A primeira vez que li este livro de Zélia Gattai eu tinha por volta de 15 ou 16 anos, por recomendação de minha mãe. Amei a leitura pela primeira vez, e dias atrás me vi querendo lê-lo de novo.
O livro conta a história da família de Zélia Gattai, filha de imigrantes italianos que viveram em São Paulo no começo do século XX. A família materna, os Dal Col, eram italianos católicos da região do Vêneto, enquanto a família paterna de Zélia, os Gattai, eram anarquistas da região da Florença.
No livro, Zélia conta as memórias de sua infância como 5ª filha deste casal de italianos instalados em São Paulo. A escrita é simples e envolvente, a ponto de em muitos momentos nós nos emocionarmos com a família, acreditarmos em seus ideais e desejar lutar as suas lutas.
Vivemos com Zélia as agitadas reuniões anarquistas, o surgimento do automobilismo em São Paulo, os grandes enterros que seguiam por sua rua para não sujar ou estragar a importante Avenida Paulista, suas idas à quermesses da igreja pelos doces, brincadeiras e prendas, assim como todo o turbilhão que agitou São Paulo durante a Revolta Paulista de 1924.
Embora seja um livro de memórias e não uma ficção, Anarquistas graças a Deus me lembra em muito outro livro que amo, o Éramos seis. Ambos os livros relatam um período em que a vida era sofrida, vivida a cada dia e a cada luta e vitória, mas onde a vida parece ter sido vivida de maneira muito mais intensa e simples que a nossa vida hoje em dia. Por vezes, imaginava que Dona Lola e Dona Angelina poderiam ter sido amigas, pois muitas das lutas foram as mesmas para ambas.
Em diversos momentos, me vi rindo e chorando com as personagens, e este é o tipo de livro que vale a pena ser lido. Não só por mexer diretamente com nossas emoções, mas também por nos fazer questionar o tipo de vida que levamos hoje em dia, onde quase não se há tempo para a família, para se cuidar dos filhos, visitar os amigos. O livro me levou a um tipo de reflexão que eu sempre gosto de fazer, e acho extremamente necessária nesta vida agitada e corrida que levamos.
Obrigada por suas lembranças, Zélia.