[dropcap]O[/dropcap] desafio que a igreja cria para o estado muitas vezes se torna um conflito manifesto, especialmente quando o estado totalitário se afirma como “Deus”. A Alemanha nazista apresentou o teste mais duro para a doutrina dos dois reinos proposta por Lutero, um teste que a igreja na maioria dos casos não resolveu adequadamente. Martin Niemöller, um dos líderes da resistência contra Hitler, confessou que a igreja em geral não tivera a coragem de resistir a Hitler. Praticando uma fé individualizada, acostumados a submeterem-se ao estado, seus dirigentes esperaram demais para protestar. De fato, muitos líderes protestantes sendo incluído aí o próprio Niemöller, inicialmente agradeceram a Deus pelo surgimento dos nazistas, que pareciam ser a única alternativa ao crescente comunismo, visto na época com olhares cautelosos.
Como um sinal de mau agouro, os cristãos evangélicos sentiam-se atraídos pelas propostas de Hitler de restaurar a moralidade no governo e sociedade. Segundo os dizeres posteriores do teólogo protestante Karl Barth, a igreja “quase unanimemente acolheu o regime de Hitler, com verdadeira confiança, de fato com as mais elevadas esperanças”. Pastores vestiam uniformes nazistas e cantavam hinos ao Terceiro Reich. Foi demasiada tarde a descoberta de que a igreja havia sido seduzida pelo poder do estado em sua forma mais destrutiva.
No fim uma minoria acabou acordando para a ameaça nazista. Niemöller publicou uma série de sermões com o título extremamente agressivo: Christus Ist mein Führer (Cristo é meu führer). Ele passou sete anos num campo de concentração. Pouco tempo depois o pastor Dietrich Bonhoeffer, membro da resistência alemã anti-nazista e membro fundador da Igreja Confessante foi executado. No fim cristãos fiéis foram único grupo significativo que se opôs a Hitler dentro da Alemanha. Sindicatos, o Parlamento, políticos, médicos, cientistas, professores universitários, advogados… todos capitularam. Apenas cristãos que estendiam sua lealdade a um poder superior resistiram.
Graças a Deus , a Igreja do Brasil nunca teve que enfrentar tão rigorosa escolha contra a tirania. Muito pelo contrário, cada vez mais a igreja tem tido papel fundamental nas decisões políticas atuais (isso tanto para o bem quanto para o mal). Resta-nos abrir bem nossos olhos para que tais atrocidades nunca se repitam com o endosso de cristãos inocentemente ludibriados.