” e lideres, lucrem cada vez mais. É claro que isso não é exclusividade do núcleo evangélico, causa LGBT, NERDS, HIPSTERS e tantos outros grupos que são considerados uma subcultura também passam por esse processo, entretanto, nenhum outro grupo destes tem, supostamente, um compromisso com o REINO DE DEUS, aquele que citei aí no meio do texto e sendo assim, poupando todas as minhas criticas ao capitalismo, visto que esse texto não se refere a isso, LUCRAR com a ignorância daqueles que confiam em você fiados na esperança de que você é um representante de Deus, não é uma atitude muito cristã, alias, se existe alguma coisa de DEMONÍACA nessa indústria musical, talvez seja isso mesmo, USAR O NOME DE DEUS PARA LUCRAR E GANHAR PODER.
FINALMENTE, Concluindo
Não existe pecado em ouvir boa musica, e ouvir musica ruim não é pecado, é apenas mal gosto… Propagar ideias contrárias a suas ideologias e crenças, não é pecado, é apenas burrice, abrir mão da liberdade que Jesus nos confere, enquanto cristãos, de decidir o que podemos ou não fazer, é retroceder na consciência cristã e se faz necessário uma ressignificação do conceito de cristão para si mesmo, enquanto igreja e na comunidade onde se está inserido e se há algum pecado envolvendo a musica gospel ou não, é a criação de um mercado composto por homens e mulheres que dominam e oprimem pessoas inocentes por conta da confiança que essas tem nestes supostos PASTORES e HOMENS-DE-DEUS, doravante, chamados por mim apenas pelo titulo de TIRANOS RELIGIOSOS.