Doce vida cristã! Ir aos domingos a igreja, ler a Bíblia diariamente, encontrar os amigos em mais uma celebração, e claro, né? combinar com os irmãos pra ir naquele mega show gospel que vai ter na praça principal da cidade! Sua igreja está organizando, o vereador é membro dela e ajuda demais a congregação nesta tal missão de proclamar Jesus como senhor da nossa cidade e nação!
Este guri foi conversar com uns amigos a respeito disso, todo empolgado, mas eles falaram absurdos! Falaram um tal de Estado Laico para ele! “Bah, deve ser coisa de ímpio que nem teme a Deus, vão tudo se ver com Deus no inferno, isso sim”, pensou ele, que foi falar com outro amigo, “ele é evangélico também, ele vai entender!”, pensou o jovem rapaz.
E o amigo cristão, assim como meus amigos não cristãos, também discordou! Como assim?
Ele começou a falar que estes shows tinham pouca profundidade cristã, e que esta metodologia que nossa igreja utilizava para proclamar o evangelho é pouco eficaz. Aí que alguns termos foram explicados. O tal do estado laico, que em síntese era a separação da igreja e estado, e uma tal de teologia. Este amigo começou a explicar este estudo de Deus. Emprestou uns livros. Indicou uns sites. Em uns meses o rapaz começou a entender muita coisa, e começou a questionar – o que começou a ficar perigoso – obviamente para ele mesmo.
Ele começou a perguntar isto para seu líder, que foi começando a ficar irritado com tantas perguntas (que nem tinha resposta para dar, inclusive) – o guri acabou sendo ‘encaminhado’ ao Pastor, que diante de tanta pergunta sobre as motivações das programações, passou a tratar o pobre rapaz como o herege da igreja. Em meses passou um desconforto tamanho que teve de sair.
A busca de um novo canto foi complicada. O amigo cristão da faculdade indicou um novo local. Mas ele continuava a ler os livros e as coisas que achava na internet. Mesmo na nova igreja, a fonte de conhecimento maior era mesmo por blogs e grupos virtuais. Começou a ler as Institutas, os sermões de Spurgeon, e muita gente reformada. Em semanas Calvino, Spurgeon, Lutero e Zwinglio tinha uma força para ele como o BIG FOUR tem força para a maioria dos fãs de Thrash Metal! Era o seu Big Four Teológico- brincava com amigos.
Todo dia ele lia Calvino e Spurgeon – Quando via algo de errado ou herético na internet, ao invés de comentar “O que Jesus Faria neste caso?” (que ele sempre postava quando não sabia o que fazer diante de certas situações), ele comentava “O que Calvino acharia, gente?”, “Spurgeon deve estar tremendo no túmulo”, “Lutero ia xingar vocês todos!”, “Ainda bem que Zwinglio não viveu pra ver isso”.
Sim, os 4 transformaram a fala desse rapaz em um mantra. De cada 10 palavras que ele falava, umas vinte entravam no conjunto de palavras (calvino, spurgeon, lutero, zwinglio). Até seus novos amigos da nova igreja começaram a se distanciar. Ele achou que era um bom sinal, já que eles não entendiam o que era essa tal reforma. Até que achou um grupo de estudos na internet de um tal de Rushdoony. Era a gota que faltava.
Em pouco tempo, todos que discordavam dele eram vistos por ele como “Antinomiano Estatal Comunista pseudo Cristão”. Sim, para ele só que concordava exatamente com o seu ponto de vista era cristão de verdade. A base disto? Ah, ele tinha, todos os livros que ele tinha no quarto, somando com os pdf’s, todos no seu tablet! Se dependesse dele, pelo bem da reforma, estes antinomianos podem até morrer que para ele nem iam fazer falta pro mundo.
A reforma tão almejada no início se tornou numa deformação descontrolada. O antes temente servo de Deus se transformou em um soldado ideológico impiedoso sedento por sangue. A intenção foi boa, mas a literatura perdeu o foco devido.
Trocou seu Apóstolo por seus apóstolos de estante. Esqueceu da Palavra. Ficou com várias palavras ao vento.