Faz Frio

Pode parecer que não, mas, faz frio lá fora. Muito frio. Há pessoas congelando e morrendo de frio. Neste momento quero te convidar para, junto comigo, não deixarmos o frio nos alcançar. O Senhor Jesus nos avisou que “devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará” (Mt 24:12). Se repararmos, Jesus disse “muitos”, o que não especifica quem são estes que esfriarão. Será possível que nós, membros do corpo de Cristo, também podemos esfriar?

O hamster hiberna em baixas temperaturas. Ele se enrola em si mesmo e endurece. De longe parece até que está morto, mas, seu coração ainda pulsa bem lentamente e sua respiração é bem fraca. Quem pega na mão, sente que ele está frio. Talvez, por desconhecimento, vários hamsters por aí foram jogados na privada ou enterrados ainda vivos. O grande problema do hamster é que ele não está fisicamente preparado para hibernar. Ele não come e bebe em grande quantidade antes de alcançar este estágio (como faz o urso), é bem de repente, sem planejamento. E se ficar hibernando por muito tempo, ele vai morrer.

Assim como o hamster, nós não estamos preparados para suportar muito frio. Sem um bom cobertor e umas roupas bem quentinhas, nós vamos também nos enrolar em nós mesmos, porém, tremeremos de frio até a hipotermia grave. Quando o quadro grave chega, nosso comportamento se altera. Ficamos com os movimentos mais lentos e paramos de tremer. As extremidades do corpo começam a ficar azuladas e há confusão mental, podendo chegar ao coma. Se ninguém nos resgatar, nossa respiração e pulso cairão e os órgãos vitais falharão um por um.

O que acontece com nosso corpo também pode acontecer com nossa alma. Ela também pode sentir frio, se o calor do amor não a aquecer. A falta de amor causa na alma uma doença muito grave: a insensibilidade. Há vários agentes patológicos que podem roubar o calor de nossa alma. E assim como o frio, podem vir de supetão ou então bem lentamente, sugando nossa vida, nossa alegria e amor. Segue alguns deles:

1 – Conforto

O conforto é traiçoeiro. Vai nos envolvendo lentamente, nos abraçando, acalmando, dando preguiça, sono e finalmente, apatia. A vida espiritual parece não valer mais a pena. Ir ao culto? Mas eu tomei banho e a cama está tão gostosa! Ajudar com meu carro? Mas eu lavei hoje de manhã, está tão limpinho! Ler a Bíblia? Mas eu acabei de receber uma notificação de que minha série preferida lançou uma nova temporada!

O conforto é uma distração. É uma forma de atrofia. Ficamos destreinados, com reação lenta. Nos deixa lerdos, cansados, preguiçosos. “Observe a formiga, preguiçoso, reflita nos caminhos dela e seja sábio! Ela não tem nem chefe, nem supervisor, nem governante, e ainda assim armazena as suas provisões no verão e na época da colheita ajunta o seu alimento. Até quando você vai ficar deitado, preguiçoso? Quando se levantará de seu sono? Tirando uma soneca, cochilando um pouco, cruzando um pouco os braços para descansar, a sua pobreza o surpreenderá como um assaltante, e a sua necessidade lhe sobrevirá como um homem armado. ” (Pv 6:6-11)

2 – Indiferença

Em um primeiro momento, pode ser que estávamos bem empolgados em servir. Queríamos fazer, queríamos ver funcionando e ver tudo pronto logo! Mas, aí veio a frustração. Não saiu exatamente do jeito queríamos ou algo deu errado. Então, de repente, ficamos indiferentes. E a indiferença pode ser assim:

  • “Nada vai dar certo, então, vou fazer de qualquer jeito”.
  • “Nada vai dar certo, então, não vou fazer mais”.

Logo, seguimos por dois caminhos:

  • Negligência com o serviço: não buscamos mais a excelência no que fazemos. Paramos de estudar, de evoluir, de ter esmero. Paramos de ter respeito com a obra de Deus. Cl 3:23 “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens,”
  • Maledicência com o serviço: passamos a apenas criticar tudo o que acontece, sem oferecer soluções, sem oferecer ajuda, sem orar pelos que continuam trabalhando. Pv 11:12 “O que despreza o próximo é falto de senso, mas o homem prudente, este se cala.”

