Quero mudar de Igreja

Igreja-São-Vicente-Mossoró

Eu recebi uma pergunta na rede social Ask.fm onde uma pessoa anônima me pergunta se é o caso de ele mudar de denominação por discordar de certas coisas dentro dela. Muita gente me procura com essa dúvida, então vou publicar minha resposta aqui no crentassos e espero que possa ajudar a outros nesta situação.

“Sou assembleiano, ultimamente as coisas tem sido bem difíceis; após ter estudado mais a fundo as Escrituras, vejo o “tantao” de coisas erradas em minha congregação: legalismo, pregações sobre bênçãos, vitória, milagres, etc… Nada do simples evangelho de Cristo. Devo mudar de denominação?”

Essa é uma pergunta muito difícil. Essa é uma decisão difícil de se tomar. Melhor tomar com muita oração e meditação, apesar de que o que você está dizendo que acontece por lásão coisas muito graves, mas, ainda assim, é bom você avaliar com cuidado e ver se o problema é local ou é geral e só então tomar uma decisão.

O que posso fazer é tentar te fazer pensar um pouco a respeito sobre essa situação, que muita gente tem enfrentado, e assim dar algumas variáveis para se tomar uma decisão, mas essa decisão deve ser confiada ao Senhor em oração, para que Ele possa ajudar a enxergar as variáveis com clareza e a decisão ser a mais acertada. Pensa comigo.

Toda igreja que você for terá problemas, umas terão problemas doutrinários, outras de relacionamento, hoje há tantas opções de doutrinas que você provavelmente já deve ter feito uma mistura de várias doutrinas que a você parecem ser coerentes ou bíblicas e vai se sentir incomodado por comungar num lugar com doutrinas diferentes das que você tem misturadas na cabeça. Todos nós fazemos isso hoje em dia. Eu também faço. São tantas opções doutrinárias que nos oferecem na internet, na TV, nas conversas com amigos cristãos que essa confusão é super natural. Hoje muita gente está confusa também. Infelizmente na nossa mente priorizamos a nossa vontade na hora de interpretar a Palavra de Deus, não usamos a hermenêutica correta de que a Bíblia se interpreta com a própria Bíblia (claro que na falta de clareza buscamos entender o contexto histórico da época também) e fazemos aquele exame apurado e comparativo para definir nossas questões teológicas e eclesiásticas, mas colocamos a nossa vontade como autoridade na hora de interpretar a Bíblia e criamos muita confusão.

Ou seja, você nunca vai achar uma igreja que se enquadre dentro da “teologia sistemática” que você montou na sua cabeça. Desista. Você nunca vai encontrar isso. Então você precisa avaliar suas prioridades doutrinárias. Os primeiros cristãos fizeram isso e transformaram essas avaliações em credos. Esses credos são tidos como absolutos e fundamentais por toda a cristandade até hoje, sejam católicos, ortodoxos ou protestantes (confira este link aqui para entender o porque disso). Na reforma houve também vários debates para avaliar o que manter como principal e o que deixar como livre, nisso não deixaram os credos principais do cristianismo, os mais antigos, de lado, reafirmaram a concordância com esses credos antigos, afinal, não estavam formando uma nova religião, apenas queriam que as igrejas ocidental e oriental revissem aquilo que tinham mudado que fosse contra as Escrituras, mas nessa reforma muita coisa coisa aconteceu e cada região acabou tendo prioridades diferentes para reformar e trabalharam as diferenças doutrinárias que acabaram surgindo neste clima de Reforma que aconteceu no século 16. Esses trabalhos para afirmar suas posições diante das questões levantadas na época foram chamados de “Confissões de Fé”, “Catecismos” e outras decisões foram tomadas para avaliar o que era importante em sínodos e concílios também. Até hoje as Igrejas protestantes têm seus sínodos e concílios para avaliar sua fé em relação a questões atuais, como homossexualidade, divórcio, etc.

