Cultura cristã só que não.

Não há de ser nenhum espanto a afirmação de que o protestantismo, apesar de suas várias faces, pertence a mesma cabeça sob o mesmo pescoço. Na prática o que muda são usos e costumes e alguma reinterpretações teológica que melhor convirem. O que tem mudado porém atualmente é o tipo de rosto. Se antigamente você podia reconhecer um “crente” pela sua roupa, seu jeito de falar ou pela bíblia no sovaco (indiferente da teologia ou igreja), hoje isso já é um pouco mais complicado. Eu me tomo como exemplo. Tenho cabelo comprido, brincos, algumas tatuagens. Gosto de usar camisetas de bandas não cristãs e minhas roupas são mais para roqueiro do que para ministro de louvor. Poderia ainda incluir gente com dread’s (cabelo estilo Bob Marley), com piercings, skates debaixo do braço (ao invés da bíblia) pessoas que só usam roupa preta.. e por ae vai… esses poderiam ser os “ímpios” mas são exemplos de pessoas cristãs. Não há dúvida que são o novo tipo de “rosto protestante”. Talvez sejam menos detectáveis pela sociedade. É claro que os rostos mais velhos continuam “pipocando” por ae. Penso que esse é um tipo de fenômeno que de tempos em tempos trará surpresas.

Mas onde eu menos sinto uma representação real de protestantismo é na nossa cultura. Infelizmente nós somos muitos bons em importar culturas prontas made in EUA mas quando temos a oportunidade de expressarmos nossa cultura como brasileiras, fazemos o sinal da cruz e demonizamos nossas raízes. O pentecostalistas pode ter trazido muitos coisas boas para o Brasil mas erraram e continua errando quando pisam no campo da cultura brasileira. As vezes eu penso em como poderá ser triste o momento onde os povos estarão na presença de Deus expressando sua adoração e então Ele olhar para o Brasil e dizer: Ué, mas o Estados Unidos já não passou por aqui? Não era pra ser o Brasil agora? Mas temos sim feito algum esforço hoje para mudar esse quadro. Alguns cristãos cantando músicas brasileiras para a igreja, algumas manifestações culturais como capoeira e samba sendo “abraçadas e renovadas” pelo evangelho… Aos poucos uma consciência quase patriótica vem tocando nossos corações e talvez nossa arte, recheada de valores do Reino de Deus, ainda tímida, esteja dando alguns passos rumo ao estrelato. Isso me alegra e me assusta. Me alegra porque estamos em tempo que sermos relevantes e excelentes em nossa músicas, teatro, literatura, dança, pintura ou qualquer outra expressão artística, sendo nós, brasileiros e acima disso, cristãos. Porém me assusta porque no meio desse caminho existe um lobo devorador chamado “Mercado Gospel” que está sempre a espreita de alguma novidade que venha encher seus bolsos. E é quando a cultura encontra seu valor no dinheiro é que perdemos nosso valor como cultura, para sermos mais um produto na prateleira de um mundo consumista.

Nossa cultura como brasileiros e cristão é tão vasta e bela, que não tenho dúvida do impacto que teria se tomássemos como mister, sua valorização (não financeira mas moral, ética e esteticamente falando) Incentivar artistas na igreja a realizarem suas artes dentro e fora da igreja. Investir em cultura na igreja (por exemplo, alfabetizar os analfabetos funcionais) Penso que resgatar alguns aspectos da arte, antes da reforma, seria algo muito enriquecedor para nós. Não acho necessário novos rostos protestantes. Mas penso ser muito mais proveitosos se pudermos enfeitar essas velhas faces com nossas cores, sons, gostos e sabores. Porque no fim a arte expressa melhor a beleza e Deus do que qualquer teologia.

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