Ainda estou aqui – Marcelo Rubens Paiva | #Terminei

ainda estou aqui Em 2008, li Feliz ano velho, livro no qual Marcelo Rubens Paiva conta sobre o acidente que o deixou tetraplégico. No decorrer daquele livro, Marcelo nos conta, por cima, sobre seu pai que foi sequestrado pelos militares durante a ditadura e nunca mais voltou para casa. Como foi publicado em 1982, ainda durante a ditadura, o autor falou pouco sobre isso.

Em Ainda estou aqui, publicado em 2015, o autor fala basicamente sobre sua família neste livro. Discorre sobre a mãe com Alzheimer, sobre memória, sua infância e principalmente sobre o sumiço do pai em 71 e tudo o que mudou na família – principalmente em sua mãe – desde então.

O autor intercala capítulos onde discute a doença da mãe, mostrando os avanços da perda de memória com capítulos onde narra a história da família, de sua infância feliz crescendo na chácara do avô, até que Janeiro de 71 chega e muito disso é destruído com o sequestro de seu pai. Rubens Paiva foi deputado federal eleito em 1962, que com o Golpe de 64 foi cassado. Quando protegido dentro da Embaixada da Iugoslávia, Rubens Paiva mandou uma carta aos filhos explicando o que estava acontecendo. Um dos trechos me destruiu por alguns instantes. Chorei de soluçar lendo. Nela, Rubens Paiva dizia:

rubens paiva

Aliás, não foram poucos os trechos que me fizeram chorar muito. O livro todo é muito comovente. É muito difícil mensurar os sentimentos de uma família que passou mais de 30 anos sem a confirmação oficial da morte de seu patriarca, que precisou, durante a Ditadura, aguentar as acusações contra alguém que nem estava mais lá para se defender. E é comovente ler este livro também pelo cenário político atual do país. Desde que nossa presidenta foi tirada ilegalmente do poder, os pedidos por uma nova Ditadura Militar diminuíram muito, mas os anos de 2015 e começo de 2016 foram assustadores neste sentido. Era comum ver isso nas manifestações dos amarelinhos. Este livro serve, portanto, também como uma lembrança, uma explicação sobre o que uma ditadura realmente faz. E nunca é bonito ou gentil.

Possivelmente foi o último livro que li em 2016 e fechou um ano de pouca literatura com chave de ouro. Fica a indicação fortíssima para vocês. E feliz 2017.

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