ANO-NOVO E O MITO DE SISIFO

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Sísifo

Bem, depois de tanto tempo sem escrever no blog, me incumbiram de inserir um post bem no dia “primeiro de ano”… Ano novo para todos aqueles que seguem o calendário solar gregoriano, principalmente os cristãos (pelo menos aqueles que se dizem) de todo o mundo.

Evento cheio de pompa e glamour em vários pontos da Terra, usado cada vez mais para reforçar a ideia capitalista, onde estar nos melhores lugares, tendo os melhores jantares representa toda a majestade da prosperidade alcançada durante o ano.

Mas em outros lugares, apenas mais um dia de fome e talvez, de esperança de dias melhores. A verdade é que existe um padrão, mas cada vez mais, inalcançável para a maioria dos povos.

E aliado a isso, cada religião comemora seu “ano-novo” de forma diferente e na maioria das vezes, em épocas diferentes.

Budismo – Os budistas não comemoram o Ano Novo. Há apenas práticas especiais para pedir um novo ano melhor, mas não um ritual. As pessoas que seguem a religião podem até se confraternizar, mas não há nenhum ritual ensinado na doutrina de Buda. Em alguns lugares se toca o bonsho (sino budista) num total 108 vezes para anunciar o ano novo e propiciar uma passagem de ano de forma mais calma e reflexiva.

As 108 batidas simbolizam o afastamento das cento e oito tentações que afligem os seres humanos nos prendendo ao mundo ilusório, recordar que devemos nos libertar do egocentrismo no alvorecer no ano que nasce.

Candomblé – As celebrações de Ano Novo dependem muito das especificidades de cada terreiros. Os mais próximos do catolicismo, são sincréticos e por isso têm maior quantidade de rituais. Os tradicionais, ligados às culturas africanas, não comemoram o Ano Novo.

Catolicismo – Do dia 31 para o dia 1º do outro ano, a Igreja Católica promove a solenidade da Santa Mãe de Deus. Nesta ocasião, os católicos vestem, preferencialmente, roupas brancas, que representam festividade e paz. Em geral, há o costume de reunir as famílias para festejar a passagem do ano com um “olhar de esperança” e desejo de que o Ano Novo seja de abundância, graça e benção.

Islamismo – Os seguidores do islamismo não comemoram o Réveillon. Nesta religião há apenas duas festas -o Ramadan e o Hajj. Além disso, como seguem o calendário lunar e não o gregoriano, os muçulmanos vão comemorar o ano novo apenas no dia 14 de março 2013, quando entrarão no ano 1434.

Judaísmo – A virada do ano não é uma data que faz parte do calendário judaico, mas os judeus que moram em países que usam calendário gregoriano seguem as tradições do lugar onde vivem.  No Rosh Hashana – o ano novo dos judeus – há apenas uma reflexão e meditação sobre os fatos passados. Os judeus, que contam o ano a partir da criação do mundo, estão em 5.773. Neste ano, o ano novo judaico foi comemorado em setembro.

Protestantismo – Os protestantes, em geral, não têm celebração específica para a passagem de ano. O Réveillon é considerado uma festa civil, não um feriado religioso pelos protestantes.

Assim, aqueles que comemoram de uma forma ou outra, acabam fazendo com um mesmo objetivo, agradecer o tempo que já se vai e ter esperança no tempo que há de vir.

Dias atrás, lendo o mito de Sísifo…  Você conhece? Não? Então leia… bem rapidinho para você entender o que estou falando…

“Sísifo, rei da Tessália e de Enarete, era o filho de Éolo. Fundador da cidade de Éfira, que mais tarde veio a chamar-se Corinto, e também dos jogos de Ístmia (ou Ístmicos). Sísifo tinha a reputação de ser o mais habilidoso e esperto dos homens e por esta razão dizia-se que era pai de Ulisses. Sísifo despertou a ira de Zeus quando contou ao deus dos rios, Asopo, que Zeus tinha sequestrado a sua filha Egina. Zeus mandou o deus da morte, Tanatos, perseguir Sísifo, mas este conseguiu enganá-lo e prender Tanatos. A prisão de Tanatos impedia que os mortos pudessem alcançar o Reino das Trevas, tendo sido necessário que fosse libertado por Ares. Foi então que Sísifo, não podendo escapar ao seu destino de morte, instruiu a sua mulher a não lhe prestar exéquias fúnebres. Quando chegou ao mundo dos mortos, queixou-se a Hades, soberano do reino das sombras, da negligência da sua mulher e pediu-lhe para voltar ao mundo dos vivos apenas por um curto período, para a castigar. Hades deu-lhe permissão para regressar, mas quando Sísifo voltou ao mundo dos vivos, não quis mais voltar ao mundo dos mortos. Hermes, o deus mensageiro e condutor das almas para o Além, decidiu então castigá-lo pessoalmente, infligindo-lhe um duro castigo, pior do que a morte. Sísifo foi condenado para todo o sempre a empurrar uma pedra até ao cimo de um monte, caindo a pedra invariavelmente da montanha sempre que o topo era atingido. Este processo seria sempre repetido até à eternidade.”1

No século XX, um autor do movimento conhecido como “existencialismo”, Albert Camus, retomou o mito para explicar a condição humana e promover o que ficou conhecido como “A revolta metafísica”. Explicava Camus que a vida dos homens era tal como o mito de Sísifo: seguir uma rotina diária, sem sentido próprio, determinada por instâncias como a religião e o sistema capitalista de produção. No mundo administrado, levantamos de manhã, trabalhamos, comemos, reproduzimos etc., e tudo isso não faz o menor sentido, já que se refere a modos de pensar que se impõem ao indivíduo sem que ele participe da estruturação desse modo de vida, como se não tivéssemos escolhas. A vida é chata, sem sentido e o mais sensato a se fazer é se matar, como de fato, Camus o fez.