3 – Soberba

Chega uma fase em que já acumulamos alguns anos de experiência no meio eclesiástico. Já fizemos de tudo um pouco dentro da igreja. É nessa hora que somos tentados pela doença da soberba. E não importa a idade que temos, não importa se nascemos na igreja ou só entramos quando adultos. Tempo de igreja não é sinônimo de maturidade. Nem de sabedoria. Muito menos de superioridade. E essa doença é das mais sutis, pois, ao contrário do conforto e da indiferença que são mais visíveis, podemos ser soberbos e sermos líderes. Soberbos e participantes assíduos das atividades da igreja. Soberbos e “fervorosos na oração”. Fariseus. Vaidosos. Por dentro, nosso coração está gelado e a gente nem percebeu por causa da nossa “confusão mental”. Uma falsa imagem de bondade, grandeza e virtude que temos de nós mesmos. Passamos a desprezar a simplicidade, a humildade. Abrimos a porta ao preconceito, à discriminação.

“A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra. ” Pv 29:23

Estes três agentes patológicos da alma causam terríveis consequências se não tratadas a tempo.

1 – O Conforto gera preguiça.

2 – A indiferença gera a negligência e a maledicência.

3 – A soberba gera vaidade.

E qual o resultado?

  • A preguiça, a negligência e a maledicência podem contagiar outras pessoas;
  • Alguns, em um esforço para manter tudo funcionando, acumulam várias funções;
  • Ministérios e funções sendo exercidas por pessoas que não possuem o respectivo dom;
  • Ministérios ruindo;
  • Pessoas sentindo-se sozinhas na luta;
  • Pessoas sentindo-se humilhadas ou incapazes;
  • Novos convertidos desanimando;
  • A alegria nos cultos desaparece;
  • O amor esfria.

Parece que o hamster morreu. Mas o coração ainda bate, fraco, mas bate. Para salvar o bichinho da morte certa, ele precisa de CALOR. Primeiramente, você o aconchega no calor das suas mãos. Prepara um lugar quentinho para colocá-lo e o cobre com um pano aquecido. Conforme for acordando, é necessário dar água e alimentos a ele com uma seringa, para fortalecê-lo. Massagens e mais calor. Cuidado e mais alimento. Lentamente, ele irá se reerguer e voltar a ser um bichinho alegre e ativo.

O calor para reavivar a nossa alma é o amor.  Logo, sim, nós não estamos livres do esfriamento do amor.  Precisamos ter cuidado, mantermo-nos aquecidos e alimentados. A alma insensível não consegue se compadecer de quem sofre. Não alcança o perdido. Não cura, não alimenta, não abriga, não guia corretamente. A alma insensível não tem alegria. Para de orar, não sente prazer ao ler a Bíblia, não jejua. Ou seja, deixamos de lado a Grande Comissão para nos perdermos em nossos próprios prazeres, nosso próprio ego.

Afinal, é isso que importa, pra isso fomos chamados. Para que, com nossa vida, o evangelho seja pregado. Para sermos referência do poder transformador do Senhor. Para imitarmos Jesus e continuarmos com seu ministério. Para “evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.” LC 4:18-19

Mas, como obter o amor? Pra isso, todos nós já sabemos a resposta de cor! João nos diz: “Amados, amemos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.” 1JO 4:7-8 Precisamos conhecer a Deus! Nos relacionarmos com ele e assim sermos cheios desse amor! Nós precisamos amar nossos irmãos. Precisamos nos importar com a dor do outro. Precisamos orar por cada um que nos rodeia. E isso é difícil!

  • Amar nos tira do conforto, pois exige energia! Exige ação! Tempo!
  • Amar nos impede de sermos indiferentes, pois quem ama se importa, mesmo que tudo dê errado!
  • Amar nos faz ver nossa real condição: somos fracos, estamos famintos, não temos nada. Para tudo dependemos do Senhor. No amor não há espaço para a soberba.

Que sejamos todos um só com Cristo. Que com nossos dons e especialidades, possamos servir uns aos outros. Que sejamos conhecidos pelo amor que transborda de nós e se torna real por nossas ações. Que a nossa oração seja a mesma do salmista: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável.” Sl 51:10

Até mês que vem!

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