Mente sã

Em posição fetal sentia todo aquele peso a esmagando. Mas não em um único ponto. Com força igual em cada músculo, em cada centímetro quadrado de sua pele. A luz era fraca e acompanhava o ritmo de sua respiração arfada. Latejava ainda o coração, como que corroído por um bicho da goiaba. Doía-lhe abrir os olhos, mas, sabia (e sentia-se) sozinha.
Era assim que lhe chegavam as manhãs.
O sol não melhorava em nada a sua dor. O calor apenas a fazia suar e não esquecer. Sufoco.
As ocupações eram o seu fardo. Como cogumelos eles eram, ah, sim! “Arranque um e nascerá dez”, como diziam. Entretanto, mesmo não arrancando, eles continuavam a nascer. Era preciso exterminá-los na raiz.
O prazer em escrever se misturou ao fardo. Pensar em descansar a cansava. Pensar em escrever a massacrava.

Seu último texto, sua confissão:
“Bem que tentei fazer algo bonitinho. Algo digno de ser lido, ah. Não dá. As palavras vem em momentos inapropriados, me faltam forças para lapidá-las. Falta tempo e sobram ocupações. Na pele estou aprendendo que a máxima mens sana in corpore sano é verdadeira. O cansaço da alma contamina o corpo. Ah! As agruras da vida. Aquelas nos impedem de ver a beleza ao nosso redor. Nos focam, nos sugam, nos desenergizam. Ficamos cinzas, impassíveis diante à rotina. Alimentando um deus cruel e orgulhoso da Honra do Cumprir. Rebeldes são aqueles que procrastinam. Perigosos os que sabem o peso do não. Felizes os livres destas correntes do dever. Junto à mim, quantos são os que anseiam por essa leveza?
Eis que a nota é breve. Como os Tempos do Imediato nos levam a ser. Ou me livro disso tudo, ou a agenda me devorará. É isso.”
Então, momentaneamente, se lembrou daquela brisa suave que acariciou sua alma cansada:
“… o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”

Fiquem na paz todos vós que estais cansados. 🙂

Mente Sã

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