#PostDoLeitor – Filmassos – Planeta dos Macacos: O Confronto por Marcelo Lazaroni

No final do ano passado saiu nos cinemas o filme Planeta dos Macacos – O confronto, um filme legal cuja capa dá a idéia de uma história em tanto diferente. Mas sem entrar nesse mérito, o filme traz uma porção de temas interessantes para fazer o espectador pensar: subjugação, insurgência, os perigos do poder bélico, identidade comunitária, racismo, relacionamento de grupos isolados etc. Um desses temas pode ser especialmente relacionado a uma triste realidade brasileira que infelizmente tem grande representação no meio evangélico. Mas primeiro, vamos a um breve resumo do filme. (spoilers à frente)

Uma comunidade de macacos vive na floresta e é liderada por um macaco chamado César. Eles não são muito fãs de humanos e dão muita importância à comunidade, sendo seu lema central “macaco não mata macaco”. Um grupo de humanos começa a se relacionar com a comunidade de macacos e Koba, o braço direito de César, não gosta nada disso, o trai e tenta matá-lo na encolha. Com César fora da jogada, Koba assume o comando da comunidade, os transforma em um exército e ataca a central humana em nome de César. No final César volta, luta com Koba e no momento áureo do confronto segura Koba pela mão na beirada de um precipício no maior estilo Scar e Mufasa. Koba, se vendo à beira da morte, lembra a César de seu lema, “macaco não mata macaco”. César olha pra Koba e diz “você não é um macaco”, então o solta para sua morte.

Esse momento do filme é excelente e mostra uma falácia que acontece nos mais variados meios. Naquele momento o César redefiniu o que significa ser um macaco. Agora ser um macaco não é simplesmente nascer da espécie macaco, pra ser um macaco você tem que cumprir certas regras, certos requisitos. Assim ele pode manter o lema bonito e nobre que diz que “macaco não mata macaco” e ainda assim matar outros da sua espécie, afinal de contas eles não eram “macacos de verdade”. No filme o Koba é mau e o César é bonzinho então você não sente pena dele e acha que o César é que está certo. Mas ele está realmente sendo coerente com o que ele está dizendo?

A gente vê isso em vários lugares. Na revolução Francesa quando falavam de liberdade igualdade e fraternidade para todos, esse “todos” incluía todo mundo mesmo ou só quem eles não queriam decapitar? A frase da declaração de independência dos Estados Unidos que ficou famosa com o filme do Will Smith e diz que os direitos à vida, à liberdade e à busca pela felicidade são inalienáveis aos seres humanos, se referem a todos os seres humanos mesmo ou só aos que cumprem certos requisitos? Será que o pessoal do Iraque ou da Palestina também está incluído nesses seres humanos? Ou será que aí a definição de ser humano é diferente pra que eles possam manter o lema e ainda assim fazer o que quiserem?

Agora, Jesus disse que a gente tem que amar ao próximo como ele nos amou, ao ponto de dar a sua vida por nós; disse que a gente tem que perdoar uma cacetada de vezes; disse que a gente ia ser reconhecido pelo nosso amor com os outros e disse que o nosso próximo é até aquele que a gente odeia (vide o Samaritano ajudando o Judeu na parábola). Como pode de um pessoal assim ter gente a favor de linchamento? A favor de amarrar gente no poste e espancar? A favor de pena de morte? E o perdão, e o amor, foram pra onde?

Sabe como isso? Assim ó: “Ah mas viu o que aquele cara fez?” “Quero ver se fosse com a tua filha” “Eu sou crente mas não sou otário” “Aquilo não é uma pessoa, é um bicho”. A gente faz a mesma coisa que todos os outros, redefine o que significa próximo, o que significa “ser humano”, o que significa “todo mundo” pra ser aquilo que a gente quiser, assim os lemas lindos e nobres e as palavras do Cristo podem ficar e a gente pode se sentir bem independente do que fizermos. “Aquele cara não é meu próximo, então o que eu tenho que fazer ao próximo não se aplica a ele.”

“Ah mas se o César não matasse o Koba talvez ele tivesse mais problemas mais à frente.” É, talvez o objetivo do evangelho não seja alcançarmos conforto. Talvez quando Jesus falou sobre dar a vida pelo outro ele estivesse falando mais sério do que a gente imagina.

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