Reflexão retirada do livro Cristianismo Puro e Simples, que também faz parte da coletânea de devocionais Um Ano com C. S. Lewis.
O livro Cristianismo Puro e Simples traz um compilado de preleções realizadas pelo autor através da BBC Radio durante o período da Segunda Guerra Mundial.
NA PASSAGEM em que o Novo Testamento fala que todos devemos trabalhar, ele menciona que um dos motivos para tanto é que “se tenha algo para dar aos necessitados”. A caridade – dar aos pobres – é uma parte essencial da moralidade cristã; na assustadora parábola das ovelhas e dos bodes, esse parece ser o ponto em que tudo se transforma. Certas pessoas dizem que a caridade deveria ser desnecessária e que, em vez de dar aos pobres, deveríamos lutar por uma sociedade em que não houvesse pobres para quem se tivesse que dar coisas. Elas podem até estar certas em dizer que nós precisamos lutar por uma sociedade assim. Mas se uma pessoa acha que nesse meio tempo ela pode parar de dar coisas aos necessitados, então ela se afastou e está bem longe da moralidade cristã. Eu não acredito que seja possível estabelecer o que devemos dar em termos quantitativos. Temo que a única regra segura seja de dar mais do que sobra. Em outras palavras, se as nossas despesas com conforto, luxos e diversão são equivalentes ao padrão comum entre os que ganham o mesmo tanto que nós, provavelmente estamos dando muito pouco. Se as nossas doações não nos causarem aperto ou embaraço, devo dizer que elas são demasiado pequenas. Então deve haver coisas que gostamos de fazer, mas não podemos por causa das nossas despesas com caridade. Estou me referindo agora à “caridade” no sentido comum. Casos particulares de necessidades e aflições vividas pelos seus próprios parentes, amigos, vizinhos ou empregados, que Deus, por assim dizer, nos força a notar, podem exigir mais ainda: até mesmo para debilitar ou pôr cm risco a nossa própria posição. Para muitos de nós o grande obstáculo à caridade não está nos luxos da vida ou no desejo por mais dinheiro, mas no medo – medo da insegurança. Precisamos reconhecê-lo muitas vezes como uma tentação. Diversas vezes é o nosso orgulho que impede a nossa caridade; somos tentados a gastar mais do que deveríamos nas formas exibicionistas de generosidade (dar gorjeta, exercer a hospitalidade), e menos do que deveríamos com aquelas pessoas que realmente precisam da nossa ajuda.
– de Mere Christinity [Cristianismo Puro e Simples]