Enquanto isso, o caso Nicole Bahls

Imagina se chegasse um amigo seu, heterossexual, e enfiasse a mão na sua calça. Massa, né?

Enquanto evangélicos brigam com gays por algo de pouca relevância uma mulher de corpo escultural é apalpada contra a própria vontade em frente a colegas de profissão e em frente a câmeras de vídeo e de fotografia e acha isso “aceitável”. De acordo com a própria abusada no programa que foi ao ar ontem, o fato do agressor ser gay faz com que ela não se sinta abusada — se fosse um homem com interesse sexual, aí sim, seria um problema.

O programa de televisão que a gostosa profissional trabalha, ao invés de defender a honra de sua colega e de todas as mulheres do Brasil, ataca a mídia chamando-os de sensasionalista. Detalhe: a grande mídia simplesmente noticiou o fato sem dar um julgamento de valor a atitude do homossexual em questão*, quem atacou e sublinhou o fato dessa mulher estar sendo abusada foi um blog feminista cujo post se espalhou pela internet (graças a Deus!) e, talvez, a partir da bem fundamentada opinião de Letícia J. a conversa tomou outro tom.

Introduzido o problema vamos às reações dos envolvidos. O mentecapto que apalpou a moça diz que fez o que fez por causa da roupa que ela usava. Diz que fez o que boa parte dos homens queria fazer mas não tem coragem e se de sua utilizou de sua profissão artística (é dramaturgo, o rapaz) pois, de acordo com o próprio, tem o dever de denunciar os desejos do povo, de covardemente fazer aquilo que ninguém tem coragem de fazer.

Dúvido muito que Srta. Bahls tenha escolhido sua roupa, se olhado no espelho e pensado: Bom, com essa roupa com certeza vou ser abusada sexualmente, muitos homens vão tocar minhas partes íntimas sem meu consentimento; essa roupa é perfeita! Acho que não, né Mr. Thomas?!

Dúvido muito que Gerard Thomas gostaria que manifestasse um dos meus desejos mais primários quando vejo alguém abusando de outro alguém e usasse a arte como desculpa: faria belos tons de rocho, esverdeado e vermelho em volta do corpo desse homem sem noção. Uma obra de arte! Acho que não, né Mr. Thomas?!

Não se preocupe, fica pior. A resposta do Pânico na TV em seu programa é um desserviço entre tantos outros que sustentam o programa. O programa legitima esse tipo de comportamento, atacando a mídia ao invés do agressor, pode isso? Já basta o programa fazer uso sem dó do corpo de suas “ajudantes de palco”, agora irá coloca-los para serem apalpados sem o devido consetimento de suas donas? Sério mesmo?

Srta. Bahls poderia ter se defendido, poderia ter se manifestado fervorasamente contra o ato no programa que vai ao vivo todo domingo, poderia ter intercedido pelas mulheres que sofrem esse tipo de abuso, claro que poderia. Porém, muito provavelmente, Nicole é uma dessas moças que desde pequena ouviu o quanto era bonita, bela, — e quando chegou na idade — gostosa; não acho difícil Srta. Bahls acreditar que é só isso que tem, sua única qualidade é o corpo e a beleza e acreditar que é culpada ao invés de vítima. Afinal provocante é um dos adjetivos utilizados nas capas de revista que sua foto é estampada.

Infelizmente, o caso Nicole Bahls é só um que foi parar na mídia. Mulheres são abusadas dessa forma diariamente (e muita gente acha isso normal), com as desculpas mais estapafúrdias possíveis. O que podemos fazer pra isso mudar? A curto prazo não tenho a menor ideia. A longo prazo, precisamos acreditar em nossas filhas, colaborar pra formação intelectual e emocional de nossas meninas, precisamos instigar elas a se defenderem e defendê-las sempre que possível!†, pra quê, quando mulheres, isso seja considerado por toda nossa sociedade como a maior violência que alguém possa sofrer, como um atentado contra a vida. Oremos.

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* Vale lembrar aquela regrinha: quem não se posiciona está aceitando o acontecido como normal e aceitável.

† Acho que a melhor forma de defender as mulheres, como a Marina comentou abaixo, é educando meninos e homens a respeitarem as mulheres, não tratá-las como objeto e não alimentar esse pensamento imbecil que impera em nossa sociedade. Nós, como homens, também temos que mudar, urgentemente.

 

Kyrie eleyson.

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