A briga
O velho debate calvinismo vs. arminianismo já não é mais o mesmo. Por muito tempo este assunto foi a vedete das discussões teológicas nas redes sociais. Embora ainda saia um caldo fraco e requentado do pelagianismo vs. agostinianismo, está perdendo o lugar para ortodoxia vs. universalismo.
A questão, na verdade, sempre gira em torno da salvação. No antigo debate a questão era o livre-arbítrio em aceitar/rejeitar a graça para a salvação ou ser “forçado na marra” a ir para o céu, afinal a graça é irresistível, certo?
Pois bem, a briga, no fundo, não mudou muito, apenas passou da esfera individual, para a coletiva. O grande fervor dos debates teológicos se concentra agora na quantidade dos salvos. Alguns ou todos? Uns querem que alguns virem combustível do capeta a todo custo, enquanto outros acham que o mundo é cor de rosa e todos vão se dar bem, mesmo que não queiram.
As classificações
Não podemos nos furtar à condição que a Bíblia estabelece ao ser humano. Salvo ou condenado. Achado ou perdido. Justo e ímpio. Não há, ao meu ver, como nos livrar dessas “classificações” que a Bíblia menciona. Também não podemos fechar nossos olhos para a realidade do pecado. Inúmeros trechos bíblicos citam sua existência.
Mas, ao meu ver, as classificações não são o problema, pois o debate gira em torno do número dos salvos e condenados. Para os universalistas todos os seres humanos receberão a etiqueta “Salvo”. Para os ortodoxos alguns receberão a etiqueta “Salvo”, enquanto outros receberão a etiqueta “Condenado”.
Outro ponto sensível do debate está relacionado ao arrependimento que deve partir do ser humano a fim de que o processo da salvação se efetive em sua vida. Também não há como negar a quantidade de vezes que a Bíblia alerta ao ser humano a necessidade de arrependimento.
Outro fato inequívoco, ainda com relação à classificação escatológica do ser humano, é o seu “lugar classificatório”. No fim do seu ministério Jesus apontou que no final somente haveriam dois lugares possíveis em relação à sua presença. A direita e a esquerda. Não confunda com posicionamento político, ok? À direita, os salvos; à esquerda, os condenados.
A conciliação
Porém, o fato de haver uma classificação não obriga necessariamente a existência de uma pessoa que ocupe tal classificação. Imagine um lugar onde haja quadrados amarelos e roxos. Imagine que algém possa afirmar: “Os que estão no quadrado amarelo pagarão 100 flexões”. Contudo, todos estão posicionados nos quadrados roxos. Ora, a classificação ainda existe. A ameaça ao castigo também existe. Entretanto, como todos estão nos quadrados roxos ninguém faz flexão nenhuma.
Penso que seja possível a mesma coisa em relação ao destino eterno de todos os seres humanos. Embora a existência do inferno seja uma realidade, e creio que seja, em virtude do arrependimento operado pelo Espírito Santo na vida de todos os seres humanos, estes ocupem a posição à direita de Jesus.
Notem que a realidade do inferno foi preservada, a ação soberana de Deus por meio do Espírito mantém o monergismo e a soberania de Deus além de destacar o arrependimento do homem para sua salvação com a atividade de pregação da Palavra pela Igreja. Enfim, todos os elementos da ortodoxia cristã são mantidos.
Este post não se trata de uma nova teologia, muitos outros já propuseram isso antes. Nem se trata de uma sistematização soteriológica. Nem ao menos proponho um fechamento do assunto. Mas queria apenas dizer que será que não vale a pena pensarmos numa conciliação entre exclusivistas e universalistas? Ou os dogmas são mais poderosos do que o amor entre os cristãos? Não vale a pena caminharmos juntos por aquilo que nos une em detrimento de estar com a razão?