Ficha técnica
Diretor: Asif Kapadia
Produção: Focus Features e Universal Music France
Duração: 2h7min.
***
Sábado à noite assisti ao documentário sobre a vida da Amy Winehouse. Desde que saiu no Netflix eu estava ansiosa para assisti-lo, ao mesmo tempo que temerosa. Ansiosa porque eu sou fã da Amy, porque a voz dela me marcou e porque ela é inesquecível. Temerosa porque eu sabia que a dor dela me marcaria com a mesma intensidade que a sua voz. E eu estava certa.
Ao terminar de assistir, eu estava devastada pela dor e negligência que Amy sofreu.
Voltando ao começo do documentário, vemos uma adolescente que aos poucos vai alcançando um espaço dentro da cena musical de Londres. Apesar da timidez e insegurança disfarçadas por trás da porra-louquice, vemos uma guria com uma alma profunda, que durante toda sua vida foi negligenciada: pela mãe, pelo pai, pelo marido.
No documentário, vemos a menina frágil que se destruiu através da bulimia, álcool, drogas e relacionamentos abusivos. Isso era também tudo o que a mídia explorava. O que a mídia sempre esqueceu de dizer era o papel que ela própria desempenhava nas crises da Amy. Em muitas cenas do documentário, vemos Amy encurralada, com diversos urubus travestidos de jornalistas a cercando, querendo tirar um bom pedaço dela para expor ainda “a drogada que faz sucesso”.
Uma coisa que ficou latente pra mim ao longo de todo o documentário era como as relações dos pais (principalmente do pai) e do Blake com a Amy eram totalmente parasitárias em relação a ela. Enquanto o pai magicamente se torna presente na vida dela depois do sucesso, e passa a explorar a fama e dinheiro da filha, o ex-namorado volta quando ela alcança o sucesso mundial, perdidamente apaixonado.
O pai dela sabia que ela o venerava, que ela precisava da aprovação dele pra tudo. Sabendo disso, a faz crer que ela não precisava ser internada para tratar o alcoolismo (ela ainda não usava drogas pesadas nesta época). Além disso, explorava a imagem da filha, expondo-a diante das câmeras, obrigado-a a fazer shows quando claramente era de tudo isso que ela precisava distância para se tratar. Blake, cara que a destrói quando rompe o namoro com ela, volta quando Amy é reconhecida mundialmente e a apresenta drogas pesadas, e tem um esforço constante para mantê-la viciada em drogas e presa no relacionamento abusivo que ele mantinha com ela, para assim poder continuar usufruindo das drogas bancadas por Amy, além de todo o resto da vida.
Algumas pessoas reclamaram à época que saiu o documentário que o pai da Amy fora retratado como vilão. Infelizmente, Amy teve mais de um vilão em sua vida.
Um mês atrás, uma amiga que já tinha visto o documentário fez um texto sobre o mesmo. Nele, ela dizia “A relação abusiva de Amy e Blake fez com que Amy acreditasse que o amor é um jogo perdido. E ela provavelmente morreu pensando dessa forma. Eu sinto tanto que Amy, assim como várias outras pessoas, pensem que o amor é sobre sofrimento. Sinto que ela não tenha vivido mais para descobrir que ninguém precisa se autodestruir por uma relação amorosa. Sinto muito que muitas pessoas passem por diversos transtornos devido à relações abusivas onde certamente o amor não existe.” Aline Isabel Waszak
E eu concordo com todas as palavras da Aline. Assistindo o documentário eu só conseguia pensar que eu queria ajudá-la. E pensava nas amigas, que se viam incapacitadas de fazer algo porque o pai e o marido tinham Amy tão presa em suas mãos que outras influências morreram na vida da cantora. E a cada nova cena triste, eu me doía por dentro por saber que ela morreria sem ajuda. Que ela morreria por conta de todos estes problemas, provavelmente pensando que o amor e a vida são um jogo perdido.