O cristianismo, entre católicos e protestantes, é, sem duvida nenhuma a religião de maior expressividade no Brasil desde muito tempo, e é de dentro dessa realidade que surjo,, como cristão e brasileiro, o melhor dizendo, brasileiro-cristão. Mesmo não tendo um histórico familiar com uma influencia eclesiástica tão forte, desde muito novo aprendi a respeitar a fé, a rezar, a não pecar, a não falar palavrão, a não, não, não e não de maneira que meu caráter foi, sem sombra de duvidas, moldado por esses tantos NÃOs que me foram apresentados. Havia um tal de Jesus Cristo, homem-símbolo, crucificado numa cruz, que estava lá na frente, logo atrás do padre que falava por horas e horas (na cabeça de um menino, o tempo passa bem vagarosamente, quando se está imerso num oceano de monotonia) sem mudar o tom de voz e nem olhar para nós, os ouvintes daquele martírio de purificação, pois após a missa e todo o tempo em que a estátua desse Jesus ficava me encarando, eu poderia voltar a viver minha vida de menino sem maiores preocupações.
Mas há uma prisão perpétua e sem misericórdia que reúne a todos, homens e mulheres sem jamais permitir que possamos escapar, o tempo que passa, e assim como para todos, o tempo, pra mim, passou.
E com o tempo, comecei a compreender que aquele homem pendurado na cruz tinha mais a dizer do que simplesmente as repetições de orações da minha avó ou o monotonal discurso do padre. havia também, uma proposta de transformação. Como, uma estátua de um mendigo pregado pelas mãos e pelos pés poderia ter algo de realmente relevante para acrescentar na minha vida? bem, essa pergunta, nesses termos, nunca foi feita, mas nunca foi necessário, pois ainda hoje, adaptada para outra realidade ela soa na minha cabeça, como um sino que de tempos em tempos sofre um golpe violento e não me permite pensar em mais nada que não seja, os olhos daquela estátua, olhando pra mim.
enquanto pude, fugi, me desviei, esquivei-me a todo custo para não acabar tendo que encara-lo também, para não ter que olhar nos olhos da estátua e perguntar num grito:
O que é que você quer de mim, sou só um garoto, não posso fazer nada!
Só um garoto e aquela estátua insinuava que a culpa de tudo de ruim do mundo era minha, não por ação, pois um homem só não destrói o mundo, mas por omissão, pois, eu ainda não havia feito nada para solucionar o problema. E mesmo correndo dele como o diabo foge da cruz (com o perdão do trocadilho) aquele homem com as mãos pregadas na cruz, conseguiu me agarrar, conseguiu me prender, e quando eu esperava um golpe pelas costas dado em virtude da punição por ser omisso diante do mal no mundo, ele apenas me abraçou, me amou, me converteu. Eu já não era mais um filho do diabo fugindo da cruz, eu era, agora, um filho de Deus preso na cruz, na minha própria cruz, braços e pernas atadas a e, cruz de espinhos na cabeça… Não era a cruz que o cristo carregou que me prendiam as mãos e pernas, mas minhas mãos e meus pés estavam presos a tudo aquilo que ele ama, ao serviço, ao amor, pois não podia mais fugir de estar diante dEle fazendo tudo que ele pediu, não por medo, mas por entender que a solução esta na minha mão… Não uma coroa de espinhos como a que ele ostentou, mas espinhos que rasgam minha consciência, ao saber que ainda tem muito para ser feito, e pouco tempo para realizar.
Não há o que fazer, não tenho mais pra onde correr pois não sou mais um garoto. O seu amor me alcançou e com ele a responsabilidade de anunciar o reino, até que venha e estabeleça-o, para sempre
AMEM