Portanto, ainda que não se precise chegar aos extremos de Camus, o mito serve para mostrar que seguindo as ideologias dominantes, seremos punidos com a mesmice, com o sentido heterônomo. Fica o alerta para a compreensão sobre a liberdade e a responsabilidade humana com relação à sua vida, ao seu mundo e aos outros.2

Então, olhando para o mito, percebi que, como Sísifo, as pessoas rolam suas pedras para o alto da montanha durante todo o ano para deixá-la cair no dia 31 de dezembro e assim, voltar a empurrá-la para cima no dia 01 de janeiro, num sacrifício permanente e chato.

Passam o ano todo tentando fazer com que suas metas sejam alcançadas, isso quando lembram quais eram. E no final de ano, uma sensação de vazio de apodera da maioria das pessoas.

O capitalismo faz isso nas pessoas, com as pessoas. As pessoas fazem isso consigo mesmas.

Meio triste, mas é real.

Mas se olharmos para nossa condição de “cristãos”, isso também pode ser sentido quando olhamos para trás e percebemos que muito discurso foi dado, tantas promessas foram feitas, e de real… quase nada foi feito.

Congressos, fóruns, encontros e tantos outros eventos que serviriam para motivar as pessoas a fazer algo de relevante para o Reino de Deus, mas no final das contas, movimentam  poucas as pessoas que se engajam nas Palavras do Evangelho, nas ações de Jesus.

Muitos são os “cristãos” que carregam suas pedras para o alto da montanha durante todo o ano, muitos são os “cristãos” que, assim como Sísifo, tentam enganar a Deus com suas artimanhas e visões distorcidas, levando inclusive muitos outros consigo. No final, suas pedras rolam para baixo e novamente seu destino é iniciar sua jornada para carregar suas pedras para o alto.

Tudo isso é reflexo da religião que domina as pessoas e que não deixam o Evangelho, de fato, permear suas vidas.

O que conforta é que alguns conseguem sair desse circulo vicioso para uma vida nova, com um olhar mais aguçado para as coisas de Deus… mesmo que por um tempo as cicatrizes da religiosidade ainda insistam em doer e provocar uma certa ira, uma certa vontade de largar tudo.

Mas hoje iniciamos mais um ciclo solar, mas um ano novo e, novamente, deixamos no ar nossas expectativas de que 2013 seja um ano melhor.

Espero de verdade que 2013 seja um ano em que muitos falsos profetas sejam descortinados em suas falcatruas. Um ano onde pessoas de diversas cores, credos e consciências possam iniciar um diálogo saudável em prol da universalidade, do acolhimento, da fraternidade e mesmo não o seguindo de fato, façam do Evangelho de Cristo suas verdades absolutas.

Espero que algo possa ser feito para minimizar os efeitos da corrupção, da violência e da roubalheira que assolam o nosso país. Espero mais respeito e amor para as minorias, sejam elas quais forem, mas que também haja reciprocidade nisso. Na verdade que não haja minoria e sim um imenso e complexo TODO. Um TODO em que todos se incluam, sem exceção.

Consciência, respeito, diálogo e amor fazem bem para todos.

Que o mito de Sísifo não se materialize para você e pra ninguém mais, principalmente para aqueles que professam sua fé em Jesus.

Nas minhas resoluções para 2013 tem espaço para muita coisa. uma delas é que espero escrever mais aquilo que penso… mas somente depois de pensar muito… Sair por ai falando besteira não dá.

Nas minhas resoluções ainda tem espaço para meditar mais, agir mais e não ficar desiludido por não conseguir fazer tudo.  Mas aquilo que fizer, que seja de todo o coração, com todo o meu coração.

Então meus amigos, meus irmãos de caminhada e fé… Desejo a todos um Feliz Ano-Novo, Glückliches Neues Jahr, Nytar, Feliz Año Nuevo, Heureuse Nouvelle Année, Happy New Year, Felice Nuovo Anno!!!

E estamos juntos nessa.

Referências:

1 – http://www.infopedia.pt/$mito-de-sisifo

2 – http://www.brasilescola.com/filosofia/o-mito-sisifo-sua-conotacao-contemporanea.htm

http://www1.folha.uol.com.br/folha/turismo/2001-reveillon-religiao.shtml

http://www.monjacoen.com.br/textos-budistas/textis-tradicionais/151-cento-e-oito-entradas-para-o-maravilhoso-dharma

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