Em oposição à mentira dos dízimos e das ofertas

Somos uma realidade envolta em valores que nos são apresentados historicamente como verdades absolutas e assim poucas vezes nos questionamos sobre a veracidade ou mesmo sobre a lógica desses valores. Poderíamos pensar em uma série de conceitos para debater aqui, mas de todo as eles, talvez um dos mais gritantes na realidade das igrejas evangélicas do Brasil e do mundo hoje em dia, com toda a certeza, é o dinheiro.

 ganancia

Há quem sustente a hipótese de que Jesus fala mais em dinheiro do que sobre o céu nos evangelhos, e por isso, o dinheiro é um assunto que merece atenção especial por tratar-se de uma “questão espiritual”. Convenhamos, a pessoa que prega dessa forma, tem um objetivo, em colocar um peso espiritual no dinheiro diferente de outros assuntos, pois o dinheiro é um assunto espiritual tal qual o sexo, a profissão que escolhemos, o emprego em que atuamos, a maneira como nos portamos no trânsito, posicionamento político, a maneira de separarmos nosso lixo, etc, e dar um valor especial ao dinheiro na minha modesta opinião, é CAUSA ou CONSEQUENCIA desse destaque que lhe é dado. Causa, se tivermos o foco em que, pelo valor atribuído ao dinheiro é necessário que coloquemos um valor especial ao assunto a fim de esclarecer nosso posicionamento diante do dinheiro, ou conseqüência, se, por darmos tanto valor a este assunto, tenhamos nosso objetivo primeiro, em ressaltarmos sua suposta importância ou, ainda pior, lucrar com nosso discurso.

O dinheiro não é neutro em nossas vidas, como cita, Ed Rene, em sua pregação sobre a ganância na série sobre os 7 pecados capitais:

Neutro é copinho de plástico, pois se vc for uma pessoa civilizada e passar por um copinho de plástico jogado no chão, irá jogá-lo no lixo, se não for civilizado, irá deixá-lo onde está, ignorando-o, contudo, se vc for civilizado, não civilizado, equilibrado ou desequilibrado, se passar por uma nota de cinquenta reais, caída no chão, irá pega-la e colocá-la no bolso”

As pessoas matam, traem, quebram alianças, rompem relacionamentos, se permitem ser humilhadas e outras tantas coisas, por causa de dinheiro, fingem que gostam de outras, bajulam e tratam com honras pessoas as quais não suportam, apenas para ganhar dinheiro

Atrizes e atores pornográficos se submetem a todo tipo de exploração e humilhação, se expõem a riscos de contraírem doenças físicas e psicológicas, vivem a base de remédios para dor ou para manter uma performance desumana, para atender uma indústria satânica que gera expectativas que nunca se concretizam e destroem relacionamentos, em troca de dinheiro. Traficantes vendem drogas para crianças e adolescentes que se tornam escravos do vício, que gera uma série de outros problemas sociais, de maneira que dificilmente conseguirão sair de ciclo vicioso apenas por dinheiro.

Se as pessoas conseguem manipular, usar, escravizar, humilhar, mentir, matar violentar, outros seres, tão humanos quanto eles próprios, em troca de dinheiro, se fazemos qualquer coisa por dinheiro, temos que concluir que o dinheiro não é assim um assunto tão inocente ou apenas uma ferramenta, como alguns insistem e ainda mais, se há algo de espiritual no dinheiro, com certeza, o espírito que atua nele, não é o mesmo espírito que influenciou os autores bíblicos, antes, espírito de trevas, um espírito contrário a Cristo, um espírito de anti-cristo

Atrizes pornô, traficantes, viciados, produtores de pornografia, policiais corruptos, todos são VITIMADORES e VITIMAS, são tão OPRIMIDOS quanto OPRESSORES, usam e são manipulados em nome do dinheiro.

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A idolatria que foi severamente combatida por evangélicos do Brasil ao longo da história, gerando uma tensão presente entre nós e os católicos e suas estátuas ou com os umbandistas com seus rituais, ainda mais, gerando o bloqueio psicológico que faz com que qualquer desenho ou estátua dentro de uma igreja gere um mal estar generalizado, tem origem em inúmeros textos como a declaração do profeta Isaías no capítulo 44, verso 12 ao 20, mas antes de nos colocarmos ferozmente contra os fazedores de estátuas e os supostos idólatras, tomando para nos mesmos a obrigação de defender um Deus aparentemente frágil que tem em outros deuses ameaça para a sua soberania, assim como fazemos contra gays que querem se casar ou contra qualquer outra dessas ameaças ao nosso poderoso Deus (será que acreditamos que ele é tão poderoso assim?), por que não analisamos o quão idolatras somos de dentro do santo dos santos da fé evangélica, de alto de nossos púlpitos, florescendo em meio de nossas pregações? Se assim fizermos, vemos diariamente “pastores” e outros lideres se posicionando de maneira a saquear os bens e finanças dos membros das suas igrejas, membros estes que querem fazer qualquer negócio para obter seus objetivos para aumentar e prosperar suas vidas financeiras. Tanto líderes quanto membros fazem qualquer coisa por dinheiro.

