Introdução ao Livro de Eclesiastes – Não tá fácil pra ninguém
O livro de Eclesiastes, tal como Jó, recusa-se a dar respostas fáceis às questões difíceis da vida. Tal é o pessimismo em suas páginas que muitos estudiosos questionam a ortodoxia do autor e até mesmo a canonicidade do livro.
O nome Eclesiastes vem da tradução para o grego do nome hebraico que consta no primeiro verso do livro: קֹהֶ֣לֶת (qōheleṯ). O nome qōheleṯ vem da raiz da palavra qahal que significa “aquele que convoca uma assembleia” provavelmente com o intuito de pregar para ela, daí algumas traduções deste livro para “O Pregador”.
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A autoria é tradicionalmente atribuída a Salomão em virtude dos dois primeiros versos do livro, mas desde a Reforma, alguns estudiosos protestantes datam Eclesiastes a uma época posterior a Salomão. Além disso, o termo “filho de Davi” pode indicar qualquer descendente do rei Davi e não necessariamente Salomão. Outro aspecto que depõe contra a autora salomônica é a utilização de um pseudônimo, e, a afirmação em 1:16 e 2:9 de que ele ultrapassou todos os reis que governaram Jerusalém antes dele não faria muito sentido se Davi fosse o único antecessor.
A autoria salomônica não é totalmente descartável, entretanto os argumentos contrários são suficientes para termos cautela ao quanto ao autor de Eclesiastes. O uso de qōheleṯ na terceira pessoa pode sugerir que o autor anônimo se refira a Salomão. E, neste caso, sendo qōheleṯ Salomão o autor do livro poderia ter vivido em uma época posterior.
Para Eclesiastes a sabedoria convencional era inadequada à realidade, pois esta tentava predizer um futuro infalível como resultado exclusivo da conduta, seja dos sábios seja dos tolos. A justiça retributiva era o maior expoente desta corrente de pensamento.[/tab][tab title=”Estrutura”]
Estrutura de Eclesiastes
O livro de Eclesiastes está estruturado da seguinte maneira:
- Introdução – 1:1-11
- Problemas e soluções da satisfação – 1:12 a 3:15
- Problema: a satisfação não pode ser encontrada – 1:12 a 2:23
- Solução: a satisfação não pode ser procurada – 2:24 a 3:15
- Problemas e soluções da frustração – 3:16 a 7:29
- Problema: Frustrações são inevitáveis – 3:16 a 6:12
- Solução: Frustrações não podem ser evitadas – 7:1-29
- Diretrizes para um projeto de vida – 8:1 a 12:8
- Viver sob a autoridade, mas não esperar que o governo resolva todos os seus problemas – 8:1-9
- Viver pelo principio da retribuição, mas não esperar seus resultados nessa vida – 8:10-14
- Não querer todas as respostas – 8:15-17
- Este mundo só oferece a morte – 9:1-6
- Desfrutar a vida que Deus ofereceu – 9:7-10
- Esperar o inesperado – 9:11-12
- A sabedoria é melhor do que a força – 9:13 a 10:20
- Ter prudência sem ficar inerte – 11:1-6
- Não esperar a velhice para saber acerca da visão de vida correta – 12:1-8
- Questões finais – 12:9-14
O objetivo da literatura de sabedoria é orientar a forma de pensar e não o que pensar. Por isso sua estrutura e organização não seguem os padrões dos escritos filosóficos do ocidente.
Na introdução o autor apresenta o problema e sugere que nada debaixo do sol dá sentido à existência. Deus está distante e não influencia. Após apresentar algumas origens de satisfação ele as rejeita apontando outro panorama. No trecho de 2:28 a 3:15 o Pregador diz que não há motivos para se adotar uma visão pessimista, pois pode-se aproveitar a vida como uma dádiva de Deus.
No parágrafo de 3:1-8 Eclesiastes mostra, por meio de antíteses, que o homem não possui o controle das etapas da vida, e a segurança da vida só pode ser firmada em Deus. O texto de 3:16 a 7:29 aborda a facilidade da aplicação da sabedoria em uma vida sossegada, mas como agir quando surgem as adversidades? Neste trecho o Pregador utiliza exemplos comuns que todas as pessoas enfrentam. A abordagem é diferente da do livro de Jó, pois dificilmente conhece-se alguém que sofreu tanto quanto ele. A conclusão é que não é possível evitar as dificuldades e problemas da vida.
O capítulo 7 explica que quando a visão de mundo está fundamentada em Deus é possível aceitar tanto a prosperidade quanto a adversidade procedentes de Deus. O Pregador não está preocupado com a causa, neste caso Deus, mas com o caráter adaptativo que a adversidade gera nos indivíduos cuja cosmovisão está em Deus.
Na última parte o autor sugere um plano de vida abordando, nos capítulos 8 e 9, as expectativas de vida ajustadas para a cosmovisão centralizada em Deus. O capítulo 10 evidencia os resultados de uma atitude insensata. O capítulo 11 destaca a cautela que o indivíduo deve ter na vida e ressalta a responsabilidade que cada um tem sobre suas ações. O capítulo 12, por meio de alegorias e metáforas estimula o leitor à ação imediata.[/tab][tab title=”Propósito e conteúdo”]
Propósito e conteúdo
O livro de Eclesiastes aborda os seguintes assuntos:
- Não devemos esperar nenhuma satisfação na vida.
- Todas as etapas da vida devem ser aceitas.
- A vida é repleta de frustrações.
- Só é possível aproveitar a vida tomando como ponto de partida a Deus.
O argumento do livro é mostrar que não existe nada que possa trazer sentido à vida, pois a morte ao final é certa. Os problemas serão inevitáveis e não haverá respostas simples que satisfaçam os mistérios da vida.
A vida deve estar fundamentada em Deus, pois os prazeres são passageiros, embora possam ser aproveitados como dons divinos. A vida não segue um roteiro preestabelecido de acordo com a justiça retributiva, isto é, todos experimentarão bons e maus momentos. As fatalidades, embora desagradáveis, podem ajudar a progredir a fé. Apesar do aparente pessimismo do livro, sua conclusão ressalta a atitude positiva do qōheleṯ ao estabelecer a vida em Deus
O principio da retribuição: quarta parte
Os principais trechos de Eclesiastes que tratam sobre o princípio da retribuição são 3:16-22 e 8:10-14. A ideia aqui é aceitar este princípio na teoria, mas ter a consciência de que ele não pode fornecer uma receita infalível de sucesso nem pode explicar a situação atual de uma pessoa, seja para o bem, seja para o mal.
No livro, o qōheleṯ não teve uma resposta definitiva sobre o destino dos justos e injustos nesta vida, e podemos aplicar o princípio da revelação progressiva. Deus recompensa os justos e pune os injustos definitivamente na eternidade, o que prova que o princípio da retribuição é verdadeiro, mas não pode ser plenamente aplicado nesta vida.
Prazeres e devoção
O princípio de Eclesiastes é mostrar que “debaixo do sol” não há satisfação, mas fala sobre aproveitar a vida e temer a Deus. Entretanto, esta abordagem não sugere que tudo seja abandonado para correr atrás do prazer. E mais, a procura pela satisfação não envolve necessariamente a satisfação pessoal, mas conceber que todas as coisas procedem de Deus.[/tab][/tabs]
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