10, 11, 12 | Resgate comemora 30 anos lançando 30 músicas inéditas

Estou aqui de volta pra falar de mais três faixas do projeto especial de 30 anos da banda Resgate, uma das mais influentes e longevas do cenário nacional.

Este combo inicia com a provocativa Vai, Babel!. Uma verdadeira piada com a briga de egos que caracteriza o evangelicalismo brasileiro. Cada grande líder miserável em sua própria vontade de ser o maior de todos.

Babel me pareceu aqui um contraponto à ideia de uma cidade celestial, edificada não sobre a obra da cruz, mas sim sobre as vaidades particulares desses líderes.

Pra entender esta provocação é interessante lembrar a história descrita em Gênesis 11:1-9, quando a humanidade resolveu se ajuntar num projeto pela sua própria glória e legado. A famosa Torre de Babel.

Depois, disseram: “Venham, vamos construir uma cidade com uma torre que chegue até o céu. Assim, ficaremos famosos e não seremos espalhados pelo mundo”. Gênesis 11:4

Aparentemente a sede por reconhecimento não é uma exclusividade dos povos antigos. Ainda hoje líderes religiosos alimentam sua altivez congregando multidões em torno de si, sob o argumento fútil de que almejam com isso agradar a Deus.

A estrofe da música que diz:

“Sádicos, médicos, videntes competentes

O fato é que no fim ninguém se entende nessa festa

A língua dos glutões não é mais a de Camões

Tem três números seis pra cada testa”

É uma menção à maneira como Deus frustrou os planos de construção da tal torre de Gênesis, confundindo os idiomas que eles falavam e causando uma confusão generalizada, o que resultou no espalhamento dos seres humanos pela terra.

A frase “Que sorte a nossa, Deus atrapalhou” parece revelar uma expectativa (ou quem sabe a constatação) de que o Senhor operaria da mesma maneira hoje, sabotando os projetos de poder e os impérios particulares desses líderes de nossos dias.

Musicalmente a faixa é simples e convidativa. Dá vontade de se unir à banda, batendo palmas e pés, cantando o refrão em seu modo quase tribal. “Vai, Babel!”

Na sequência temos Velhos Ventos, com a participação de Pedrinho Carenas. Um desabafo (bem fundamentado) de alguém que já experimentou o melhor e o pior que a vida pode oferecer. Mas cuja experiência não parece ser valorizada ou mesmo notada pelos mais jovens, que acreditam ter descoberto algo absolutamente novo, libertador e “desruptivo” a cada novo modismo religioso.

Como bem disse Salomão, não há nada de novo debaixo do céu. O que é, já foi, e o que será, também já foi. Este é o tipo de lição que todos inevitavelmente aprendemos, mas que geralmente só é absorvida quando já é tarde demais.

Os riffs e os duetos de voz trazem a estética característica do Resgate, com a impressão digital que a banda deixou ao o longo de seus 30 anos de estrada.

A terceira faixa, Quanto Mais Cedo Melhor, conta novamente com a participação especial do músico, arranjador e produtor Pedrinho Carenas. Trata-se de uma canção aparentemente inspirada em Eclesiastes 12, tema recorrente na história da banda. No disco Resgate, de 1997, eles já lançavam a faixa “Antes”, que foi regravada no álbum Resgate Acústico em 2001.

Só que ao contrário da primeira canção, a faixa gravada em 2019 traz uma levada mais intimista, que tem tudo a ver com o tema do texto bíblico. Chega a soar como Roupa Nova ou Ivan Lins. Pra ficar no campo dos artistas cristãos, posso imaginar esta letra sendo cantada por Guilherme Kerr ou Nelson Bomilcar.

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