Quem serve a Deus por dinheiro, servirá ao diabo por quantia maior” afirmou Roger L’Estrange, autor inglês, e o que vemos é que sua frase cada dia mais faz sentido na realidade da igreja contemporânea e é por conta dessa cultura de que o dinheiro tem esse poder para a sociedade e as pessoas fazem qualquer coisa por ele, somado a isso o apelo emocional que lideres tem sob as ovelhas do seu rebanho ameaçando-as com fábulas sobre um bicho papão chamado gafanhoto, recortando e remodelando o texto bíblico como melhor lhes parecer, eis que dessa mistura de secularismo, ignorância bíblica, infantilismo emocional e lideranças mal-caráter influenciados pelo espírito do anti-Cristo, com seus textos do antigo e do novo testamento sem qualquer contextualidade que manipulam as pessoas, obrigando-as a fazer qualquer coisa para conseguir o fruto do seu desejo, sem qualquer zelo pela vida dos seus consumidores, exigem que o valor seja pago de uma maneira ou de outra, não importando o custo ou o sacrifício necessário para isso floresce no meio do jardim das igrejas evangélicas uma nova indústria, tão ou mais satânica que a indústria pornográfica ou o tráfico de drogas…. Apresento-lhes a indústria dos dízimos e ofertas.

O dinheiro confere poder ao seu portador, o portador do dinheiro tem a impressão que pode fazer o que quiser e por isso, para conseguir mais e mais, para acumular mais e mais, os devotos do lucro fazem o possível e o impossível. O dinheiro se torna uma potestade, uma entidade inanimada a qual nos relacionamos como se tivesse vida, como se fosse passível de um relacionamento pessoal e assim sendo, o dinheiro, poderoso como já vimos que é, exige de nós os sacrifícios que já citamos a pouco, nos obriga a romper relacionamentos que gostamos, nos obriga a nos relacionar com quem não gostamos, nos obriga a nos portar de maneira com as quais não concordamos, o dinheiro é mais que apenas uma potestade, o dinheiro é um ídolo, um deus que exige a nossa adoração, que exige nossa veneração, nossa total confiança, nossa completa e absoluta sujeição, o dinheiro escolhe com o que iremos trabalhamos, alias, é o motivo pelo qual trabalhamo, é o motivo pelo qual estudamos, o dinheiro escolhe a nossa profissão e faz o que quiser com nossas vidas, assim como antigamente cantávamos, “Toma-nos em tuas mãos” hoje, estamos nas mãos dessa potestade chamada dinheiro, o dinheiro é nosso dono e não nos o dono dele, ele é o nosso senhor.

Enquanto isso, nos, tão ingênuos e tão ignorantes quanto ao papel de DEUS, do verdadeiro Deus, na nossa vida, que desconfiamo, de certa forma, da divindade dEle, julgamos que assim como o nosso amor é falho e tendencioso, Deus nos amará apenas se fizermos o que ele quer, acreditamos que Deus tem as limitações emocionais nos relacionamentos da maneira que temos que deus é carente de atenção, não realizamos que ele é DEUS, o verdadeiro Deus e assim, acreditamos que Deus, dá o mesmo valor descontrolado que damos ao dinheiro, achamos que Deus precisa do dinheiro como nos, que Deus valoriza o dinheiro como nos damos valor, mas a verdade é que Deus não vê nenhuma importância no dinheiro, não vê importância nos dízimos e nas ofertas, pura e simplesmente como uma lei burra que não questiona o motivo de ser, antes, Cristo é o Deus que afirma que a verdade liberta enquanto os fariseus afirmam que nunca foram escravos. Cristo questiona as motivações dos defensores das leis várias vezes e em todas elas, as motivações não passam pela prova do filho do Homem. Comer isso ou aquilo, curar no sábado ou não, perdoar pecados, conversar e jantar ao lado de prostitutas e cobradores, rituais de purificação, cada uma dessas leis foi quebrada por Cristo, aos olhos dos judeus que não entendiam que a LEI que Jesus veio para cumprir, não era apenas o escrito por homens num papel, mas cumprir o objetivo único de toda e qualquer lei, que era pura e simplesmente, glorificar a Deus como ÚNICO DEUS de Israel.Nenhuma lei que não tenha esse objetivo é válida ou necessária pois, não é a LEI maior do que o objetivo que ela tem, antes, se a LEI passa a se opor ao objetivo, a lei DEVE SER QUEBRADA para que Deus seja glorificado e os dízimos e as ofertas são um caso assim.

