Há muito tempo que não escrevo, querido.
Pois bem, é que o tempo me engole. A rotina me sufoca. Época louca essa que a gente vive. Ou será que apenas sobrevivemos?
Eu sei que a sua promessa era de que meu fardo seria leve. Só que na prática não é isso que acontece comigo. Viramos adultos e desaprendemos a leveza da infância. Mais cedo ou mais tarde, em um surto de consciência, nos damos conta de que estamos dentro de uma roda. Não paramos de correr, porém, temos a esperança de que nosso esforço deve ter um ínfimo sentido. Vamos para frente, entretanto, não saímos do lugar.
Quero desacelerar. Essa roda é frenética e quando a gente ousa parar, ou as circunstâncias nos param, sentimos que ficamos para trás. Não é cômico? Como ficar pra trás se a roda continua presa onde está? Já não sei desacelerar.
Então, me dou conta de que a culpa deve mesmo ser minha. Sua promessa continua através dos séculos. Eu é que não sei me entregar. Sou eu quem não sabe confiar. Como posso aprender? Se esse mundo ensina desde cedo que para sobreviver precisamos ficar com os dois pés atrás? Adulto se acha tão esperto, mas são as crianças que sabem viver.
As crianças, como são alegres em sua essência! São como flores quando o solo é adequado! Vivem sem se dar conta do tempo. Correm, hora mais rápido, hora mais devagar que o relógio. A vida é uma grande brincadeira, o agora é só o que importa. O já é imprescindível. Já eu, não dou conta nem de correr ali na esquina, vivo em modo de economia de energia.
E mais uma vez, a ironia aparece. Mesmo economizando energia, vivemos cansados. Sobrecarregados. Encurvados. Desanimados. O peso do passado e o medo do futuro brigam com o PRESENTE. Apenas por breves momentos conseguimos tirar o duro fardo das costas e vislumbrar um pouco do seu leve fardo. Seria ótimo conseguir viver sempre assim.
Querido, parece tudo tão complicado! Às vezes tudo que a gente precisa é apenas de um colo. Um cafuné, um abraço demorado. Um dia inteiro pra si. Um momento de silêncio. Mas, mais que tudo, a sensação de alívio e leveza. Termino essa carta malfeita com a certeza de que precisamos conversar mais vezes, sinto falta dos nossos papos.
Então é isso, até mais!
Da sua imitadora imperfeita.
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Após quase 4 anos sem palavrear por aqui, voltei! A gente se encontra de novo mês que vem! o/