“Foi pra liberdade que Cristo nos libertou”. O evangelho é uma história de libertação. Uma libertação que, paradoxalmente, se manifesta quando estamos unidos, colados, amarrados mesmo, em Deus. Ele é a liberdade e, sem Ele, estamos presos. Ele é o oceano, nós os peixes. Sem ele, o máximo que temos é o confinamento de um aquário.
“Liberdade” é um tema é frequente nas letras do Resgate, como também é na história das outras tantas bandas cristãs surgidas na década de 90 no Brasil. Isso se explica pela própria natureza desse movimento. Um Brasil livre e liberal surgira dos escombros da ditadura uma década antes. Mas as liberdades individuais recém conquistadas mostraram-se insuficientes quando outras prisões se apresentavam. Por um lado, a prisão das drogas, tema recorrente nas letras dos artistas cristãos da época. De outro lado, as prisões da religiosidade que se opunham às expressões artísticas, litúrgicas e teológicas desses jovens impetuosos.
Não é difícil perceber o ar libertador do Resgate noventista. Criativo, ousado, bem-humorado, cheio de “Jesus, Vida e Rock’n Roll” que, não por acaso, é o nome do primeiro disco do grupo. No lugar da tríade da vida roqueira com o sexo e as drogas (que se mostravam prisões ocultas de dependência e aids), esses paulistas ofereciam a real vida e liberdade em Jesus.
O Resgate continuou em seu movimento libertário e libertador nas décadas posteriores. Encontrou nas prisões intrínsecas da vida religiosa um inimigo reinventado nos anos 2000. Aquela denominação que se apresentou um dia como a igreja dos jovens e dos artistas, mostrou-se embaraçada em correntes e laços ocultos que drenavam a vida que o evangelho oferecia. Era hora de partir. Até movimentos disruptivos correm o risco de se tornarem limitantes.
Fora do aquário, música da série de 30 anos da banda, faz jus a essa história de escapes e apego a Jesus. Às vezes estamos em um aquário de paredes tão cristalinas que temos a impressão de estarmos livres. Mas só há uma saída pra liberdade real. “A abertura do topo nos tira do aquário”.
Mas como sair pelo topo? As paredes desse aquário são conhecidas: a autossuficiência, a culpa, a ignorância sobre quem de fato somos. Continuamos presos enquanto não entendemos que nós mesmos não podemos nos libertar. A antiga canção da banda dizia “Uma única saída/ Uma porta estreita pra passar/ Tudo já foi pago, pago em dia”. Não somos nós que pagamos, mas Cristo já pagou. Por isso, só nos resta confessar nossa incapacidade e nos ver livres de vez. “Se confessarmos e admitirmos, a paz vem e tira o peso” é o que diz a canção Confissão.
Somos vivos, porque Ele morreu. Estamos livres, porque ele foi preso no madeiro. Sem dó, sem autocomiseração, o libertador tomou nossa condenação para nos libertar. “Pensou no mundo inteiro, verdadeiro caminho pra todos”.
Foi pra essa liberdade que Ele nos libertou; pra uma vida cheia, perdoada e livre. Um resgate pra todo tipo de escravidão.
Cacau Marques é marido, pastor e professor. Não dispensa uma oração e é o mais querido de toda podosfera.