ScholeQueÉ – Introdução ao livro de Joel – Mas que dia #028

Joel

Introdução ao Livro de Joel –  Mas que dia!

 

Sabe-se pouco sobre a vida pessoal de Joel além do nome de seu pai, Petuel. Não é mencionado como profeta em nenhum outro livro do AT, embora seja citado como um pregador vigoroso e atrevido. Seu interesse por Jerusalém e pelas cerimônias do templo (1:9; 1:13ss; 2:14-17,32) nos levam à conclusão de que ele era um profeta do templo, ou ao menos valorizava bastante seus rituais.

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A visão de Joel sobre a praga de gafanhotos é uma das mais conhecidas profecias bíblicas, gerando um amplo leque de interpretações, muitas vezes equivocadas. Sua mensagem sobre o derramamento do Espírito sobre todos os povos foi o fundamento da mensagem de Pedro no dia de Pentecostes, alavancando o nascimento da Igreja Cristã.

 

Uma dos maiores problemas com o livro de Joel é situá-lo historicamente, pois não há dados claros na redação do texto que nos forneçam uma pista para sua datação. Houve propostas para datá-lo tanto no século IX a.C. como no século II a.C. Embora a mensagem do livro não sofra nenhuma alteração em virtude do desconhecimento de sua produção, quando a data de composição é conhecida, alguns detalhes de seus oráculos são elucidados. Com base nas evidências internas do texto do livro é possível chegar a algumas conclusões em favor de uma data imediatamente imediatamente posterior ao exílio, isto é, as datas muito distantes do período exílico ficam descartadas neste estudo.

 

Basicamente essa posição é sustentada pelos seguintes argumentos:

 

  • a falta da menção de um rei, e seu endereçamento aos anciãos;
  • o uso intenso da expressão “Dia do Senhor”, caracteristicamente
  • a destruição de Judá e a sociedade destruída apontam para um exílio recente
  • citação das atividades no templo, reconstruído em 515 a.C.
  • a falta de menção à Assíria ou Babilônia sugerem que estas nações já não estavam atuando mais na política internacional do Oriente Médio, como aconteceu no pós-exílio.
  • Joel é um profeta clássico, isto é, deixou seus oráculos escritos. Este estilo de profecia iniciou-se no século VIII a.C. Portanto, uma data anterior a este período fica excluída.
  • A adoração a baal não é citada, este era um tema muito comum no pré-exílio, mas não no pós-exílio.
  • A referência à destruição de Edom (3:19) e a descrição do sacerdócio favorecem uma datação pós-exílica entre o final do século VI e início do V.

 

O estilo literário de Joel é apoiado na literatura profética pré-exílica em virtude do uso que faz dos profetas Amós, Isaías e Ezequiel. O quadro abaixo mostra a dependência de Joel destes profetas:

 

Texto em Joel Paralelo pré-exílico
1:15 Is. 13:6
2:3 Is. 51:3; Ez. 36:35
2:10 Is. 13:10
3:10 Is. 2:4; Mq. 4:3
3:16 Am. 1:2; Is. 13:13
3:17 Ez. 36:11; Is. 52:1
3:18 Am. 9:13

HILL, Andrew; WALTON John. Panorama do Antigo Testamento. São Paulo: Vida, 2007.

 

É difícil tratar sobre o contexto histórico no qual Joel se encontra devido à dificuldade quanto à sua datação, conforme abordado acima. Se a datação pós-exílica for a correta, ainda assim seria trabalhoso definir o livro no período dos profetas Ageu e Zacarias sob a liderança de Zorobabel ou no período do profeta Zacarias sob a liderança de Esdras e Neemias.

 

Podemos definir uma data entre estes períodos, quando o templo já estava com seus rituais em operação e Edom ainda não havia sido destruída. Esta teoria coloca o livro no período de Ester, durante o reinado de Xerxes, quando os persas tiveram suas primeiras batalhas com os gregos.[/tab][tab title=”Estrutura”]

Estrutura de Joel

 

O livro de Joel segue o esboço abaixo:

 

  • Introdução –  1:1
    • A praga de gafanhotos e a crise
    • A descrição da praga – 1:2-12
    • O julgamento representado pela praga – 1:15-20
    • A iminência do Dia do Senhor
      • A descrição do exército de gafanhotos – 2:1-11
      • Um apelo ao arrependimento – 2:12-17
      • Restauração após a praga – 2:18-27
      • O dia do Senhor
        • A descrição do dia do Senhor – 2:28-32
        • O julgamento dos povos – 3:1-17
        • A restauração de Judá – 3:18-20

 

O livro de Joel, de acordo com seus oráculos, está dividido em duas partes:

 

  • A praga de gafanhotos e o dia do Senhor (1:1 – 2:17)
  • A vitória escatológica e o dia do Senhor (2:18- 3:21)

Na primeira parte quem fala é Joel, na segunda, o Senhor. Diferentemente dos profetas pré-exílicos, que vislumbravam um julgamento futuro, Joel interpretou a crise atual como um juízo divino contra o povo. Um desastre dessa magnitude significava, para Joel, que Javé estava acertando as contas com as nações. Usando este episódio de crise, Joel chamou o povo à ação e reflexão (Capítulo 1), dizendo que a situação se agravaria (Capítulo 2).

 

Joel aproveita a situação de juízo para instruir o povo de acordo com o ritual adequado (2:13-17) demonstrando seu arrependimento. Este procedimento é oposto à mensagem dos profetas pré-exílicos, que se colocaram contra qualquer ritualismo e pediram um comportamento mais ético para o povo. Outro ponto que difere o estilo de Joel com os profetas pré-exílicos é que ele não menciona explicitamente os pecados do povo. Para Joel, a urgência estava na solução da crise, e não nas causas.