Em certos pontos e tendências sazonais, a aplicação da Lei de Deus acaba sendo inevitável. Todos devemos ser legalistas em alguns pontos, aonde o Evangelho não se aplica, como no caso da injustiça social, aonde não devemos passar a mão na cabeça dos opressores, mas lutar contra a opressão lembrando das leis de Deus sobre amar o próximo como a si mesmo, ou seja, damos ênfase na Lei em certas questões aonde o Evangelho não se aplica, afinal, o Evangelho não veio trazer novas leis, o Evangelho é apenas o anúncio do peredão dos pecados e da salvação em Cristo Jesus, não novas regras para seguirmos; antes devemos seguir as antigas da Lei Moral de Deus (10 mandamentos) mesmo em questões seculares, pois nossa fé deve triunfar sobre o mundo, sem porém forçar as pessoas a seguirem nossos valores e nossa fé, mas nós devemos seguir mesmo na contramão do sistema e do mundo, mesmo que isso nos custe a vida, assim amamos a Deus acima de todas coisas, sem forçar nosso Deus para ninguém, amando e respeito o próximo como a nós mesmos, como também determina esta mesma Lei.

O problema acontece quando atribuímos a salvação a seguir esses pontos legalistas nossos, quando dizemos que nossos costumes e culturas são obrigatórios aos cristãos para justificar a fé das pessoas, pois a salvação não é por obras.

A Assembléia de Deus também teve suas discussões para definir seu posicionamento doutrinário e tem até hoje para revisar ou manter suas posições. Infelizmente, não só na Assembléia, mas na maioria das igrejas evangélicas históricas, que têm seus pontos doutrinários claramente definidos em confissões, catecismos, declarações doutrinárias, estatutos e regimentos internos, as pessoas, incluindo aí os pastores e líderes locais, não conhecem sua base doutrinária, por isso há muitas invenções e imaginações doutrinárias, além de até mesmo heresias explícitas, em igrejas locais, que acabam se espalhando como vírus por outras igrejas locais e podem até descaracterizar a denominação. Eu cito como exemplo a Igreja aonde comecei minha caminhada cristã. Eu nem sempre fui luterano, nasci em lar pentecostal e comecei minha vida cristã realmente na Igreja Quadrangular. Eles têm uma declaração de fé que hoje não é mais seguida em quase lugar algum. Eles seguem cegamente seus pastores locais, lideranças regionais e a liderança nacional, e esta última não segue mais em absolutamente nada a declaração de fé da Igreja Quadrangular. Esta denominação tem se descaracterizado e muitas igrejas locais e até mesmo a sede nacional se transformaram em verdadeiras seitas neopentecostais e estão totalmente longe do Evangelho. Aqueles que internamente se levantam contra isso são perseguidos ferozmente por seus companheiros de denominação. Posso estar enganado, mas vejo a Assembléia de Deus no Brasil indo pelo mesmo caminho..

Enfim, você nunca vai concordar com tudo de uma denominação. Mas você pode reavaliar suas prioridades doutrinárias e da vida cristã e avaliar o que é prioridade para a denominação. Se der para casar as prioridades e você caminhar em comunhão com seus irmãos de sua denominação, então você deve engolir os sapos que o relacionamento humano exige, ser tolerante com as diferenças, acatar os pontos que você não concordar (isso não quer dizer concordar. Você não precisa concordar, e você pode até pedir a revisão destes pontos, ou deixar claro que não concorda, por achar um tema de menor importância para a fé em geral, mas você deve respeitar e aceitar que os outros pensem daquela forma, mesmo você pensando diferente, pois você entende que a decisão da denominação em defender tal ponto que você discordar é uma decisão visando a comunhão e isso não é fundamental à fé, então você respeita. Por exemplo, se pode dançar ou não no culto, se pastor deve usar terno obrigatoriamente, se crêem na existência ou não do Livre Arbítrio, essas coisas).

Se for impossível fazer isso com sua denominação, se você perceber que as diferenças são muito maiores que a possibilidade de comunhão, então é melhor você avaliar se o problema é local ou é geral. Se for só sua igreja local, mas a denominação em si tem uma base doutrinária que você consegue comungar, então é o caso de você sair de sua igreja local, mas procurar outra da mesma denominação. Se for uma incompatibilidade com a base doutrinária, ou práticas gerais da denominação, aí sim é melhor você procurar outra para congregar. Sempre lembrando do que diz a Bíblia:

Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia.
Hebreus 10:25

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