O pavor da mesmice | Devocional C. S. Lewis

Reflexão retirada do livro Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, que também faz parte da coletânea de devocionais Um Ano com C. S. Lewis.

O livro Cartas de um Diabo a seu Aprendiz apresenta uma série de 30 cartas de um diabo experiente a seu aprendiz que tenta levar um homem britânico (seu paciente) a condenação. Nessas cartas o diabo com maior experiência orienta seu discípulo com as principais artimanhas que um diabo tem para provocar ao homem a tentação que gere pecado.

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O pavor da mesmice

Screwtape revela uma poderosa ferramenta de distração

NA HIPÓTESE de alguém se tornar cristão de verdade, nosso maior desejo é mantê-lo num estado de espírito que eu chamo  de “cristianismo e…” Entende o que quero dizer? Cristianismo e a crise, cristianismo e a nova psicologia, cristianismo e a nova ordem, cristianismo e a nova cura espiritual, cristianismo e a pesquisa psicológica, cristianismo e o vegetarianismo, cristianismo e a reforma gramatical. Se eles insistirem mesmo em serem cristãos, faça com que ao menos o sejam com algum diferencial. Ponha no lugar da fé pura e simples alguma moda com um colorido cristão. Explore ao máximo seu pavor contra a mesmice.

O pavor da mesmice é uma das paixões mais valiosas que já conseguimos implantar no coração humano – uma fonte infinita de heresias no que se relaciona à religião, e uma fonte de insensatez no aconselhamento, de infidelidade no casamento e de inconstância na amizade. Os seres humanos vivem no tempo e experimentam a realidade de forma sucessiva. Para experimentar grande parte dela, eles têm, portanto, eu experimentar muitas coisas diferentes; em outras palavras, eles têm que experimentar a mudança. E como eles necessitam de mudar, o Inimigo (que no fundo é hedonista) fez com que essa mudança se tornasse algo prazeroso para eles, da mesma forma que ele tornou prazeroso comer. Mas como o Inimigo não quer que eles tornem a mudança, mais ainda que o comer, um fim em si mesma, equilibrou o amor pela mudança que há dentro deles com um amor pela permanência. Ele maquinou satisfazer ambos os gostos juntos no mundo que ele criou, pela união de mudança e permanência, a qual chamamos ritmo. Ele lhes dá as estações. Cada uma diferente da outra. Por mais que se perceba a primavera como se fosse uma grande novidade, ela é sempre a repetição de um tema imemorável. Ele lhes dá um calendário espiritual na igreja que vai se alternando entre o jejum e a festa. O fato é que se trata sempre da mesma festa que a anterior.

– de The Screwtape Letters [Cartas de um Diabo a seu Aprendiz]

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