Oi, o meu nome é Paulo, mas os meus amigos na rua me chamam de Paulinho. Acho que é por causa do meu tamanho… sou meio pequeno pra minha idade, sabe. Tenho 8 anos.
Um dia umas moças que passaram por mim falaram que era por causa uma tal desnutri alguma coisa… acho que era essa a palavra.
Bem, pediram para contar o que eu fazia no meu dia e vou contá pra vocês.
Hoje mesmo pela manhã eu acordei bem cedo porque o pessoal da loja queria abrir as portas e eu tava estrovando eles, já tava na hora mesmo, minha barriga tava doendo de fome e eu fui buscar alguma coisa na panificadora que fica bem perto de onde eu durmo.
Acho que fiquei pelo menos uma hora esperando alguém me dá alguma coisa pra comê, mas o pessoal tá meio sem dinheiro ultimamente… vivem dizendo que não tem nada pra dá. Saem de lá com umas sacolas com algumas coisas, mas como eles compram tudo aquilo… será que o dono da panificadora vende fiado? Pra mim ele nunca fez isso… até já me expulsou de lá algumas vezes.
Então quando eu não consigo nada eu bato nas portas das casas que tem ali perto… alguma coisa eu arranjo… só não gosto de ir na casa da dona Gertrudes… a geladeira dela sempre tá estragada porque tudo que ela me dá tem um gosto de azedo… tinha que trocá a bendita da geladeira dela.
Depois disso e me encontro com o tio Luiz…- deixa eu fala baixinho, mas ele não é bem o meu tio… nóis chama assim porque ele que cuida gente… – nóis trabalhaia no farol vende bala, mas também a gente pede pras pessoas um dinheiro pro leite.
Meus pais? Bem, meus pais eu não sei onde tão não…
A gente morava numa favela meio longe daqui, era uma casinha feita com umas madeiras véias que o meu padrasto tinha juntado e alguns papelão pra gente ficar mais quentinho… mas ele bebia muito e minha mãe também… um dia o barraco pegou fogo e foi um corre daqui que nem loco… depois disso eu não vi mais eles não, acabei ficando na rua.
Eu tenho saudade da minha mãe, mesmo quando ele bebia demais… pelo menos a gente tinha pra onde voltar. Ainda bem que o tio Luiz cuida da gente.
Às vezes ele bate nuns garotos que perguntam pra ele sobre o dinheiro… mas depois fica tudo bem.
Quando chega perto da hora do armoço, eu vou nos fundos de uma lanchonete que tem na rua… sempre tem umas caixinhas coloridas com uns pedaços de sanduiche… tem alguns que vem até com dois hambúrguer e um pouco de batata cheia de sal… mas dá pra comê… sobre até refrigerante no fundo de uns copos.
Depois disso volto pro farol… fico a tarde inteira lá…
Brincá? Ahhhh… quando dá tempo eu até jogo uma pelada com uns meninos debaixo do viaduto… mas é só quando a gente dá certo de se encontrar… eles puxam carrinhos pela cidade para juntá papelão para levá pra casa…
Bem, quando vai chegando à noite eu volto pra perto daquela loja que eu falei pra vocês, mas antes eu procuro uns papelão pra podê me cobri… às vezes faz frio danado de madrugada ou o vento leva pra longe a coberta… não é fácil!
O que eu queria ganhá de presente?
Sei não…
Acho que sei… queria ganhar de presente uma chave de porta… a porta de uma casa… com família e tudo… assim eu não precisaria mais pedir por ai e podia dormir mais quentinho.
Essa é uma pequena história que pode estar acontecendo perto dos nossos olhos e não estamos vendo. Poderia ser a história daquele menino que você encontrou hoje no semáforo do caminho do seu trabalho e você nem abaixou o vidro, com medo de ser assaltado.
Mas poderia ser a história de uma menina, abusada pelo padrasto, pelo tio…
A história do idoso abandonado pela família…
Do pai de família frustrado pelas auguras da vida, sem perspectiva de dar uma condição melhor para os seus filhos…
Poderia ser a história de tanta gente que está longe do paladino da justiça divina que preside uma comissão de direitos desumanos, mas que insiste em ficar batendo boca com outra turma que está sem fazer nada… dois extremos de uma ideal longe da vontade de Deus.
Não se fala de outra coisa nestes últimos dias senão da celeuma entre o Movimento LGBT e aquele que não me representa, o tal do (in) Feliciano. Ele e o tal do Jean Willis são os que mais estão capitalizando com tudo isso, e no meio desse tiroteio, milhares de pessoas precisando de atenção dos órgãos públicos e não conseguem. Comissão dos direitos humanos… isso é uma piada de mau gosto.
Enquanto isso pessoas passando por dificuldades em nossas portas de igrejas, igrejas estas revestidas com mármore e grandes vitrais custeados com dinheiro que deveria ser usado para o fim, que se dizem hospitais para enfermos, mas que fecham e dão as costas ao seu papel fundamental. Estão fechadas durante a semana,… só abrem nos horários de celebração. Mas eu pergunto, celebração de quê? Celebração se dá por algo conquistado, mas nossas igrejas (não todas, mas a grande maioria) não têm conseguindo sequer caminhar no entorno de seus limites, quanto mais alcançar nações…
O culto ao poder chegou aos arraiais evangélicos, tal como aconteceu com a ICPR no passado… os mesmos erros com roupagem nova, mas travestidas de santidade…
Enquanto os Paulinhos estão perdidos por aí, sendo explorados de todas as formas – econômicas, sexuais, etc – perdemos nosso tempo com vaidades… uma fogueira de vaidades que não reflete o verdadeiro Evangelho de Cristo.
Então, chega desse papo nas redes sociais, deixa o MF quieto… é só um boneco de ventríloquo a mando de alguém. Demonstrar mais amor, e não sair lutando por aí contra carne e sangue. Buscar a verdadeira justiça divina para sarar essa terra e não acreditar que um político como o MF representa a encarnação da estrutura familiar que Deus deixou para nós. Ele quer apenas ser um novo Chuck Norris na defesa da família… Chega.
Prefiro ir bater um papo com o Paulinho. Fui.