Tivemos uma semana de hiato, mas hoje voltamos para falar da faixa 07 do CD “Sonho Médio”. A música chama-se “Por Paz”, do Dead Fish.
Foi difícil acordar e tirar a mente da estagnação.
Perplexidade, medo, apatia e falta de ação.
Sonhei com uma estrada
que levava ao nada,
e havia uma placa que dizia pra enfrentar os egos ( pessoas)
como ele(a)s são.
Pedir por justiça,
se fazer entender.
Pois a vaidade e a arrogância dos que tem (poder) passa a ser
combustível pra lutar.
Peço paz!!
Isso não é demais!!
Por um minuto, eternamente e nada mais.
Era tão sinuosa
que quase desisti.
Mas em cada curva encontrava em que acreditar.
Uma simples palavra
me fez cair.
Mas a escuridão me fez cegamente caminhar e continuar tentando.
Peço paz!!
Lutar por paz!!
Por um minuto e eternamente e nada mais.
Se tanto faz
te peço paz.
Paz.
Paz
(ad infinitum)
Acho que essa é uma das músicas menos tocadas pela banda nos shows (ao menos eu não lembro de ouvi-la em nenhum dos shows que fui).
Enxergo esta letra como a mais sutil e simples do CD. Acredito que a sutileza venha com o uso da metáfora da estrada (cRássica!) logo no início da música, o que a torna mais digerível para ouvintes menos acostumados com as temáticas da banda. A analogia da “estrada” é bem comum em músicas, contos e filmes e o tema “paz” é bem comum e praticamente uma unanimidade para todos.
Embora o tema seja a “Paz”, a música não a apresenta como aquela coisa distante, higienizada, tema de pergunta do Miss Universo e que a ONU conquistará. A “Paz” que a letra nos mostra vem de uma busca diária e de uma LUTA (destaque pra essa palavra). É interessante perceber que o pedido e a busca por paz vem através daqueles que estão subjugados e sendo amassados, que em vez de optar por um caos completo para equilibrar (e não reverter) essa situação, percebem que lutar contar o marasmo, a apatia e o medo são pontos de partida em busca da paz almejada.
Gosto das pequenas expressões da letra que tornam ela diferente da maioria das músicas que falam sobre o tema. O autor mostra que vencer o comodismo e principalmente “se fazer entender” são um combustível nesta busca. Uma coisa que me incomoda muito em movimentos sociais e no pessoal engajado em busca de igualdade social é a forma como agem e discursam em prol de suas bandeiras. Um discurso completamente acadêmico, recheado de citações e alegorias que acabam afastando outras pessoas que no fundo compreendem o mundo assim como eles, mas não compreendem o que eles dizem. Outra vítima dessa falta de “se fazer entender” é aquele que realmente sofre de forma latente o ônus da desigualdade social e a falta de “paz”. É necessário vencer o discurso, a vaidade e realmente comunicar de uma forma que mostre da forma mais clara possível, buscando o que é justo de forma direta para beneficiar aquele que precisa, independente das vaidades individuais. A música exemplifica isso na sua última estrofe, comunicando com aqueles que se colocam na ~”coluna do meio”~ e tentam-se manter neutros (embora esta neutralidade, de fato não exista): “Se tanto faz, te peço paz. Paz.”
*vale lembrar que o Músicas do Mundo Que Me Edificam traz a opinião/visão do colunista a música e não necessariamente é a mesma do autor/artista criador da música.