A Semana Santa chegou e estamos, cada um de nós, vivendo um período único em nossas vidas, cheio de incertezas, medo e ansiedade. Este período pode e deve nos aproximar dos dois momentos que marcam o surgimento da Páscoa na Bíblia: Deus punindo o Egito com sua última praga e a Santa Ceia de Cristo.
O relato bíblico da primeira parte do livro de Êxodo nos conta sobre as pragas enviadas por Deus ao Egito, para que o Faraó libertasse os hebreus. Como nós sabemos, a última praga envolvia a morte dos primogênitos de todas as casas não marcadas com o sinal determinado por Deus e de todos os animais.
Moisés disse: “Assim diz o Senhor: À meia-noite de hoje, passarei pelo meio do Egito.
Morrerão todos os filhos mais velhos do sexo masculino, em todas as famílias do Egito, desde o filho mais velho do faraó, sentado em seu trono, até o filho mais velho da serva mais humilde que trabalha no moinho. Até mesmo os primeiros machos dentre todos os animais morrerão.
Então se ouvirá um grande lamento na terra do Egito, um lamento como nunca houve e nunca mais haverá.
Êxodo 11:4-6
Todo o direcionamento de Deus sobre a Primeira Páscoa nos traz valiosas lições. Ele dá ordens e garante a proteção daqueles que cumprirem as mesmas. Ele ensina sobre dividir o pão e auxílio entre famílias e vizinhos.
Anunciem a toda a comunidade de Israel que, no décimo dia deste mês, cada família escolherá um cordeiro ou um cabrito para fazer um sacrifício, um animal para cada casa.
A família que for pequena demais para comer um animal inteiro deverá compartilhá-lo com outra família da vizinhança. O animal será dividido de acordo com o número de pessoas e a quantidade que cada um puder comer.
O animal escolhido deverá ser um cordeiro ou um cabrito de um ano, sem defeito algum.
“Guardem bem o animal escolhido até a tarde do décimo quarto dia do primeiro mês. Nesse dia, toda a comunidade de Israel sacrificará seu cordeiro ou cabrito ao anoitecer.
Em seguida, tomarão um pouco do sangue e o passarão nos batentes laterais e no alto das portas das casas onde comerem o animal.
Nessa mesma noite, assarão a carne no fogo e a comerão acompanhada de folhas verdes amargas e de pão sem fermento.
Não comerão a carne crua nem cozida. O animal todo, incluindo a cabeça, as pernas e as vísceras, deverá ser assado no fogo.
Não deixem sobras para a manhã seguinte. Queimem o que não for consumido antes do amanhecer.
“Estas são as instruções para quando fizerem a refeição. Estejam vestidos para a viagem, de sandálias nos pés e cajado na mão. Façam a refeição apressadamente, pois é a Páscoa do Senhor.
Nessa noite, passarei pela terra do Egito e matarei todos os filhos mais velhos e todos os primeiros machos dentre os animais na terra do Egito. Executarei juízo sobre todos os deuses do Egito, pois eu sou o Senhor.
Mas o sangue nos batentes das portas servirá de sinal e marcará as casas onde vocês estão. Quando eu vir o sangue, passarei por sobre aquela casa. E, quando eu ferir a terra do Egito, a praga de morte não os tocará.
Êxodo 12:3-13
É emblemático ver que, no momento em que a vida das pessoas lá fora está em risco, Deus ordena que as pessoas obedeçam a simples ordem de permanecer dentro. Além disso, ordena que as pessoas sejam conscientes e generosas, cuidando uns dos outros. O povo de Deus é constituído por centenas de famílias, e elas têm responsabilidade umas sobre as outras. Ao olhar para este texto, quantas lições podemos tirar para nossos dias.
Ontem, recebi a newsletter da Rita Lobo, cozinheira que eu admiro muito. Ela, que é judia, me fez chorar lendo uma newsletter sobre comida por falar da Páscoa cristã. Chorei lendo pra mim, chorei relendo em voz alta pro Jonatha. Chorei pensando nela agora, enquanto escrevia este texto, que foi motivado pela cartinha de ontem. Por ter trazido uma mensagem tão bonita, reproduzo abaixo o texto.
Fique em casa
Na próxima sexta, justamente a Sexta-feira Santa, completo quatro semanas em casa. Saí duas vezes, ambas para deixar comida na casa dos meus pais. E vi muita gente na rua – inclusive correndo, passeando de mãos dadas. A cartinha não é um lugar para ficar reclamando, mas preciso desabafar: fiquei revoltada.
Eu também estou sofrendo fisicamente por não fazer caminhadas ao ar livre. Mas vivo em sociedade e agora é hora de ficar em casa para proteger a todos: minha família, claro, mas também enfermeiros, médicos e outros trabalhadores de áreas consideradas essenciais – e proteger até aqueles que se acham mais importantes do que os outros e saem para encontrar os amigos nas calçadas, dar um rolê no bairro ou tomar sol no parque.
Será que essas pessoas não param
para pensar nem mesmo com uma pandemia, uma crise global e
uma paralização mundial?
Esta é uma semana de celebrações religiosas: Páscoa e Pessach (também conhecida como Páscoa judaica, exclusivamente pela proximidade no calendário).
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Curiosamente, entre os católicos, a Sexta-feira Santa é o único dia do ano em que não são celebradas missas. É um momento em que cada um deve refletir sozinho sobre a própria espiritualidade, sobre o doloroso caminho que Jesus percorreu até sua morte e seu sacrifício por todos.
No judaísmo, de acordo com a tradição, há 3.500 anos, quando D’us enviou as Dez Pragas do Egito, o profeta Moisés foi instruído a orientar as famílias judaicas que ficassem em casa naquela noite e sinalizassem suas portas, pintando os umbrais com o sangue de um cordeiro, para que não fossem acometidas pela morte de seus primogênitos.
À noite, as famílias comeram a carne, acompanhada de pão ázimo e hortaliças amargas e foram salvas do anjo da morte enviado por D’us, que levou todos os primogênitos egípcios. O faraó, temendo a ira divina, libertou o povo de Israel.
Nas duas religiões, esta é uma semana de muita reflexão – e de recolhimento. E a ciência também nos orienta a ficar em casa: é a única forma de achatar a curva do coronavírus. Neste momento, religião e ciência dizem a mesma coisa: fique em casa. E, se precisar sair, use máscara.
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Para mim, o fato da Rita Lobo ser cozinheira, torna a mensagem dela ainda mais forte: ter alimento em nossas mesas é motivo de alegria e gratidão. Deus nos provê e sustenta. Mas saber que falta alimento em tantas mesas e tantas casas ao nosso redor deve ser motivo de vergonha e de ação entre nós, cristãos. Nós já falamos sobre a importância da comida no cristianismo no lindo Podcrent Evangelho à mesa, e nos exemplos que devemos pensar essa semana, a comida está de novo marcando símbolos daquilo que Deus faz.
Que nós possamos fazer a nossa parte enquanto cristãos. Ficar em casa agora demonstra obediência aos estudos científicos, mas Deus também nos manda sermos sensatos frente a perigos. Que tenhamos a compreensão de que o nosso bem-estar não pode estar acima do bem coletivo. Que Deus constranja nossos corações para sabermos que o certo é dividir com aqueles que estão próximos ou que tem menos, ao invés de querer “guardar carne para o dia seguinte”. O desafio de ser sal e luz no mundo é hoje, é agora. Cuide da sua segurança e saúde, mas não seja egoísta.
Fique em casa (se você pode fazê-lo)!