Com o advento da globalização – na época que eu estava na 7ª série e era legal usar essa palavra – o “sonho americano” chegou ao conhecimento e aos corações do povo brasileiro. Deixou de ser apenas um doce que se compra na panificadora (ou no carro que passa na frente da sua casa) e tornou-se algo palpável.
Mas Não foram apenas nos filmes, na MTV ou em revistas descoladas, que esse “estilo/objetivo” de vida passou a ser vendido e pregado. Muitas igrejas – em sua maioria de linha neo-pentecostal – começaram a pipocar em várias esquinas e pontos comerciais, do Iapoque ao Chuí (sempre quis usar essa expressão globoreporterística). Caminhando paralelamente (mas na verdade junto e misturado) ao “sonho médio” – versão brasileira do “american dream” – essas novas igrejas que surgiram, apresentaram um teologia baseada na prosperidade.
O cristão, agora fiel destas denominações, tinha como principal objetivo “A CONQUISTAAAAA” de bens materiais, altos ganhos financeiros, ser bem visto na high society cristã lavada no sangue do cordeiro e comer do bom e do melhor que essa terra pode dar. Resumindo: era o sonho médio de todo o ~cidadão brasileiro de bem~, com floreios e adjetivos do mundo gospel.
Mas, ao contrário da febre das pulseiras de equilíbrio, esta moda não passou. Infelizmente, essa ~teologia~ do egoísmo e do proprioumbiguismo ainda está viva e com novos adicionais. Através das redes sociais, o cristão vitorioso e próspero pode demonstrar ao mundo como ele é tão bom e santão, que Deus lhe deu o último modelo de iPhone, juntamente com um carro zero! Logicamente, isso não se aplica a você, seu pecador.
Os mais recentes ~ventos de prosperidade~ impulsionaram os New Civics do cidadão de bem, patriota, cristão que ora pelo Brasil (e que não é como esses comunistas, vagabundos, ateus, black blocks dos direitos humanos), que agora brada a plenos pulmões pelo seu direito (acima de tudo e todos) de poder comprar o último eletrônico da moda, conquistar o tablet que seu filho de dois anos ~tanto precisa~ e sustentar o ministério abençoado do pastor da tv através da compra de uma bíblia de R$900 (NOVECENTOS REAIS).
Vocês está se perguntando: achei que essa fosse a seção Músicas do Mundo que Me Edificam. Fui enganado?
A resposta é: não.
Jovem… este que vos escreve, achou que uma introdução que contextualiza-se a letra com esse ponto de vista para a Teologia da Prosperidade seria interessante. Mas, vamos ao que viemos.
A música escolhida é “Sonho Médio”, do álbum de mesmo nome, lançado em 1999 pela banda capixaba Dead Fish.
A letra traz – de uma forma IRÔNICA – os objetivos e anseios do cidadão de classe média no Brasil. Me dou a liberdade, de neste post específico, exercitar a troca de algumas expressões por outras, para contextualizar com a proposta que trago.
São apenas duas substituições:
– troquemos a expressão “sonho médio” por “Teologia da Propseridade”;
– troquemos também “Roberto Campos” por “Silas Malafaia” ou qualquer outro ícone da Teologia da Prosperidade.
Aproveite a música e sua letra:
Dead Fish
Sonho Médio
Amanheceu mais uma vez
é hora de acordar para vencer
e ter o que falar
Alguém para mandar
uma vida pra ordenar
poder acumular e ai então viver
viver e prosperar, mais nada a pensar
me myself and i, e assim permanecer
Credicard e status quo
é tudo que penso ser, ilusão é questionar
O sonho médio vai, vai te conquistar
e todo dia iremos juntos ao shopping pra gastar
Ter e ser pra acreditar, princípio meio e fim
a hipocrisia vai vencer, vou sorrir para você
será uma festa em meio a caos e as pessoas feias pagarão
Pois somos os eleitos, pelo menos achamos ser
nossa raça é superior, pois vou fingir ser daquela cor
Roberto Campos é o nosso guru
e para sempre seremos liberais
Pra trabalhar, pra viver!
Não me importa se meus filhos não terão educação
eles tem é que ter dinheiro e visual
O sonho médio vai, vai te conquistar
mentalidade de plástico e uma imagem a zelar
*Foto do post por: Felipe Gonzalez