Tanto um quanto outro, dízimos e ofertas, tinham o objetivo no antigo testamento e no novo testamento de mostrar para nos mesmos que nossa confiança não está no dinheiro ou no acumulo, mas que confiamos em Deus de maneira tão grande, que não temos medo da falta de amanhã, antes somos liberais para abençoara aquele que passam por alguma falta e confiamos que se houver falta para nós, Deus colocará outros que nos supram. Deus é glorificado na nossa confiança e é glorificado quando abençoamos a vida de alguém, em seu nome, mas com o passar dos anos, o amor ao dinheiro e o poder que entregamos a ele, de se fazer nosso DEUS, acaba por opor-se ao objetivo final da lei. Antes os dízimos e ofertas glorificavam a Deus, hoje ambos, em muitos casos, são uma barreira para aqueles que querem viver uma vida cristã autentica.

É pregado aos quatro ventos que a obrigação do cristão é DAR o dizimo e que depois de dado, não cabe mais a ele ter nem mesmo informação sobre onde este dinheiro é investido ou qual será a finalidade deste dinheiro e é claro que é muito cômodo para muitos saber que está CUMPRINDO A LEI e ficando EM DIA com as obrigações evangélicas sem se preocupar com mais nada, mas infelizmente essa atitude vem gerando a mentalidade satânica de que existe dois grupos de cristãos, os sacerdotes e a massa que financia um grupo que acessa a Deus e outro que paga uma mensalidade, terceirizando suas responsabilidades.

Assim como cada cristão tem responsabilidade quanto sua vida de oração, sua adoração, a maneira de se portar na sociedade, a maneira como se porta como marido ou esposa, pai ou filho, CADA CRISTÃO TEM RESPONSABILIDADE QUANTO AOS DÍZIMOS E OFERTAS DA INSTITUIÇÃO ONDE CONGREGA, e fujir dessa obrigação com a desculpa de que “Agora é com o pastor, se ele não for fiel, é ele com Deus” é tão irresponsável quanto entregar uma arma carregada a uma pessoa que você não conhece ou entregar seu carro a uma pessoa que não é habilitada a dirigir, fatalmente, qualquer tragédia recorrente a este ato, é também culpa sua.

Não posso negar, que cada instituição tem seus custos para existir, e cada grupo escolhe e julga quais as melhores maneiras de se administrar isso, para tanto, é indispensável que haja contribuição dos membros. Isso acontece na igreja, nos escoteiros, nos clubes de futebol e por ai vai, contudo, há uma diferença fundamental quando colocamos os termos DÍZIMOS e OFERTAS no debate.

A lei dos dízimos e ofertas é e sempre será, assim como qualquer outra lei do antigo testamento ou como qualquer ordem de Jesus nos evangelhos, uma maneira pela qual, buscamos glorificar Deus como tal e negar que haja qualquer substituto a ele. Deus é o único Deus e não devemos criar outros deuses diante de nós, assim, diferentemente do que acontece nos clubes que citei, os quais precisam sobreviver para ajudar seus membros, a igreja precisa ajudar para viver. Não de maneira meritocrática, mas simplesmente, por que esse é o objetivo da igreja.

Manifestar o reino de Deus, anunciar as boas novas, é o motivo principal de existir igreja, e se os custos de sobrevivência da igreja forem mais elevados que o investimento em anunciar o reino, essa instituição é inviável e não tem motivo de existir, de maneira bem humana, uma igreja que gasta mais consigo mesma do que com as pessoas, está dando prejuízo, e precisa pedir sua falência, e FALIR como igreja é exatamente, não conseguir anunciar o reino de maneira viva e encarnada, sanando as necessidades que promovem a morte, a maior opositora da igreja.

Os dízimos e ofertas PODEM sim ser entregues nas mãos dos lideres das igrejas caso haja necessidade, não é o caso de que todo líder seja um ladrão, mas é responsabilidade de cada cristão honesto, ter participação ativa no avance que a igreja tem contra as portas do inferno.

O dinheiro é o DEUS que o homem contemporâneo, pois não há nada no mundo que ele busque mais que isso, não há nada em quem o homem confie mais que o dinheiro, no objetivo de agradar a esse deus, acabamos nos comprometendo com agendas que não são de Cristo mas que carregam um aspecto cristão e que muitas vezes enganam os cristãos, que acreditam que a LEI é mais importante que o OBJETIVO e não cegueira evangélica, acabam cumprindo, em beneficio próprio o que deveria ser um objeto de adoração a Deus, anunciar o evangelho com seus bens, confiando que Deus pode suprir qualquer uma das nossas necessidades.

Escrito, originalmente, para ser apresentado à igreja do armazém, no dia 31/08/2014

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