Única e plural

Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco. É necessário que eu as conduza também. Elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.

– João 10, 162016-01-27_56a8ad75e0069_venuses-670x447

Essa semana tive a infelicidade de ser marcado num texto, desses textões de Facebook, que ninguém lê, mas sai compartilhando por achar o título provocativo… Alias, nem titulo tinha o texto… Enfim, foda-se, quem se importa.

O texto era de autoria de um cara que eu já tinha ouvido falar, (nesse role dos crentes marginais, todo mundo meio que se conhece, pq é amigo do amigo, e mais dia ou menos dia, acaba se encontrando) a tempos atrás, num role de uma desocupação forçada pela PM… Enfim, novamente…

A questão é que esse texto tinha muitas acusações quanto a autenticidade do cristianismo dos cristãos progressistas, e é aqui que temos um grande ponto a ser debatido

O Cristianismo é uma religião com uma característica muito marcantes. Diferente de outras tantas religiões, a fé dos seguidores do nazareno se manifesta em dois aspectos, um METAFÍSICO e outro SOCIAL e é claro que nem preciso dizer que essa é a minha mais modesta e descompromissada opinião… A qualquer momento um teólogo pode vir aqui e refutar tudo do que eu estou falando.

De modo geral, por conta da eclesiologia latino-americana, acabamos por apartar essas duas perspectivas de modo que se faz possível, para alguns teóricos da fé, termos como manifestar uma sem manifestar outra. Para mim, isso é impossível, pois a conversão (que não é um ato, mas um processo) poderia ser traduzido como uma coreografia entre essas duas esferas da fé cristã. Não é o caso que o metafisico seja causa do social ou vice-versa. Não se estabelece, na minha leitura, um necessário ponto de partida na vida cristã que não seja uma experiencia com o divino (que é em si mesma metafisica, mas é OUTRA coisa). Nos convertemos ao longo da vida, e pouco a pouco o antigo homem deformado vai se realinhando com a imagem e semelhança de Deus manifesta na encarnação de Cristo, a maior expressão pedagógica de Deus ao homem e nessa caminhada, continuamos errando e acertando, aprendendo e vacilando… É nossa natureza pecaminosa em ação direta e oposta à a Deus, como sempre foi e como sempre será.

Óbvio que existem fundamentos no cristianismo que não podem ser negociados ou negados, pois são, como disse, FUNDAMENTOS, os quais caracterizam o cristianismo como tal. Na intersecção entre os infinitos grupos cristãos espalhados ao longo desses últimos 2016 anos estão esses valores fundamentais e nos caracteriza como cristãos, fora destes está tudo que nos da identidade. Ainda que nossa identidade se forte e tenha características as vezes completamente distintas das dos demais grupos, desde que essas não neguem as que estão na intersecção, continuamos fazendo parte de um todo gigantesco, que eu tenho por hábito chamar de Igreja (com I maiúsculo), aquele TODO agrupado por Cristo, que não se limita a fronteiras espaciais ou temporais. São da Igreja todos aqueles que se converteram e se encontram naquela coreografia entre o MÍSTICO e o MATERIAL, entre trancos e barrancos, confiando em Deus, se espelhando em Cristo com iluminados pelo Espírito Santo e sendo suporte e suportado pela comunidade.

O problema todo está quando, algum grupo desses resolve trazer para dentro da intersecção valores que caracterizam sua própria identidade e fatalmente, empurrando algum outro grupo para fora da intersecção, por causa de sua arrogância, acaba por expulsar da esfera dos CRISTÃOS algum outro grupo.

Óbvio que eu gostaria que todas as coisa que eu gosto e prego fossem definidos como características necessárias do Cristianismo, essa seria a mais confortável situação da minha vida, mas você lembra lá do finalzinho do 5o. paragrafo desse texto?

e nessa caminhada, continuamos errando e acertando, aprendendo e vacilando… É nossa natureza pecaminosa em ação direta e oposta à a Deus, como sempre foi e como sempre será.

Claro que seria mais fácil sair por ai pregando que Jesus era anarquista e que ensinava a tomar o que queremos a força dos mais ricos. Claro que seria mais fácil reduzir o evangelho de Cristo à minha ideologia pessoal. Claro que seria melhor que fosse assim, pois no meu subconsciente, eu estaria seguro num trono de PLENO CRISTÃO, claro que seria ótimo pra mim, pro meu EGO, só que infelizmente, meu EGO não é o foco dessa religião, alias, pelo que tenho estudado, é justamente o oposto, é colocar nosso EGO de lado e nos colocar num lugar de minimo conforto, para que nunca paremos de caminha na direção de recuperarmos a semelhança do Deus trino.

E não pense que eu escrevo esse texto para julgar quem se opõem à minha maneira de pensar, escrevo isso para conservadores e progressistas, para a esquerda e a direita, para todos que de uma maneira ou de outra, acreditam que a primeira e fundamental ideologia de sua vida é o CRISTO ENCARNADO e que todo o resto é consequência da transformação oriunda da experiencia que teve com ele.

A nossa Ecclesia semper reformanda est não está sempre mudando, apesar de nunca ser a mesma, assim como está sempre plural, apesar de ser unica… Ela está sempre se reformando, sempre voltando aos seus fundamentos e compreendendo-os a luz da vontade de Deus, mas sem ignorar o momento histórico em que está inserida, buscando responder ao mundo todas as perguntas com a mesma resposta, a saber, CRISTO, mas tendo a capacidade de se fazer entender pelo mundo sem negociar seus valores fundamentais, se fazendo o vetor que aponta para o reino assim como a ponte de acesso à verdade nessa sincronia mistico-material, metafisica e social, e sobre tudo, percebendo as diferenças periféricas, respeitando-as e lutando JUNTOS pelo avanço da igreja ÚNICA de Cristo.

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