#PostDoLeitor – Batendo em bêbado, por Rodrigo Lima

Uma das figuras de linguagem mais interessantes na língua portuguesa é aquela que descreve nossa fácil e covarde luta vitoriosa contra alguém muito mais fraco do que nós. “Bater em bêbado” significa isso, uma vez que o bêbado não possui reflexos que possibilitem sua devida defesa.

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Com essa história do templo de Salomão da IURD, fico pensando se não estamos batendo em bêbado. Afinal, trata-se do Edir Macedo, aquela figura maquiavélica que lucra com a fé alheia, explorando-a em níveis inéditos em nosso país. Seu grande monumento é uma elegia ao seu ego doente e sua falta de centralidade bíblica. Mas, vamos ser sinceros, a IURD apanha feito bêbado desde seu início. Nunca foi tida como uma denominação séria, mas antes sempre foi vista como antro de espertalhões.

Batemos em bêbado também quando descemos o cajado na Mundial e seu apóstolo chapeludo. Imaginando que está tangendo gado de alguma de suas fazendas, Valdomiro tange gente perdida, ovelhas sem pastor, que também caíram em sua lábia. Oriundo da IURD, Valdomiro aperfeiçoou o que aprendeu na escola de malandragem macediana.

Batemos em bêbado quando questionamos o RR Soares. Batemos em bêbado quando metemos o pau no histrionismo do Malafaia. Batemos em bêbado quando achamos ridículo o posicionamento deslumbrado de Caio Fábio, que mete o pau no sistema religioso, mas construiu um só para chamar de seu. Batemos em bêbado quando questionamos o teísmo aberto de Gondim e seu deus emo, que apenas chora na beira do caminho. Batemos no bêbado liberal, no bêbado fundamentalista, no bêbado ultracalvinista, no bêbado hipster, no bêbado teonazista.

Mas isso tudo é muito fácil. Não precisa de coragem. Afinal, os fatos comprovam a realidade. Mas ser verdadeiramente cristão é muito mais que isso. É necessário bater em gente sóbria. Em última análise, o “sóbrio” a ser espancado somos nós mesmos. Afinal, racionalizamos e teologizamos toda nossa conduta pecaminosa. Somos parte do problema, quando deveríamos ser parte da solução. Falta-nos coragem de dizer, como o profeta Isaías, “ai de mim!” (Is 6.5), pois usamos todo o nosso tempo para gritar “ai deles!”. O pecado, seja ele pessoal ou estrutural, corroeu todas as nossas instituições indistintamente, bem como nosso julgamento, pois, ao contrário do que sempre realizamos na liturgia reformada, nos esquecemos de pedir perdão a Deus por nossa pecaminosidade latente.

Que Deus perdoe nossa covardia de querer bater apenas em bêbado.

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