– Deixa eu te curar!
– Nem vem mexer no meu machucado, eu to cuidando dele!
E ele andava pela rua, exibindo seu sofrimento. Aquela mágoa começou pequena. Já não é mais tão diminuta assim agora.
O que fazer para ajudá-lo?
Como mostrar a ele que essa ferida interna está necrosando?
As mágoas são como buracos-negros. Só que agem sugando sua energia vital. São manchas, sujeira. E sujeira dentro de machucado não é muito legal, pois infecciona.
A mágoa rouba a vida. Magoar-se é ressentir. Sentir novamente a mesma tristeza, mesma raiva ou até ódio. Se estar dessa forma fosse bom, por que está ligado à sentimentos e sensações ruins?
A mágoa te segura ao passado. Lá no momento onde a ferida foi feita. E você remói. Mói seu interior uma vez mais. Faz viver a dor no lugar de sua própria vida. Como progredir assim? É tentar arrastar uma bigorna com uma forca no pescoço. É estacionar na linha do trem e esperar a morte.
Morrer interiormente antes da morte total.
Magoar-se, muitas vezes, não lhe oferece opção. Quem está bem, não deseja ficar magoado. Mas, algo estranho acontece se não deixamos os machucados sararem. Viciamos na mágoa. Ela se torna um vício. Droga feroz. Não sei se já fizeram algum estudo sobre isso, mas, a mágoa e a tristeza devem matar mais do que crack. Quem está magoado passa a se magoar com mais facilidade e quando isso acontece, ainda não é o suficiente.
O que vemos são pessoas com corpo saudável, andando por aí. Trabalhando e estudando ao nosso lado. Comprando pão na mesma padaria e saindo do mesmo supermercado. Entretanto, seus sentimentos estão mortos. A mágoa arranca seus sonhos, sua vontade de lutar. Seu quarto, suas quatro-paredes tem cheiro pútrido de coisa velha necrosada.
E quem diria que alimentar uma dor poderia chegar nisso?
– Deixa fechar sua ferida antes que você se feche dentro dela.
—
Fiquem na paz!