 

O Senhor demonstra uma resposta favorável ao povo após seu arrependimento e restaura a terra, diferente do primeiro ciclo, onde o julgamento destruíra a nação. O ponto em comum entre o primeiro ciclo de julgamento (1:2 a 2:27) e o segundo ciclo de julgamento (2:28 a 3:20) é o Dia do Senhor. Depois de comparar o Dia do Senhor com o derramamento do Espírito e com o livramento Joel continua com as abordagens ao juízo e restauração. Entretanto, neste ponto as nações são atingidas, não mais Judá.[/tab][tab title=”Propósito e Conteúdo”]

Propósito e conteúdo

 

O livro de Joel trata dos seguintes assuntos:

 

  • O dia do Senhor e sua analogia com a praga de gafanhotos
  • O derramamento do Espírito do Senhor como introdução ao período do julgamento

 

O foco principal de Joel estava relacionado ao Dia do Senhor, por isso entendeu a praga de gafanhotos como o seu início, antecipando o agravamento da situação de crise na qual encontrava-se Judá. Em razão disso, Joel conclama o povo ao arrependimento;  que foi atendido. Logo, Javé mostra sua compaixão e o renovo é anunciado (2:18ss).

 

No segundo ciclo do Dia do Senhor as nações são alvo do julgamento divino com a restauração socioeconômica de Judá, pois os hebreus enxergavam nos atos de livramento de Javé sua disposição em realizar uma redenção completa, pois, após o livramento da praga de gafanhotos (2:18-27), Joel anuncia o plano divino do livramento de Deus para o povo da Aliança nos últimos tempos (2:28 – 3:31).

 

Joel deixa transparecer em seus oráculos que Javé tem domínio pleno sobre a natureza, pois em nenhum momento ele atribui a praga de gafanhotos ao acaso ou alguma outra coisa; antes, os gafanhotos eram o exército do Senhor (2:11), enviado e levado por ele (2:20). Portanto para Joel, uma cosmovisão dualista era improvável, em virtude do senhorio de Javé sobre todas as coisas.

 

A praga de gafanhotos

 

Desde o seu estabelecimento em Canaã, Israel tornara-se uma nação agrícola. Por isso, qualquer praga, ou desastre natural que atingisse as plantações teria consequências devastadoras para a sobrevivência do povo. Por isso, qualquer coisa que afetasse a agricultura seria considerada como uma espécie de juízo divino, uma vez que a vida estaria ameaçada.

 

Para os povos no Oriente Médio todos os desastres naturais estavam associados ao julgamento divino, por isso era importante saber quem os havia causado, qual era o motivo da ira dessa divindade e como poderia ser acalmada. Não era problema para os hebreus descobrir o causador da ira, mas certamente teriam problemas em determinar as respostas para as outras duas perguntas.

 

Joel responde a estas questões de uma forma inusitada, pois, em vez de associar a calamidade dos gafanhotos à uma desobediência específica, ele relacionou a crise agrícola com um anúncio para o dia do Senhor. Neste dia o justo seria absolvido e os ímpios seriam punidos. Restava ao povo da Aliança viver sob a misericórdia do Senhor, uma vez que Deus não permitia qualquer tipo de manipulação de sua vontade.

 

Os gafanhotos tem recebido diversas interpretações em Joel, as principais estão relacionadas abaixo:

 

Exércitos estrangeiros: alguns cristãos seguem a tradição judaica ao comparar os gafanhotos com exércitos estrangeiros. Neste caso, os gafanhotos são uma metáfora para desastre que se abateu sobre Judá. Esta interpretação é pouco provável, pois os próprios gafanhotos são comparados com exércitos, por isso a comparação não se aplica.

 

Criaturas não terrenas: outros tendem a interpretar os gafanhotos como figuras de linguagem do estilo apocalíptico. Estas criaturas trarão as terríveis consequências do dia do Senhor (Ap. 9:3, 7-11). Entretanto, o uso constante dos verbos no passado sugerem que Joel tenha sido testemunha ocular deste episódio, ou seja, não está simplesmente anunciando o futuro, mas narrando um julgamento que ocorrera.

Abordagem literal: os gafanhotos foram realmente insetos que devastaram as plantações dos judeus. A destruição literal é realçada pela descrição que Joel faz dos gafanhotos a partir de 1:4. A ênfase não está nos vários tipos de gafanhotos, pois não é intensão de Joel fazer um tratado biológico, mas sim demonstrar a gravidade da destruição que acontecera. Esta destruição foi tão terrível que Joel não pôde evitar uma comparação com o terrível dia do Senhor que se aproximava.

O pentecoste

 

O oráculo de Joel acerca do derramamento do Espírito do Senhor teve um cumprimento muito além dos ouvintes originais. O apóstolo Pedro não hesita em afirmar este cumprimento no dia de Pentecostes, na origem da igreja cristã. Na verdade, este cumprimento vai ao encontro do antigo desejo de Moisés descrito em Números 11:29: “Tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o Seu Espírito”.

 

Quando o Espírito Santo encheu todos os presentes na reunião no cenáculo, Pedro explicou que o acontecimento cumpria a profecia de Joel, descrita em 2:28-32. Os aspectos do derramamento do Espírito e a invocação do Senhor para a salvação foram suficientes para Pedro estabelecer a relação, embora alguns aspectos como sangue, fogo e nuvens de fumaça não tenham se concretizado naquele dia. Neste episódio a Igreja é alistada para anunciar a mensagem escatológica do dia do Senhor que vem chegando.[/tab][/tabs]

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Milhoranza

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