Meu nome é Giancarlo Marx e hoje eu vou falar sobre o tema “Errando o Passo”.
Como eu falei aqui no último episódio, houve um momento em que a Trindade criou a humanidade e a convidou para participar da dança divina. Imagino que você já conheça a história e saiba o que aconteceu depois. A humanidade se deixou seduzir pelo pecado e o primeiro sinal disso foi que eles se perceberam como indivíduos, e não mais como uma unidade plural.
Primeiramente quando se sentiram envergonhados e se cobriram. Em seguida, no triste discurso do homem culpando a mulher (e o próprio Deus que a havia criado) por lhe oferecer o tal do fruto proibido. E por fim quando ele resolveu excluí-la da unidade plural em que ambos participavam:
O homem, Adão, deu à sua mulher o nome de Eva, pois ela seria a mãe de toda a humanidade. – Gênesis 3:20
Sempre que eu leio este texto me pergunto: “Ei, Adão, onde foi parar aquele papo de carne da minha carne e osso dos meus ossos?” Neste momento, a mulher foi tratada pelo homem como mais um ser da criação, diferente dele. Ele deu um nome a ela, assim como ele e ela juntos haviam feito a todo o resto dos seres vivos. Neste momento ela foi animalizada, reduzida a um mero papel social. Tornou-se uma produtora de filhos.
Este episódio é chamado na teologia de “queda”, ou então de “quebra”. O pecado arruinou a dança no Éden, e isso ocorreu assim que seus membros deixaram de se identificar como coletividade. Ou, pode-se dizer, no momento em que um deles se levantou como líder sobre o outro.
Mas para além deste rompimento na relação entre si, os humanos também sofreram um rompimento com a própria unidade plural original, com a qual eles passaram a não mais se identificar. Afinal, Deus não é um ser sozinho, o que torna impossível identificar-se como semelhante a ele a partir de uma mentalidade egocêntrica.
O modelo inspirado na Santíssima Trindade e na comunhão original do Éden aponta para a matéria-prima que constitui a Igreja: os relacionamentos. E não qualquer relacionamento, mas sim aquele pautado pela mutualidade. Relações igualitárias, recheadas de generosidade e temperadas com amor.
Por isso eu digo que a Igreja não é espaço para auto-afirmação. Ainda que vez ou outra outros irmãos possam homenagear ou reconhecer alguém em honra, assim como nos exemplos que citamos na Trindade no episódio passado. Porém isso nunca deve ser exigido. Assim como o Pai, o Filho e o Espírito Santo jamais se exaltam uns acima dos demais, ou exigem reconhecimento por seus méritos. Cada um se ocupa em honrar os demais, e isso deveria bastar.
Há diversas passagens do Novo Testamento que dão base para este modelo relacional igualitário aplicado às relações na Igreja. O apóstolo Simão Pedro escreveu em sua epístola universal que a unidade produzida na coletividade da Igreja constitui um templo vivo para que Deus habite conosco.
E vocês também são pedras vivas, com as quais um templo espiritual é edificado. Além disso, são sacerdotes santos. Por meio de Jesus Cristo, oferecem sacrifícios espirituais que agradam a Deus. – 1 Pedro 2:5
É sobre esta aplicação que vamos conversar no próximo episódio, se Deus assim nos permitir.
Um forte abraço e até lá.
PARTICIPANTES:
– Giancarlo Marx
COISAS ÚTEIS:
– Duração: 4m53s
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– Todos os “Ampulheta”
CITADOS NO PROGRAMA:
– Podcast “Um Deus Que Dança | Ampulheta 59”
– Gênesis 3:20
– I Pedro 2:5
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