Você tem a certeza da salvação?

duvida

Uma pergunta nunca me irritou tanto como essa. Talvez na minha tradição de igreja protestante, essa pergunta não era tão frequente. Mas de vez em quando aparecia alguém com essa pergunta. Sempre com um tom ameaçador, ela vem de alguém que se acha “mais salvo” do que você, que te cobra da tal “certeza”, e você– aparentemente –precisa ter também.

Aí você começa a se autoexaminar, olha seu passado, as coisas que você já fez, e não há nada a se fazer, apenas lamentar-se e condenar-se. Por mais que se tente viver de maneira digna e correta, continuamos nos sentindo pecadores e somos perseguidos por nossa consciência. O problema é que esta pergunta (você tem certeza da salvação?) coloca seu foco no lugar errado. Coloca o foco em nós mesmos, como se nossa certeza tivesse o condão de permitir a salvação – quando na verdade ela é obra concretizada por Cristo na cruz, e que é estendida graciosamente a nós. Essa pergunta é injusta e demanda uma perfeição que nem eu nem você temos condições de oferecer. A fé não é um caminho bonitinho cheio de flores. Mas um caminho difícil, em que traímos a Deus e a nós mesmos, muitas vezes. Assim como a bíblia retrata o povo de Deus, que se afasta e se esquece Dele várias vezes.

Fato é que Deus é quem nos justifica, através da fé – que também é um dom dado por Ele a nós. A justiça de Deus é uma dádiva dele, nos atribuída pela fé, a qual se revela através do evangelho. Isso é uma verdade bíblica, e independe dos pecados que você já cometeu (ou ainda vai cometer). Então, quando te fazem essa pergunta, não desespere. Não olhe pra si mesmo, não olhe para os seus pecados. Olhe para Cristo, pois foi por você que Ele morreu. Com essa imagem teu destino incerto se torna certo. Apenas se preocupe em crer que Ele fez isso por você, e então é salvo por essa fé. Não deixe que os outros tirem esta imagem dos teus olhos. Não procure a resposta em você mesmo, mas encontre-se eternamente Nele.

“Deus não nos quer imputar o restante do pecado, não o quer punir ou nos condenar por causa dele, mas quer encobri-lo e perdoar como se ele nada fosse. E isso não por causa de nós, da nossa dignidade ou das nossas obras, mas por causa do próprio Cristo em quem cremos. Assim, o cristão é, ao mesmo tempo, justo e pecador, santo e profano, inimigo e filho de Deus. Esses conceitos contrários os sofistas não admitem, porque não compreendem o verdadeiro sentido da justificação. Foi por isso que eles forçaram os homens a fazer o bem por tanto tempo, até que, absolutamente, não sentissem mais nenhum pecado. Nós, pelo contrário, ensinamos e consolamos o aflito pecador dessa maneira: “É impossível, irmão, que te tornes tão justo nesta vida que teu corpo seja brilhante e sem manchas como o sol, mas ainda continuas tendo rugas e máculas e, todavia, és santo.” Mas tu dizes: “Como posso ser santo, quando ainda tenho e sinto o pecado?” É bom que sintas e reconheças teu pecado; dá graças a Deus e não desesperes. É um passo para a saúde, quando o doente reconhece e confessa a sua doença. “Mas como me tornarei livre do pecado?” Corre para Cristo, o Médico, que sara os contritos de coração e salva os pecadores. Crê nele. Se crês, és justo, porque atribuis a Deus a glória de que Ele é onipotente, misericordioso, verdadeiro etc. Então tu justificas e louvas a Deus. Em suma, atribuis a ele a divindade e todas as coisas. E o que ainda resta de pecado em ti não é imputado, mas perdoado por causa de Cristo em quem crês, que é perfeitamente justo num sentido formal, cuja justiça é tua e teu pecado é Dele.” [Lutero]

Posted in Artigos.