Brilho Dourado

Era uma planta de aparência magnífica, de brilho incomparavelmente dourado! Impossível passar despercebida por sua elegância e grandeza. Após ser descoberta, rapidamente tornou-se objeto de desejo ornamental. Todos queriam tê-la no jardim, mas nem todos podiam pagar seu preço. Os poucos que conseguiram obtê-la, fizeram um grande alvoroço em suas casas. Chamavam os amigos e “amigos” para que vissem aquela maravilha. Gabavam-se por sua beleza, preciosidade e enchiam os ouvidos alheios de histórias de como conseguiram tão rara espécie. Rapidamente, o que era broto cresceu de tal modo que fazia sombra a um homem feito. Então, coisas estranhas começaram a acontecer. 

Seus donos tornaram-se tão insuportáveis que seus amigos desapareceram. Não sabiam falar de outra coisa a não ser da tão estimada planta. Entretanto, não ficaram sozinhos, pois, a cada dia apareciam mais “amigos” e “amigos” para bajular. Pareciam todos hipnotizados pelo espécime. Até que, em um dia comum, sem nada de especial, uma das plantas começou a exalar um mal cheiro terrível! A vizinhança toda podia sentir, mas, os “amigos” pareciam não ligar. Continuavam todos os dias indo àquela casa para desfrutar da visão fantástica da planta dourada. Uns chegavam a se demorar até a noite, para ver como cintilava à luz da lua. Não se davam conta do risco que corriam. 

O mal cheiro cessou e notaram que um segundo broto havia aparecido naquele jardim. Foi uma grande festa! E da mesma forma que o outro, rapidamente virou um alto e imponente pedúnculo, pronto a abrir sua exótica flor dourada. Todos ficavam extasiados com a novidade.  Nada mais na vida importava para aquelas pessoas, a não ser admirar o esplendor da planta. Entretanto, mais uma vez o mal cheiro retornou e mais um broto surgiu. O mesmo começou a se repetir nas outras residências onde havia um exemplar. E assim, sucessivamente, as plantas abriam seu espaço em meio aos jardins da cidade. A febre continuou e começou a atrair todo tipo de gente aos jardins dourados. 

Finalmente, alguém sentiu falta de um dos donos de jardim. Ninguém podia dizer seu paradeiro havia dias. Mas, pouco ligaram, afinal, c’est la vie, estavam todos entretidos em meio a festas e mais festas de celebração aos jardins dourados. Todos viviam felizes agora! Carpe Diem! Agora, alguns brotos, magicamente, apareceram em outros jardins. Em poucos meses, começaram a brotar nos campos, nos pastos, em meio à mata, perto de nascentes. Todo o horizonte era dourado. Parecia que a maioria não se importava. Na verdade, alguns não gostavam do que estava acontecendo. 

Houve o primeiro corajoso que se levantou em meio à praça (já dourada) da cidade e anunciou – “Essa planta é uma praga! Está matando nossos campos, nossa lavoura! Vai nos matar de fome, está secando nossas nascentes!”. O rebuliço foi geral. Alguns engrossaram o primeiro coro, outros reagiram ferozmente em apoio à planta. Foi então que decidiram consultar o prefeito da cidade. Só que ele não foi encontrado. Seu secretário? Também não. O delegado? Tampouco. Iniciou-se uma busca e deram-se conta de que centenas de pessoas haviam desaparecido da cidade, sem deixar rastros. Acusaram a planta, zombaram da acusação estapafúrdia. O clima da cidade ficou tenso. 

Com a colheita arruinada, os agricultores resolveram revolver a terra e encontraram grossas raízes vermelhas. Calcularam que elas se estendiam como uma grande rede, por muitos quilômetros e por toda a direção. Cravaram a enxada na raiz intrusa e este simples ato inicia um terremoto devastador. A cidade é abalada, pessoas perdem suas casas, seus bens, suas vidas. O grupo sobrevivente se reúne em meio ao caos das ruínas para decidir o que fazer…   

 

*Continua no mês que vem*

 

flor dourada

Posted in Artigos, histórias, Sessões and tagged , , , , , , , , , .