Reflexão retirada do livro O Peso da Glória, que também faz parte da coletânea de devocionais Um Ano com C. S. Lewis.
O livro O Peso da Glória traz um compilado de 9 sermões de Lewis sobre temas variados.
PODERÍAMOS perguntar se, ao se esvair a esperança de acabar com a guerra por meio do pacifismo, haveria alguma outra esperança. Porém, esta pergunta implica um modo de pensar que me parece bastante estranho. Implica assumir que as grandes misérias permanentes da vida humana só seriam curáveis se fôssemos capazes de achar o tratamento adequado. Esse tipo de pensamento se processa então por eliminação e leva à conclusão de que, o que quer que nos reste, por mais improvável que se prove como cura, deve ser levado até o fim. Daí o fanatismo dos marxistas, freudianos, eugenistas, espiritualistas, unitaristas federalistas, vegetarianos e de todo o resto. Porém, eu não tenho garantia alguma de qualquer coisa que possamos fazer pra erradicar o sofrimento. Acho que os melhores resultados são aqueles obtidos por pessoas que trabalham constantemente em silêncio, perseguindo objetivos específicos como a abolição da escravatura, a reforma do sistema carcerário, os atos de protesto nas fábricas, ou o combate à tuberculose; e não por aqueles que se acham capazes de atingir a justiça, a saúde ou a paz universais. Acredito que a arte de viver consiste em tentar impedir, da melhor forma possível, a maldade imediata. Prevenir ou postergar uma guerra particular por meio de alguma política sábia, ou apaziguar um ataque específico pela força ou pela habilidade, ou, menos terrível, por meio da misericórdia para com os conquistados e os civis, é mais útil do que todas as propostas de paz universal já feitas. Da mesma forma que um dentista capaz de acabar com uma dor de dente merece mais reconhecimento da humanidade do que todos os seres humanos que pensam conhecer algum esquema para produzir uma raça perfeitamente saudável.
– de The Weight of Glory [Peso da Glória]